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Comportamento

5 lições de “Ozark”, da Netflix, sobre negócios

A série é premiada e tem três temporadas disponíveis

5 lições de “Ozark”, da Netflix, sobre negócios
O protagonista de Ozark, da Netflix, Jason Bateman (Foto: REUTERS/Mario Anzuoni)
O que este conteúdo fez por você?
  • A série acompanha a saga de um consultor financeiro de Chicago que se vê obrigado a se mudar com a sua família para Osage Beach, no Missouri, por conta de suas ligações criminosas
  • O Thriller policial da Netflix mostra a lição de que não se deve acreditar em retornos milagrosos de investimentos

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Pessoas aparentemente normais que por baixo dos panos comandam negócios ilícitos.

Essa é uma fórmula que costuma fazer sucesso na televisão, que o digam os produtores de séries como “Família Soprano” e “Breaking Bad”, com seus protagonistas anti-heróis que exibem uma fachada quase sem suspeita, com uma família normal e sem grandes ostentações.

Essa também é a premissa de “Ozark”, série da Netflix com três temporadas disponíveis até o momento, vencedora de dois Emmy, o “Oscar da televisão”, em 2019.

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Em tela, acompanha-se a saga de Marty Byrde (Jason Bateman), consultor financeiro de Chicago que se vê obrigado a se mudar com a sua família para Osage Beach, no Missouri, por conta de suas ligações criminosas.

O nome da série é uma referência ao Lago de Ozarks, que banha a cidade para a qual os Byrde se mudam. Mais do que um ótimo thriller policial, a série também passa valiosas lições sobre negócios, que vão da necessidade de sempre manter um olho sobre seus sócios até o ensinamento de que não se deve acreditar em retornos milagrosos de investimentos. Confira:

Aviso: contém spoilers

1. A importância do compliance

Já no primeiro episódio da série, “Sugarwood”, descobrimos que o sócio de Marty Byrde na firma de consultoria financeira, Bruce Liddell (Josh Randall), está desviando dinheiro de um de seus mais importantes e perigosos clientes, o traficante mexicano Del (Esai Morales).

A atitude do sócio quase custa a vida de Marty, que precisa negociar de forma arriscada com o cartel para não ser morto – não precisa ser muito esperto para adivinhar o que acontece com Bruce.

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Aqui, percebe-se a importância do compliance nas empresas, prática bastante em voga no âmbito institucional e corporativo atualmente.

O verbo inglês “to comply” significa “cumprir”. No caso das empresas e em instituições ligadas ao Poder Público, refere-se a leis, regras e normas. O compliance diz respeito a um sistema de controles internos para verificar se todas as normas legais e regulamentações internas e externas estão sendo observadas no negócio.

O mecanismo é de extrema importância para prevenir fraudes e desvios, o que acontece no seriado. “Esse setor é responsável pela gestão de mecanismos que prezam pela adequação e acompanhamento de todos os aspectos relacionados a processos internos, normativos, legais e tributários dos contratos e negócios das empresas”, diz Cristiano Machado Costa, professor de Finanças na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). “O objetivo desses mecanismos é gerar valor ao negócio e assegurar a sobrevivência da empresa. Nem todas as empresas possuem condições de ter uma área dedicada a esses aspectos. Recomenda-se, porém, diversas práticas de gestão, especialmente na área financeira, contábil e de pessoas.”

Nas grandes empresas, costuma-se ter um setor exclusivo de compliance. Isso não significa, porém, que a prática não possa ser aplicada em empreendimentos menores. Segundo Costa, nas pequenas empresas é o setor de contabilidade que acaba assumindo esse papel de fiscalização.

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O importante é ter em mente que o compliance se trata de uma ação preventiva, e não reativa, a fim de evitar eventuais problemas futuros. “No caso do ‘Ozark’, o desvio do sócio acaba resultando no fim do negócio. Nesse aspecto, a série não tem nada de ficção. Muitas empresas, especialmente pequenas, acabam fechando as portas por não se adequarem corretamente a normas. Em particular, no Brasil, um dos grandes desafios é o compliance tributário”, complementa o
professor.

2. Nunca subestime seus parceiros de negócio

Assim que a família Byrde se muda para o Missouri, começa a saga de Marty para encontrar meios de lavar o dinheiro do cartel mexicano em negócios locais.

Suas primeiras apostas são a pousada/restaurante/posto de gasolina para barcos Blue Cat, que está à beira da falência, e um clube de striptease. Simultaneamente, ele aceita ser uma espécie de mentor na “arte” da lavagem de dinheiro da jovem Ruth Langmore, integrante de uma conhecida família de trambiqueiros da região.

Em sua empreitada no Lago de Ozarks, Marty comete um erro crucial: ele pressupõe que os caipiras não são as pessoas mais espertas do planeta Terra – e alguns realmente não são, mas não é uma máxima – e que vai ser fácil passar a perna em todos eles. Aqui fica a importante lição: um empreendedor nunca deve subestimar seus parceiros de negócio,
sejam sócios, clientes ou fornecedores.

“O protagonista supõe que no interior do Missouri as pessoas não teriam o mesmo nível de sofisticação do que em Chicago, o que não é verdade. Muitas empresas se desenvolvem no interior ou em áreas distantes das metrópoles justamente pois elas propiciam melhores oportunidades de negócios. Subestimar a capacidade de possíveis sócios é um erro primário no mundo dos negócios. O relacionamento deve sempre ter como pilar a confiança e o comum interesse. Mesmo que os interesses não sejam comuns no início, como acontece em muitas empresas familiares, os mecanismos de gestão e governança corporativa podem ajudar muito a alinhá-los”, recomenda Costa.

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Além do compliance, que permite a supervisão dos sócios e colaboradores, é recomendável que a empresa adote também alguma política de incentivos, geralmente baseada em remunerações – como bônus ou Participação nos Lucros e Resultados (PLR) –, com o objetivo de motivar toda a equipe.

Quanto à relação empresa-cliente, o professor da Unisinos afirma que um dos principais aspectos é a fidelidade: “você quer que aquele cliente saia sempre satisfeito, recomendando os seus produtos ou serviços e que ele volte muitas vezes. O
relacionamento ideal, portanto, é aquele baseado na confiança e na geração de valor agregado ao cliente, propiciando a preservação da relação no longo prazo”.

3. Eu posso, simplesmente, recusar clientes?

Para não precisar pagar com a própria vida, no seriado, Marty Byrde vê como única alternativa aceitar lavar uma quantia exorbitante de dinheiro para o cartel mexicano de drogas comandado por Del, que se torna seu único cliente. Ele, simplesmente, não tinha saída.

Exageros fictícios à parte, um empreendedor “normal” pode se dar um luxo de recusar algum cliente? Costa afirma que se trata de uma questão delicada, sendo que cada situação deve ser avaliada individualmente e com bastante cuidado.

“Essa é uma questão muito tênue. Um bar, por exemplo, pode recusar clientes que bebem muito e podem causar confusões e brigas Muitas vezes é desejável recusar clientes, mas existem diversos aspectos legais – olha aí o compliance de novo – que impedem certas restrições. O principal cuidado que qualquer empresa deve ter em qualquer tentativa de selecionar ou recusar clientes diz respeito a aspectos legais. Ou seja, verificar se as restrições impostas não podem ser passíveis de ações na Justiça com relação a discriminação ou preconceitos”, diz.

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Há casos específicos em que é possível recusar a oferta de algum produto ou serviço ao cliente. Um exemplo é a concessão de empréstimos e financiamentos no setor bancário. Aqui, porém, existem critérios muito bem definidos em normas, com transparência na apresentação de motivos aos clientes.

4. Cautela com investidores

Quando decide investir na pousada Blue Cat, Marty obviamente omite da proprietária do local, Rachel (Jordana Spiro), que quer usar o negócio para lavar dinheiro.

Mesmo estranhando e ficando desconfiada com a oferta, ela aceita, vez que o estabelecimento vive praticamente às moscas. E Marty, querendo ou não, consegue reviver o negócio. De qualquer forma, a lição que fica é: tenha sempre um pé atrás com investidores que aparecem como “salvadores da pátria”.

Diretor de Desenvolvimento da Central Sicredi PR/SP/RJ, Adilson Felix de Sá orienta que a busca por sócios ou investidores para o negócio ocorra num momento que não seja de crise, justamente para que o empresário não se iluda num primeiro momento para, em seguida, sofrer uma decepção.

“Geralmente, as pessoas aceitam ou buscam um sócio ou investidor quando há problemas dentro da empresa. Muitas vezes, você acaba atraindo para o empreendimento pessoas que também não têm aptidão para o negócio. Além disso, será
que só a injeção de dinheiro é suficiente para salvar uma empresa?”, questiona.

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Uma característica bastante significativa dos empreendedores no Brasil é a dificuldade em admitir que, muitas vezes, a opção mais viável é o encerramento do negócio.

Por isso, não se deve ir até às últimas consequências só para manter o investimento funcionando, vez que há o risco de se endividar ou, justamente, negociar com investidores que só vão trazer mais problemas. Mas caso o investidor surja em um momento em que o negócio ainda se mostre viável, o empresário precisa buscar junto a autoridades competentes certidões e outros documentos que atestem a idoneidade e o bom histórico financeiro da contraparte.

“No caso específico da série, a dona da pousada deveria ter buscado junto às autoridades financeiras as devidas certidões negativas do personagem principal.

Possivelmente ela encontraria indícios de que se tratava de alguém com um histórico recente de má gestão empresarial. Mas aí a trama não teria chegado nem à segunda temporada. Por isso, os investidores devem tomar todos os cuidados para não acabarem caindo numa situação parecida com a de Rachel em ‘Ozark’”, diz Cristiano Machado Costa, complementando que se a série se passasse no Brasil, a personagem poderia ter procurado a Receita Federal, a Justiça do Trabalho ou até mesmo a Justiça Federal.

5. Não existe retorno milagroso

Antes de seu fatídico destino, o sócio de Marty Byrde na agência de consultoria financeira, Bruce Liddell, era o típico consultor falastrão e conseguia atrair clientes com promessas de retorno rápido, quase milagroso. O mesmo aqui vale para os caipiras com quem Marty negocia no Missouri.

Mais uma vez, a dica é: desconfie! Qualquer investidor deve priorizar ganhos a longo prazo, afinal, “não existe almoço grátis”. É justamente o desejo por obter retornos rápidos um dos principais fatores que levam muitos brasileiros a cair em fraudes e golpes, como os famosos esquemas de pirâmide.

É preciso ter paciência e disciplina para esperar o retorno do investimento. Além disso, é importante pesquisar e estudar o segmento, a fim de saber qual é o tempo médio de espera. Em alguns, é preciso trabalhar com prazos bastante longos, caso do setor de infraestrutura.

A estimativa média é de três anos. Ocorre que, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, uma a cada quatro empresas fecha antes mesmo de completar dois anos no mercado – ou seja, antes mesmo do prazo de obter o retorno.

Na maioria dos casos, o que acaba se observando é uma estão deficitária ou falta de capital de giro para enfrentar os altos e baixos que são comuns no mercado. Pesquisa e planejamento, portanto, são fundamentais.

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