Comportamento

Até onde os reguladores vão para proteger clientes de bancos que faliram?

Debate para assegurar depósitos bancários acima de US$ 250 mil continua nos EUA

Até onde os reguladores vão para proteger clientes de bancos que faliram?
Crise no banco SVB reavivou debate sobre assegurar depósitos bancários nos EUA. Foto: Envato Elements
  • Durante a pandemia de covid, em 2020, o Congresso americano suspendeu de forma temporária o teto para a proteção das contas que não geravam juros
  • Hoje, debate-se se o valor de US$ 250 mil deve ser expandido
  • Legisladores estão considerando aumentar provisoriamente o teto dos depósitos, enquanto outros propuseram acabar com ele de vez

Uma decisão dos reguladores federais para garantir que os depositantes do Silicon Valley Bank e do Signature Bank, que faliram, não perdessem dinheiro independentemente do valor que tinham em suas contas despertou a ira popular. E também dúvidas em relação ao que as agências governamentais podem ou não fazer para proteger contas não asseguradas.

De acordo com a lei atual, o governo assegura apenas depósitos bancários de até US$ 250 mil. Qualquer aumento nesse limite exigiria autorização do Congresso. Mas os reguladores podem proteger os depósitos acima desse valor, como fizeram com o Silicon Valley Bank e o Signature Bank, se determinarem que as falências dos bancos representam um risco sistêmico.

Eles também podem solicitar a aprovação do Congresso para aumentar temporariamente o teto ou eliminá-lo de vez, embora alguns legisladores tenham demonstrado relutância em fazer isso.

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A secretária do Tesouro, Janet Yellen, sugeriu na semana passada que os reguladores estavam prontos para estender a proteção aos depositantes não assegurados de outros bancos, caso fosse necessário, e “se as instituições menores enfrentassem corridas bancárias que apresentassem o risco de contágio”.

Em meio a falências bancárias generalizadas na Grande Depressão, o Congresso criou a Federal Deposit Insurance em 1933 para assegurar os depósitos abaixo de US$ 2.500. O limite foi aumentado ao longo dos anos, sendo recentemente elevado de US$ 100 mil para US$ 250 mil para os Acordos de Aposentadoria Individual (IRAs, na sigla em inglês), em 2006, e para as contas correntes, em 2008. A Lei Dodd-Frank de 2010 tornou o aumento permanente.

Após a crise financeira de 2008, a FDIC evocou a exceção de risco sistêmico para criar um programa que garantisse novas dívidas emitidas pelos bancos durante três anos e assegurasse todos os depósitos que não gerassem juros (normalmente, contas salários).

A decisão de conceder a exceção foi tomada “depois de três dias de intensa negociação”, de acordo com um relato do ocorrido pelo historiador da FDIC, e teve que ser aprovada pelo secretário do Tesouro mediante consulta com o presidente e dois terços dos conselhos da FDIC e do Federal Reserve.

Entretanto, os reguladores não têm mais a capacidade de criar um programa semelhante de forma unilateral, pois a Lei Dodd-Frank eliminou a autoridade da FDIC de assegurar temporariamente contas com mais ativos do que o limite legal. De acordo com essa lei, a agência pode fazer isso apenas se for a síndica da massa falida do banco falido ou se tiver a aprovação do Congresso.

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“O Congresso estava tão preocupado com o risco moral e os ‘resgates’ que parecia limitar o recebimento de assistência da FDIC à imposição de uma recuperação judicial pela FDIC, a menos que o Congresso aprovasse especificamente uma alternativa subsequente à FDIC”, disse Jeffrey N. Gordon, professor de direito da Universidade Columbia e especialista em regulamentação financeira.

Durante a pandemia de covid, em 2020, o Congresso suspendeu de forma temporária o teto para a proteção das contas que não geravam juros. Mas em depoimento ao Congresso na semana passada, Janet disse que sua agência não pretendia suspender o limite totalmente e assegurar todos os depósitos acima de US$ 250 mil. Segundo ela, em vez disso, os reguladores recorreriam à exceção de risco sistêmico para bancos falidos por meio de uma “determinação caso a caso”.

Outros, no entanto, têm pressionado por uma cobertura mais abrangente. Alguns legisladores estão considerando aumentar provisoriamente o teto dos depósitos, enquanto outros propuseram acabar com ele de vez.

A Lei Dodd-Frank oferece um processo acelerado para tais solicitações, permitindo que o Congresso agilize a aprovação adotando uma resolução conjunta. Sheila Blair, que foi presidente da FDIC durante uma crise financeira, recentemente encorajou o Congresso a iniciar o procedimento.

“Queremos que as pessoas paguem seus funcionários. Queremos que as pessoas possam pagar as contas de suas empresas e suas despesas pessoais. Então, acho que essa é uma área na qual a cobertura de seguro ilimitada, pelo menos temporariamente, faz muito sentido”, disse ela em um evento do Washington Post na semana passada.

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As notícias também sugeriram que os reguladores estão considerando outros mecanismos de atuação sem o Congresso, especificamente recorrendo ao Fundo de Estabilização Cambial. A secretária do Tesouro tem ampla autoridade para usar a reserva de emergência, que foi criada em 1934 para estabilizar o valor do dólar, mas tem sido usada ao longo dos anos para uma série de outros fins.

Gordon observou que o uso do fundo cambial por si só não funcionaria para proteger os depósitos não assegurados, pois ele é “insignificante em comparação com o fundo garantidor de crédito e, ao contrário deste, não tem mecanismo de reposição”. Mas ele disse que seria possível usar o fundo como escudo em um programa operado pelo Federal Reserve que concede empréstimos aceitando ativos bancários como garantias.

“O que isso significa é que os bancos teriam uma maneira fácil de levantar dinheiro para reembolsar todos os depósitos”, disse ele./TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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