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O que você precisa saber antes de investir no BDR do Mercado Livre (MELI34)

Ativo é o 3º da categoria que mais se valorizou neste ano, com alta de 149,81%

O que você precisa saber antes de investir no BDR do Mercado Livre (MELI34)
Fachada do depósito do Mercado Livre. Foto: Aline Bronzati/Estadão
  • O Mercado Livre abriu capital na Bolsa americana Nasdaq em 2007. Entretanto o ‘espelho’ dos papéis da companhia pode ser adquirido no País, como se fosse uma ação comum
  • Segundo a plataforma Economatica, o MELI34 é o 3º BDR que mais se valorizou no ano, com alta de 149,81%, para R$ 580
  • Mesmo com os números expressivos em um período curto, especialistas do mercado financeiro ainda veem espaço para mais valorização nos próximos anos

Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) funcionam como o ‘espelho’ de uma ação que é negociada no exterior. Isso significa que em vez de ter que abrir uma conta em uma corretora estrangeira, o investidor pode comprar ativos de empresas globais por meio desses títulos, que são negociados na B3.

O Mercado Livre, por exemplo, abriu capital na Bolsa americana Nasdaq em 2007. Entretanto o ‘espelho’ dos papéis da companhia pode ser adquirido no País, como se fosse uma ação comum. Segundo a plataforma Economatica, o MELI34 é o 3º BDR que mais se valorizou neste ano, com alta de 149,81%, indo para R$ 580. No Twitter, o E-Investidor questionou os leitores sobre qual Brazilian Depositary Receipts merecia uma análise especial e o ativo da varejista venceu com 48,3% dos votos.

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É importante lembrar, entretanto, que até o final de agosto só tinham acesso a esse produto quem possuísse pelo menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras – regra que foi flexibilizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que pequenos investidores também pudessem utilizar. As novas normas estão em vigor desde 01 de setembro mas, na prática, os BDRs só estarão de fato disponíveis a partir de outubro.

Como o Mercado Livre está posicionado no mercado?

O Mercado Livre (MELI34) é a maior empresa da América Latina em valor de mercado. Avaliada em US$ 59,3 bilhões, cerca de 313 bilhões de reais, a companhia de origem argentina iniciou as operações em 1999 já na internet, como um site de leilões. De lá para cá, foi se adaptando às novas necessidades até chegar ao modelo de hoje: uma loja on-line em que o internauta consegue encontrar desde roupas até imóveis.

Hoje, além do Brasil, a companhia está presente em outros 16 países, como Chile, Peru e Bolívia.“Quem não acompanha a evolução do e-commerce se surpreende com a empresa que, em pouco mais de 20 anos, se tornou a maior da América Latina”, diz Luiz Claudio Dias Melo, sócio-diretor da divisão de varejo da consultoria 360º Varejo. “Mas para nós não é novidade, por tudo que o Mercado Livre vem fazendo ao longo do tempo, na dedicação de montar um verdadeiro ecossistema digital”.

O especialista ressalta que não é uma coincidência justamente uma empresa digital ser a maior entre os países latinos. A migração ao e-commerce e a utilização de soluções digitais, segundo Melo, é uma tendência forte e duradoura, que atinge não só o Brasil, mas os mercados mundiais. “Se você olha para as cinco maiores companhias dos Estados Unidos, quatro são do mundo digital também”, diz.

A pandemia do coronavírus impulsionou ainda mais o comércio on-line, beneficiando o Mercado Livre, que viu suas vendas chegarem aos US$ 5 bilhões no segundo trimestre do ano, com lucro líquido de US$ 55,9 milhões. O salto foi de 245% em relação ao mesmo período do ano passado. Só em 2020, por exemplo, a empresa dobrou de tamanho. No dia 1º de janeiro deste ano, a varejista era avaliada em US$ 28,4 bilhões.

“Os resultados são reflexo de uma série de circunstâncias que foram construídas ao longo do tempo e especialmente de uma capacidade gigantesca que a empresa tem de aproveitar como nunca o momento da pandemia”, diz Melo. “A própria Mercado Livre disse que esses últimos meses de resultados equivalem ao crescimento planejado por eles para os próximos dois anos.”

Canal de logística consolidado e estabelecimento de parcerias são diferenciais

Um dos diferenciais do Mercado Livre, além de já ter nascido digital, é o grande investimento em logística e ampliação dos produtos oferecidos. A companhia tem o objetivo de depender cada vez menos dos correios para realizar entregas e ampliar as possibilidades de compra.

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“Eles perceberam que não dá para confiar na entrega dos correios, então você tem uma migração de todos os grandes varejistas para outros parceiros”, afirma Rodrigo Catani, head de eficiência operacional na AGR Consultores. “O Mercado Livre começou a buscar alternativas e ter os próprios centros de distribuição.”

A varejista também firma parceria com empresas estratégicas, com o objetivo de ampliar a capilaridade, ou seja, atuação no território nacional. Nesta semana, a companhia comprou participação na startup de logística Kangu, que tem uma série de pequenos estabelecimentos espalhados pelas capitais do País, em que é possível comprar produtos na loja on-line e retirar nas lojas físicas.

Desde 2017 o Mercado Livre também tem um acordo com a companhia de logística Mandaê, que auxilia o envio e entrega de produtos. “Acho que agora eles estão colhendo os frutos de todos os planejamentos feitos e muito bem executados, além de estarem se beneficiando desse boom do comércio eletrônico”, diz. Na seara de ampliação de portfólio, a empresa recentemente passou a disponibilizar produtos alimentícios não-congelados e itens de higiene.

Na visão de Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos, o Mercado Livre tem muito o que crescer ainda. “Tudo o que aconteceu na pandemia favoreceu a empresa”, declara. “É uma companhia que está muito bem posicionada e apesar de ter um canal de distribuição forte, está sempre buscando melhorar.”

O BDR do Mercado Livre é um bom negócio?

Em relação ao BDR, mesmo com a alta de 149,81% somente em 2020, os analistas ainda veem espaço para mais valorização nos próximos anos. “Se você olhar uma fotografia do momento, você pode até pensar que está sobrevalorizado”, afirma Melo. “Mas com o que a empresa muito provavelmente vai conquistar nos próximos anos, com milhões de pessoas que podem se tornar consumidores digitais, eu diria que hoje o valor do papel não reflete toda essa capacidade”.

O que Melo diz faz sentido. Segundo a 42ª edição do Webshoppers, relatório sobre o setor de e-commerce elaborado pela Ebit|Nielsen em parceria com a Elo no 1º semestre do ano, cerca de 41 milhões de brasileiros são adeptos ao e-commerce – um aumento de 40% em relação ao 1º semestre do ano passado. Desses, 7,3 milhões fizeram compras pela internet pela primeira vez.

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Para Fábio Galdino, head de renda variável da Vero Investimentos, o MELI34 é uma boa opção para quem está buscando diversificação. Entretanto, é necessário lembrar que um BDR é um preço em reais de uma ação cotada em dólar. “O investidor fica exposto, sem nenhum tipo de proteção cambial”, explica. “Então essa é uma ressalva que eu faço, já que muita gente esquece disso.”

Já Alan Gandelman, CEO da Planner Corretora, ressalta que o Mercado Livre está em um setor muito favorecido e que deve permanecer atrativo por um prazo longo. “Tem sido um dos papéis que chamam a atenção”, indica. “Esse segmento tende a continuar se valorizando”.

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