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Comportamento

Day trade: “gurus” iludem investidores com promessa de 1% ao dia de retorno

Com promessas de ganhos diários fáceis e rápidos, cursos de trading estão se multiplicando na internet. Investidores, com ou sem experiência, precisam ficar atentos para não cair em ciladas

Day trade: “gurus” iludem investidores com promessa de 1% ao dia de retorno
Foto: Pixabay
  • Muitos vendedores de cursos não contam sobre os verdadeiros riscos das operações financeiras curtas, que são as chances elevadas de perda de patrimônio
  • Grande parte desses traders que estão fazendo sucesso apostam em um marketing extremamente agressivo, seja pela repetição ou pelo discurso de facilidade e rapidez nos ganhos
  • O atual contexto econômico-social do País também tem influência no grande interesse por day trade. O baixo patamar da taxa de juros levou muita gente a migrar da renda fixa para a renda variável, em busca de rentabilidade mais atrativa

Carros importados, mansões luxuosas, roupas e relógios de grife. Esses são alguns símbolos do exibicionismo mais recorrente nas redes sociais de “gurus” do day trade, que tentam fisgar seguidores com a promessa de cursos que ensinam o segredo do enriquecimento rápido e fácil na bolsa de valores. Com essas iscas, eles tentam fisgar os gananciosos, assim como os que formam pirâmides financeiras e prometem retorno de 1% ao dia.

O problema é que os professores do dinheiro fácil não contam sobre os verdadeiros riscos das operações financeiras de curta duração, que é o principal atalho para a perda de patrimônio.

As opções de cursos são muitas e crescem à medida que os retornos da renda fixa ficam cada vezes menores. Alguns deles podem ser comprados até pelo Mercado Livre, como o de Suriel Ports, do canal do YouTube Ports Trade, que é vendido no site de compras online por R$ 800. Mas os valores podem chegar a quase R$ 3 mil.

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“Será que eu consigo comprar esse tênis [de R$ 499,90] só com o ganho que eu vou ter agora no mercado financeiro? Vem cá que eu vou te mostrar”, diz Ports em um vídeo gravado dentro de uma loja.

Em seguida, o trader inicia o que seria uma operação financeira em uma plataforma de investimentos no celular. Supostamente, após uma hora, ele diz ter acumulado R$ 600, decide que é hora de parar e vai ao caixa pagar pelo seu novo bem.

“Se você quer aprender a ganhar dinheiro no mercado financeiro, tem um jeito de fazer isso através da Imersão Trader de Elite. Lá eu vou te mostrar o passo a passo que você precisa seguir ”, garante o youtuber, que costuma anunciar ganhos diários de R$ 500 a R$ 1.000.

Sucesso nas redes sociais, Suriel tem mais de um milhão de inscritos no seu canal, mais de 600 mil seguidores no Instagram e 180 mil no Facebook. Essa fama, porém, chegou ao site Reclame Aqui, onde as pessoas alegam, por exemplo, propaganda enganosa, dificuldade de ressarcimento e falta de suporte.

“Entregaram um curso EAD e mais nada. Não tem mentoria nenhuma. Tenho que me virar sozinho, o mentor nunca fala com a gente, não tem aula ao vivo ou bate papo nenhum. É cada um por si”, protesta um usuário no site de reclamações.

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Leia também: O que você e a Gabriela Pugliesi precisam saber antes de fazer day trade

Por que esses cursos fazem tanto sucesso?

Grande parte desses traders (ou vendedores de cursos) que estão fazendo sucesso no momento apostam em um marketing extremamente agressivo, seja pela repetição de anúncios nas redes sociais ou pelo discurso de facilidade e rapidez nos ganhos.

Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, explica que as propagandas vendem um estilo de vida para as pessoas e não um curso.

“Eles não estão preocupados em ensinar, mas sim em convencer que, se fizer o curso, você vai ter o que eles têm. Esse é o grande risco. Se observar, os caras que mais fazem esse marketing estão com carrão, casona e um monte de dinheiro. Então eles estão mexendo com a sua ganância e com os seus sonhos”, adverte Laatus.

O estrategista não considera o day trade um problema, uma vez que essa seria uma modalidade de mercado, sujeita a risco de perda como outras.

“Se você não souber fazer day trade, vai perder [dinheiro]. Mas se você não souber fazer investimento a longo prazo também vai perder [dinheiro]” opina Laatus.

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O atual contexto econômico-social do País também tem influência no grande interesse por day trade – até a influencer Gabriela Pugliesi disse estar se aventurando nessas operações. A Selic no menor patamar da história levou muita gente a migrar da renda fixa para a renda variável, em busca de rentabilidade mais atrativa. E nessa curiosidade por investimentos mais rentáveis, muita gente se depara com o day trade, que está em alta nas buscas do Google.

Leia também: Morte expõe risco de induzir novos investidores a fazer day trade

Todo esse cenário acaba virando um prato cheio para o surgimento de diversos produtos, entre eles os cursos educativos. O problema é que a falta de educação financeira dos consumidores torna os novos investidores vulneráveis a pegadinhas.

“As pessoas acabam se deparando com o day trade e enxergam ali uma oportunidade de ganhar dinheiro, principalmente no momento que estamos vivendo de pandemia, de isolamento social, em que as pessoas estão em casa buscando formas de ter renda extra”, afirma o analista-chefe de uma casa de investimentos, que há anos dá aulas de trade.

O analista, que pediu para não ser identificado, diz que o day trade consiste em uma atividade especulativa, que apresenta riscos. O problema, para ele, não seria o trade em si, mas a falta de transparência de quem explora o sonho das pessoas com a promessa de ganhos que até podem acontecer, mas que são muito arriscados.

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“Qualquer coisa que prometa rentabilidade é errada, é fictícia, porque você está lidando com o mercado de renda variável, que tem riscos de perda. Eu não posso falar para você aprender day trade porque vai ficar rico. Pode ser que sim, mas pode ser que não. É uma variável”, diz o analista.

Renato Breia, analista da Nord Research, tem criticado efusivamente esse movimento em suas redes sociais. Com mais de 15 anos no mercado financeiro, inclusive com experiência em day trade, Breia explica que outras operações mais arriscadas, como as opções binárias, estão sendo vendidas como se fossem day trade.

“No day trade você tem uma alavancagem diária que chega até 20 vezes o seu patrimônio. Opções binárias basicamente são uma aposta de curtíssimo prazo, onde ou você ganha ou perde tudo. Essa é a mais arriscada de todas”, diz Breia.

O funcionamento de algumas dessas plataformas de opções binárias vem sendo comparado ao de pirâmide, ou seja, o ganho real fica restrito a poucas pessoas e a maior parte das participantes fica no prejuízo.

Leia também: Felipe Neto errou e se corrigiu: por que investir na Bolsa gera riqueza

Como os investidores podem se proteger?

As fontes ouvidas pelo E-Investidor lembram que os cursos educativos têm um papel importante na formação, mas é preciso buscar informação e referência da instituição e do corpo docente, assim como se faz com um graduação por exemplo.

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Laatus explica que, para não comprar gato pensando que é lebre, é sempre importante desconfiar. Se é bom demais para ser verdade é porque, de fato, é bom demais para ser verdade, assegura o analista.

“Fazer trade para pagar tênis, croissant, isso não existe. Mercado financeiro é uma profissão, que, como qualquer outra, leva anos para se tornar um profissional, com todo um processo de aprendizado. Isso não se aprende em um único curso”, alerta Laatus.

A dica é sempre pesquisar e desconfiar antes da compra, para evitar maiores dores de cabeça com pedidos de ressarcimento, que podem não acontecer.

Não existe necessidade de registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a oferta de cursos de mercado de capitais. Por nota, o órgão expressou que os cidadãos devem avaliar as informações de cursos, tendo em vista que, pode se tratar de um método utilizado por pessoas que não têm autorização para atuar no mercado de capitais.

“A CVM recomenda que antes de qualquer investimento, o investidor verifique se ofertante possui registro na autarquia para atuar no mercado de valores mobiliários”, diz o comunicado.

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O órgão regulador também informou que tem recebido consultas e denúncias acerca de atividades educacionais utilizadas para apresentar recomendações de investimento ao público.

“Se essa atividade é desempenhada de forma profissional, havendo benefício, vantagem ou remuneração por conta dessa recomendação, mesmo que por meio de taxas de assinatura ou receitas indiretas, pode restar caracterizado o exercício de atividade de analista de valores mobiliários, o que requer autorização”, diz a CVM.

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