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Comportamento

Discos de vinil podem ser um novo tipo de investimento?

Os 'bolachões' tendem a se valorizar, mas é preciso conhecer o mercado para fazer bons negócios

Discos de vinil podem ser um novo tipo de investimento?
Ao comprar um disco, muitas pessoas não pensam em vendê-lo no futuro. Mas o investimento pode ser vantajoso. Foto: Rafael Arbex / ESTADAO
O que este conteúdo fez por você?
  • Os serviços de streaming trouxeram facilidades para os ouvintes de música
  • Mas ainda há quem prefira os tradicionais discos de vinil, seja por conta da qualidade sonora ou pela vontade de revisitar memórias
  • Por ser um mercado em expansão, os discos podem ser uma nova forma de investimento, já que tendem a se valorizar com o tempo

Os serviços de streaming trouxeram facilidades para os ouvintes de música. Agora é possível escutar diferentes canções com apenas um clique e sem grandes gastos. Mas ainda há quem prefira os tradicionais discos de vinil, seja por conta do charme dos ‘bolachões’ ou pela vontade de revisitar memórias.

O mercado de discos está em ascensão e tem atraído o público mais jovem, que procura descobrir álbuns do passado. Colecionadores e amantes da música também ganharam uma nova forma de garimpar exemplares. Além das lojas e sebos, há o Discogs, principal plataforma para compra e venda de discos on-line no mundo.

O analista financeiro Péricles Azevedo, de 32 anos, é um dos apaixonados por vinis. Com uma coleção composta por aproximadamente quinhentos LPs (long plays, discos de doze polegadas) e trezentos compactos (discos de sete polegadas, com uma música de cada lado), ele começou a se interessar pelos chamados “bolachões” há cerca de quinze anos.

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“A sensação de colocar um disco na vitrola e relaxar lendo um livro ou tomando uma cerveja é algo muito bom, assim como ver o encarte e saber quem tocou no disco. São vários detalhes que tornam a experiência de escutar música muito mais satisfatória do que simplesmente escolher um som no streaming e ouvir”, descreve o analista.

Segundo Ana Paula Hornos, colunista do E-Investidor e especialista em finanças comportamentais, as pessoas podem se interessar por objetos antigos quando possuem uma somatória de memórias positivas relacionadas a momentos do passado. “Ao nos depararmos com algo conhecido, registrado como algo bom, liberamos oxitocina, o chamado hormônio do amor, que nos dá sensação de prazer, de segurança emocional. Comprar um vinil pode significar reviver sentimentos, relações e lembranças felizes”, explica.

Por ser um mercado em expansão, os discos podem ser uma nova forma de investimento, já que tendem a se valorizar com o tempo. Azevedo, por exemplo, sempre fez bons negócios com os vinis. “Desde que comecei a comprar e eventualmente tive que vender algum, nunca tive prejuízo com os discos, toda vez consegui vender por um valor mais alto”, afirma o analista.

Para Celso Marcilio, são raros os exemplares que se desvalorizam ao longo do tempo. O lojista de 56 anos comanda a Celsom Discos há cerca de quinze anos. No estabelecimento, os clientes podem encontrar compactos, discos de dez polegadas e LPs.

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A maior procura pelos vinis motiva até a compra de novas vitrolas ou a revitalização de antigas. Técnicos arrumam e limpam os equipamentos, enquanto tecnologias recentes, como a impressora 3D, permitem a recriação de peças que estavam desgastadas. “Tem indústria lá fora fazendo vitrolas, com entrada USB e entrada para vários cabos especiais”, comenta Marcilio.

Mas vale tomar alguns cuidados ao investir em discos. Músicas muito antigas, dos anos 1960 para trás, costumam ter pouca procura. Segundo o lojista, vinis de velha guarda, orquestras e big bands não encontram mais público no mercado.

Já os álbuns clássicos de artistas consagrados da música brasileira, como Gal Costa, Caetano Veloso e Milton Nascimento, ainda vendem, mesmo com o passar do tempo. “As pessoas acham que o que é antigo e raro é bom ou agrega valor. Isso é uma grande ilusão, é muito folclórico. O mercado de vinil é promissor, mas é dinâmico, é muito volúvel em alguns aspectos. Quando a música é boa, ela prevalece e continua sucesso. Quando é apenas moda, ela some rápido, não tem força e o interesse cai”, esclarece o comerciante.

Atualmente, há grande procura por discos do rock nacional, de bandas como Titãs e Legião Urbana. Vinis dos anos 1990 também são considerados bons investimentos, porque tiveram poucas cópias. Álbuns de Nirvana e Pearl Jam, por exemplo, são bem cobiçados.

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Além disso, outro fator importante para a venda de vinis é o estado de conservação das peças. Capas e discos com boa aparência e encarte completo são valorizados.

Apesar de não terem vivido certas lembranças, os jovens têm entrado no mercado e descoberto bandas como Queen, Ramones e The Doors. De acordo com Ana Paula Hornos, esse público pode aprender e incorporar sentimentos de familiaridade com objetos antigos por transmissão cultural. “Para que isso aconteça, o jovem precisa estar inserido em um contexto de narrativas, ritos e símbolos que reforcem as mesmas associações das memórias positivas das gerações anteriores”, esclarece.

O caso de Péricles Azevedo ilustra essa situação. Pertencente à geração dos CDs e MP3s, ele começou a se interessar por vinis quando os discos nem eram mais fabricados no Brasil. “Desde que comecei a me ligar em música, os vinis sempre me chamaram muita atenção visualmente, com aquelas capas lindas e com os encartes detalhando toda a produção do disco”, conta.

Quando foi desligado da empresa onde trabalhava, em 2018, o analista financeiro investiu o dinheiro que recebeu do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em discos. Nessa época, comprou o álbum “Krishnanda”, de Pedro Sorongo, por R$ 5 mil. No final de 2021, conseguiu revender o vinil, que era o mais caro de sua coleção, por um valor cinco vezes maior do que o inicial. “Não pretendia vendê-lo tão cedo, mas foi uma oportunidade que me ajudou muito”, diz.

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Na visão de Celso Marcilio, ao comprar um disco, muitas pessoas não pensam em vendê-lo no futuro. Mas o investimento pode ser vantajoso em alguns casos. “Se você tem um vinil e ele vale mais do que você pagou na época, não há mal nenhum em revendê-lo para tratar uma doença ou investir em uma reforma ou viagem, por exemplo”.

Para conseguir fazer um bom negócio, o lojista recomenda a realização de uma pesquisa sobre o disco a ser vendido. Os valores do mercado não são tabelados, mas há um preço razoável a ser cobrado por cada vinil. As consultas em lojas físicas costumam ser mais confiáveis, porque certas ofertas na internet podem ter valores muito acima do comum.

Além disso, se a descrição do álbum for feita de maneira incorreta em lojas virtuais, há o risco do comprador devolver o disco, por não ser exatamente o que ele queria. Dessa forma, é importante detalhar informações, especificando se o vinil é original ou uma reedição, por exemplo.

Olhar qualquer ativo como investimento exige estudos de mercado e análises de riscos e tendências. Ana Paula Hornos recomenda sempre a diversificação da carteira, mas relembra que o dinheiro também deve ser usado para desfrutar a vida. “O valor das coisas não é só monetário, mas também sentimental. Se cabe no seu orçamento de forma planejada, quer seja como investimento ou como despesa mesmo, aproveite seus vinis”.

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