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Comportamento

Por que o brasileiro está batendo recordes de endividamento

Confira dicas de especialistas para enfrentar esse período desafiador sem acumular dívidas

Por que o brasileiro está batendo recordes de endividamento
(Fonte: Shutterstock)
  • Inflação e desemprego alarmam especialistas e são um termômetro dos problemas financeiros encontrados no cotidiano pela população
  • Com a piora nos índices econômicos, é ainda mais importante manter o planejamento em dia e não entrar em uma "bola de neve" de endividamento

No fim de março, a chefe de cozinha Paola Carosella se envolveu em uma polêmica ao ensinar uma receita de bolo de cenoura. Enquanto alguns seguidores nas mídias sociais criticaram o timing em razão do preço do legume, outros internautas e a própria profissional se posicionaram sobre a inflação. “A cenoura está cara, o arroz está caro, o feijão está caro, a comida boa está cara”, ela comentou no Instagram.

Os dados dão razão a Carosella e apontam uma “receita amarga”: o Brasil vive um pico de inflação e endividamento. Por conta disso, o brasileiro tem parcelado até despesas rotineiras, como a alimentação, segundo um levantamento do DMCard, que registrou aumento de 61% no uso de cartões de crédito em lojas de itens essenciais.

Mas como administrar as demandas cotidianas sem entrar em uma “bola de neve”? O E-Investidor conversou com especialistas para conhecer melhor o cenário atual e entender como sobreviver a esse período mantendo a saúde financeira.

Como está o cenário econômico brasileiro atualmente?

Calculadora em cima de notas de reais
A inflação acumulada no País nos últimos 12 meses é de 11,3%. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

O custo de vida está mesmo “salgado”. A inflação acumulada nos últimos 12 meses soma 11,3%, mais que o dobro da meta do governo (5,25%). O dado é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mede mês a mês o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

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Em termos práticos, uma família que há um ano gastava R$ 2 mil em despesas fixas (mercado, moradia e transporte) agora paga mais de R$ 2.226. A tendência para o futuro não é animadora, já que a inflação vem escalando mesmo em países que não viviam o fenômeno.

Segundo Caio Mastrodomenico, analista econômico e Chief Executive Officer (CEO) da Vallus Capital, o problema é complexo justamente porque envolve questões além do País e afeta a população de modo estrutural. “Quando um item como combustível sofre aumento, exerce força de aumento sobre toda a cadeia produtiva e resulta em sobrepreço em outros itens que compõem o índice”, ele explica.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o salário-mínimo hoje deveria ser equivalente a R$ 6.394,76 para que as famílias tivessem poder de compra compatível com a realidade econômica atual. Há apenas quatro meses, as mesmas demandas podiam ser supridas com R$ 5.800,98, de acordo com a entidade.

Em um cenário em que não apenas a renda tem dificuldade de avançar, mas também há 13,9 milhões de desempregados (número que também vem do IBGE), o efeito prático é simples: o brasileiro passa a contar com crédito para pagar os gastos do cotidiano — quando há crédito.

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Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a parcela de famílias com dívidas atingiu 77,5% em março. Esse é um crescimento de 10% em relação ao mesmo mês do ano passado. Desde 2010, o índice aferido pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) não era tão alto.

Mastrodomenico observa que a cultura do parcelamento é bastante comum no cotidiano do brasileiro e permite um aumento do consumo por meio da alavancagem financeira. Mas, no contexto atual, ela pode representar um cenário perigoso, afinal o custo médio de uma cesta básica hoje compromete mais de 60% de um salário-mínimo nominal, de R$ 1.212.

“O parcelamento de itens básicos como supermercados e contas de consumo compromete a renda familiar. O cheque especial e o parcelamento de faturas, por exemplo, podem ter juros que chegam a 325% ao ano“, ele alerta.

Como fazer organização financeira?

Calculadora em cima de papéis com gráficos
Com a escalada dos preços, é importante planejar o horizonte financeiro regularmente. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Você sabe exatamente quanto pode gastar em lazer, saúde e alimentação? Algumas pessoas têm uma ideia geral de quanto ganham e gastam, mas outras não. Porém, com a dinâmica dos preços, atualizar a conta e ter essa relação na ponta do lápis é fundamental.

Segundo Thiago Martello, especialista em investimentos, é importante colocar um limite nos gastos pessoais em relação àquilo que se recebe e procurar criar uma reserva. “Se eu ganho cinco, devo gastar quatro; se ganho quatro, devo gastar três. Você deve ter folga para investir e estar preparado para uma despesa urgente”, ele opina.

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Assim, fica mais fácil fugir de juros de parcelamentos do cartão, de empréstimos ou do cheque especial, que devem ser evitados ao máximo. “O cartão foi criado para facilitar o pagamento, não como um serviço de crédito. E os empréstimos também devem ser evitados, a não ser em casos extremos”, recomenda Martello.

Mastrodomenico acrescenta que não é um problema usar os serviços de crédito disponíveis, mas deve-se acender o alerta no caso de eles capturarem uma fatia muito grande do orçamento ou de não haver recurso para bancar o valor futuro, sobretudo em caso de parcelamentos. “Uma boa dica é manter o limite de gastos no cartão entre 25% e 30%, e as despesas abaixo das receitas. Além disso, vale a pena adotar novos costumes, como pesquisar preços em diferentes estabelecimentos”.

Maria Rosenberg, cofundadora da plataforma de empréstimo digital Pontte, avalia que a percepção do que se tem e do que se pode gastar

Maria Rosenberg, cofundadora da plataforma de empréstimo digital Pontte, avalia que a percepção do que se tem e do que se pode gastar ajuda a fugir de uma “bola de neve” de endividamento. “É preciso comparar o que se ganha e o que se deve. O que sobra na planilha é o que permite alavancar as finanças”, ela explica.

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Para aumentar essa margem financeira, Rosenberg sugere reavaliar alguns gastos que podem ser suprimidos ou substituídos: “Mais que questionar como diminuir o gasto no cartão, é importante refletir sobre o que se precisa para viver, efetivamente”.

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