- Inspirada no conceito e na expressão Masterclass, a plataforma de educação financeira vai oferecer aulas com profissionais que acumularam uma longa experiência no universo da economia e das finanças
- Além das aulas com os principais nomes da economia, das finanças e do comportamento, há outras duas categorias para os assinantes, a Findocs e a Finbooks
Quem acompanha canais de finanças no YouTube talvez não lembre exatamente do nome Thiago Nigro, mas pode rapidamente reconhecer seu apelido: Primo Rico.
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Com diversos vídeos publicados em seu canal, ele está em uma nova investida em sua vida: a Finclass, a primeira plataforma de streaming de educação financeira.
“É o projeto mais ambicioso da minha vida”, diz ele. “Sinto que vou conseguir fazer um bem muito grande fazendo isso.”
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Falando ao E-Investidor, o Primo Rico explica suas preocupações com o nível da educação financeira no País. Sim, a quantidade de conteúdos ligados ao tema aumentou nos últimos anos, mas a falta de curadoria para selecionar os melhores profissionais pode prejudicar quem quer entender de finanças pessoais e investimentos.
“As pessoas que ensinam educação financeira – não todas, porque há grandes exceções – em geral ensinam sob uma ótica de ficar rico muito rápido. E isso é pegar a ferramenta correta e ensinar da forma errada, porque educação financeira não é isso”, afirma Nigro.
O que é a Finclass
A ideia da Finclass é justamente ocupar esse espaço. Inspirada no conceito e na expressão Masterclass, a plataforma de educação financeira oferece aulas com profissionais que acumularam uma longa experiência, que vivem e que transpiram o universo das finanças e dos investimentos.
A assinatura mensal custa R$ 39 (ou cerca de US$ 7). A perspectiva é atrair 1 milhão de inscritos em três anos.
Com investimento de aproximadamente R$ 20 milhões, a Finclass é uma super produção que não quer impressionar apenas no lançamento. Toda a produção hollywoodiana se estendeu para as aulas: as gravações são feitas com câmeras digitais 4K, as trilhas sonoras são originais e as animações são próprias para cada aula, a exemplo da Netflix.
Além das aulas com os principais nomes da economia, das finanças e do comportamento, há outras duas categorias para os assinantes. A Findocs vai apresentar documentários da vida real, e a Finbooks traz livros de finanças analisados e comentados por grandes personagens de mercado.
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Quem pensa que o Primo Rico será o protagonista da Finclass está completamente enganado. Ele é o investidor, por meio do Grupo Primo, mas o seu espaço será igual ou menor que os experts convidados para ministrar aulas. O que ele vai fazer é ligar a sua audiência de milhões de seguidores aos cursos oferecidos pela plataforma.
“Tenho 13 anos de mercado financeiro. É bastante para algumas pessoas, mas é muito pouco perto de algumas grandes mentes brilhantes que existem pelo mundo”, diz Nigro.
“As pessoas ao redor do mundo começaram a dar muito valor e se aproximar dos influenciados. Vejo isso comigo. Eu ensino bem e me comunico bem, mas, na verdade, eu aprendi com Warren Buffett, Ray Dalio, Howard Marks, Guilherme Benchimol. Aprendi com essas pessoas. O que eu quero é que essa audiência que me segue, e a audiência que não me segue, se conecte com as mentes mais brilhantes do mundo.”
Faz sentido uma Finclass?
Mas qual é a importância e a diferença de aprender com um Masterclass? Fiz exatamente essa pergunta para dois dos maiores influenciadores digitais de finanças e investimentos do Brasil: Felipe Miranda, sócio fundador da Empiricus, a maior casa de análise independente de investimentos; e Nathalia Arcuri, a fundadora do canal Me Poupe!, o maior do YouTube, com mais de 6 milhões de inscritos.
Para Miranda, a resposta precisa ser dividida em dois níveis. “No geral, há uma espécie de banalização da especialização hoje em dia. Aquilo que o Tom Nichols falou no livro dele (The Death of Expertise) que todo mundo virou especialista em tudo. Você tentar praticar uma atividade, seja ela qual for, sendo orientado por alguém que não é um expert naquela atividade, muito possivelmente você não vai estar em vantagem. Isso vale no geral, se você vai aprender a jogar futebol, cozinhar, a construir uma ponte ou a ser um investidor. Essa é uma tendência geral e, embora as redes sociais sejam um elemento muito positivo da sociedade para democratizar e disseminar a informação de forma muito rápida, elas trazem consigo essa contrapartida que nem sempre é muito proveitosa: você acaba sendo orientado por alguém que não tinha condições de ser um orientador”.
E Miranda complementa: “A segunda face é que no mercado financeiro isso é ainda mais problemático porque a atividade de investimento, para ser bem feita, é altamente técnica. O mercado é extremamente competitivo e com muita aleatoriedade e incerteza. A chance de você se dar mal é muito grande.”
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Para Miranda, “O mercado financeiro é um campeonato de Fórmula 1. Como paga muito bem e as margens são altas quando você acerta, o mercado financeiro atrai as melhores cabeças, a melhor tecnologia, os melhores sistemas. É contra esses caras que você está competindo. É fundamental você ser bem orientado porque é uma briga contra profissionais altamente capacitados e técnicos. Você quer lutar essa guerra sem orientação ou com orientação de um profissional altamente capacitado e técnico? Aí é qual nível de desvantagem que, a priori, você quer se colocar”.
Para Arcuri, a especialização e a vivência são fundamentais para quando se fala de ensino e aprendizagem.
“Quando falamos sobre educação financeira, falamos sobre uma importante questão socioeconômica que ainda precisa de muitos passos para chegar num cenário ideal. É claro que, para alcançar cada vez mais pessoas, há sim uma necessidade de termos mais profissionais dispostos a compartilhar o tema, mas isso só pode ser positivo se feito com muita responsabilidade. Temos um exemplo recente na Me Poupe! e acho importante mencionar: quando entendemos que era o momento de falar mais sobre renda variável, fomos em busca de um professor e também analista CNPI, o Eduardo Mira, que além de ter domínio do assunto, é um profissional credenciado e autorizado a recomendar ações“, comenta Arcuri.
“Outra coisa que não deveria acontecer, mas acontece muito, é ter figuras que ensinam, mas apenas com uma bagagem técnica e pouco entendimento comportamental, a verdadeira raiz deste problema”, diz Arcuri.
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“É claro que a teoria é super relevante, mas quando falamos de finanças pessoais devemos levar em conta, talvez até mais, o conhecimento empírico destes profissionais. Ou seja, pessoas que, como eu, vivenciaram na prática as situações que repassam, incluindo até mesmo os erros, algo que dificilmente encontramos em livros ou manuais tradicionais de economia.”
E Arcuri complementa: “No meu caso, como notei muito cedo que o que mais fez diferença na minha disciplina pessoal foi a questão comportamental, fui atrás de estudos e mentorias que comprovassem esses comportamentos, com neurociência, neuroeconomia e economia comportamental, por exemplo”.
Arcuri completa reforçando a importância de ter a pele em jogo: “Outro ponto fundamental é ter uma metodologia de ensino para que pudesse passar meu conteúdo adiante – não basta saber o conteúdo, entender suas raízes e ter experimentado na prática, também é preciso saber ensinar. Hoje, além de números (que chegaram a seis milhões somente no YouTube – com a plataforma Me Poupe! toda chegamos em mais de 20 milhões de pessoas todos os meses), temos uma comunidade de pessoas conectadas que nos contam, todos os dias, histórias de superação e coragem para dominar sua própria vida, algo que antes não achavam capaz”.
O futuro da Finclass
Felipe Miranda e Nathalia Arcuri não são nomes que estão na Finclass (pelo menos o Primo Rico não adiantou nada nesse sentido). Mas em toda a conversa que tive com ele, deu para sentir que a vontade de Nigro é unir esforços para melhorar a educação financeira.
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Por isso, é esse nível altíssimo de profissionais que ele espera conquistar para fazer a plataforma ser, de fato, relevante. O que me leva a crer nessa ideia? Estas palavras dele:
“A Finclass não tem a motivação apenas de negócios. A motivação aqui é a de subir a régua global em educação financeira. Porque não tem como a Finclass funcionar se o ecossistema de finanças não quiser contribuir”, afirma o Primo Rico.
“Eu preciso que os outros professores que existem hoje no Brasil queiram fazer parte da Finclass também. Quero que os grandes profissionais do Brasil olhem para a Finclass não como um concorrente, mas como um parceiro. Quero que eles contribuam e estejam lá dentro. Será uma grande vitrine para eles também. Não quero que olhem e pensem: como que eu reajo a isso? Quero que eles queiram participar de alguma forma.”