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Comportamento

Dá para manter uma empresa com fim de semana de 3 dias?

Especialistas em Gente e Gestão conhecem os benefícios da jornada 4x3, mas ela é viável para as empresas?

Dá para manter uma empresa com fim de semana de 3 dias?
Ter um dia a mais no tempo de descanso permite que o trabalhador se dedique a vivências. Foto: Shutterstock
  • O fim de semana com três dias, pautado no modelo conhecido como jornada 4x3, tem crescido no mundo todo, em especial nos países nórdicos, na Espanha, na Bélgica e no Japão
  • O movimento faz parte das transformações do mundo do trabalho que levam em conta novas perspectivas sobre o tema
  • Considerando o cenário atual do Brasil, será que é possível que empresas mantenham um fim de semana de três dias? Como ajustar o caixa para essa decisão?

O termo “sextou” já é um mantra da classe trabalhadora, mas o “quintou” pode ser ainda mais festivo. O fim de semana com três dias, pautado no modelo conhecido como jornada 4×3, tem crescido no mundo todo, em especial nos países nórdicos, na Espanha, na Bélgica e no Japão.

O movimento faz parte das transformações do mundo do trabalho que levam em conta novas perspectivas sobre o tema.

Entre elas, está a constatação de que a satisfação do empregado é relevante e que o foco da produção não está na repetição de uma atividade manual, e sim na qualidade das tomadas de decisão, por exemplo.

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Considerando o cenário atual do Brasil, será que é possível que empresas mantenham um fim de semana de três dias? Como ajustar o caixa para essa decisão?

Os benefícios da jornada 4×3

Com mais tempo para a vida pessoal, o trabalhador tende a ser mais produtivo. (Fonte: Shutterstock)

Não faltam motivos para colocar um dia a mais no fim de semana. E os benefícios do fim de semana de 3 dias não são apenas para o trabalhador, como se poderia pensar. Por isso esse modelo de jornada de trabalho tem chamado a atenção de líderes em todo o mundo.

Para Leonardo Tonon, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ter um dia a mais no tempo de descanso permite que o trabalhador se dedique a vivências, experiências, formações e outros aspectos do autodesenvolvimento.

Esses fatores interessam tanto à organização quanto ao profissional. “A redução no estresse melhora a qualidade de vida, que, por sua vez, impacta nos resultados da empresa de modo quantitativo e qualitativo”, pondera o especialista.

O advogado trabalhista Cassiano D’Angelo Braz, do escritório Gaudêncio Advogados, concorda. Segundo ele, há estudos que apontam melhora nos indicadores da companhia mesmo com a redução de 20% da jornada.

satisfação pessoal do trabalhador, que pode ter uma vida familiar e entre amigos ou se dedicar a atividades pessoais, faz diferença.

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Os defensores de uma lógica de trabalho que não seja medida pela permanência na empresa colocam na balança também que, se houver a possibilidade de manter a produção com menos dias de trabalho, os custos operacionais caem. Exemplos disso são os gastos com transporte, luz, água e desgaste de equipamentos.

Outro argumento importante é o fato de que o tempo de permanência no trabalho pode entrar em um gráfico decrescente. “Um trabalhador exaurido produz até menos que o proporcional a três dias por semana, ainda que esteja presente na empresa nos cinco dias. Isso fica nítido nos casos de estresse excessivo, como ocorre na síndrome de burnout”, avalia Braz.

Tonon acrescenta que as empresas precisam mudar a compreensão de que o controle absoluto do trabalhador é capaz de gerar resultados. O home office forçado, que chegou durante a pandemia, revelou os danos de trabalhadores exaustos com os excessos de controle, de reuniões e de outras formas de provar que estavam trabalhando.

Por isso, a jornada 4×3 pode ser interessante para empresas que desejam construir outras práticas para os profissionais e reter talentos, por exemplo.

Para o professor, a adoção desse modelo pode levar ao fortalecimento das relações de trabalho: “Essa deve ser a prioridade, para que a jornada agregue benefícios para todos os envolvidos”.

Como tornar viável o fim de semana de 3 dias?

Um dos fatores para a jornada 4×3 ser pouco viável é o fato de não haver incentivos legais para as empresas. (Fonte: Shutterstock)

Se há tantos benefícios na jornada 4×3, por que não ampliá-la? Segundo os especialistas, há casos em que ela não cabe facilmente na realidade de trabalho. Uma das razões para isso é a natureza da atividade.

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Tonon lembra que alguns setores, como o varejo, a remuneração final é atrelada a comissões de venda; assim, pode não ser interessante abrir mão do atendimento presencial.

“Isso é ainda mais sério em um contexto de ‘pejotização’ e ‘uberização’, em que a remuneração depende diretamente da dedicação do trabalhador. A jornada 4×3 implicaria em redução de renda”, comenta o docente da UTFPR.

Outro caso sensível vem da indústria. Braz acredita que em muitos casos é impraticável paralisar a produção no ritmo de 24/7. Assim, para não parar as máquinas, seria necessário contratar mais colaboradores, o que torna o debate menos atrativo para os empresários.

Público e privado

Mas, para a ideia ser viável, seria necessário envolver o Estado, porque pode haver alguns entraves legais que inibam a adesão das organizações à jornada.

Cassiano D’Angelo Braz menciona a importância de se atentar à impossibilidade de alteração contratual em prejuízo do empregado, por exemplo. As leis trabalhistas e as convenções de trabalho impedem a redução de jornada com redução proporcional de salário. “A maioria das empresas que optam pela jornada 4×3 reduz a jornada semanal para até 32 horas sem redução salarial“.

É por isso que a adesão do fim de semana de três dias deve vir da cultura da empresa. “Algumas não se adaptaram a esse projeto, pois os colaboradores passavam a ter excesso de cobrança por parte dos gestores, inviabilizando a política”, diz o advogado.

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Além disso, por ser uma agenda de interesse coletivo, o poder público precisa entrar em campo para que as empresas não paguem essa conta sozinhas.

A esse respeito, Leonardo Tonon é cético. “Apesar dos benefícios possíveis, não sou muito otimista em acreditar que, no Brasil, tal estratégia será amplamente aplicada no curto ou médio prazo. Mudanças mais drásticas só viriam com mudanças legais em favor do trabalhador, o que me parece improvável no momento”.

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