- Especialistas ouvidos pelo E-Investidor explicaram qual é o cálculo necessário para chegar no melhor custo-benefício
- A Jato Dynamics realizou um estudo com quatro veículos diferentes e três percursos distintos para apontar qual é o combustível mais barato hoje
- Professor da FGV diz que existem outras variáveis que também impactam na escolha do combustível: tecnologia do veículo e o perfil do motorista
Ao comprar um carro, o combustível costuma ser um dos gastos mais recorrentes relacionados ao veículo e uma dúvida que costuma martelar a cabeça dos motoristas é: melhor abastecer com álcool ou gasolina? Tradicionalmente, o primeiro costuma ser mais barato, além de ser um combustível renovável. No entanto, os especialistas explicam que não apenas o preço do litro nas bombas do postos que é preciso ser levado em conta na hora de escolher.
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Especialistas entrevistados pelo E-Investidor explicaram qual a fórmula necessária para chegar ao melhor custo-benefício. É preciso ver quanto o carro roda em álcool e gasolina tanto na estrada quanto na cidade – os números podem ser acessados no Programa Brasileiro de Etiquetagem, do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – e saber a diferença de preços dos combustíveis nos postos.
Na prática, de acordo com Cássio Pagliarini, professor do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV), deve-se pegar a quantidade de álcool consumido pelo carro na cidade e dividir pelo consumo de gasolina no mesmo local. O resultado precisa ser multiplicado por 100 para chegar a uma determinada porcentagem. Veja quanto custa o seguro para o carro mais vendido em outubro.
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De acordo com o Inmetro, o Fiat Mobi Easy, por exemplo, consome 9,8 km/l de álcool na cidade enquanto roda 14,2 quilômetros por litro de gasolina. Se motorista desse veículo dividir o primeiro número pelo segundo chegará em 0,69 e ao multiplicar por 100 terá 69% como resultado final.
Em seguida, o dono do carro precisa pegar o preço dos combustíveis em um posto e dividir os valores. Por exemplo, se um estabelecimento coloca o álcool a R$ 6,02 e a gasolina a R$ 7,52, o resultado será 0,80, que ao ser multiplicado por 100 vai chegar ao percentual de 80%.
Com ambos os números, considerando os valores atuais dos combustíveis, vale mais a pena para um motorista de um Fiat Mobi Easy utilizar a gasolina, diz o professor do MBA em Gestão Estratégica de Empresas da Cadeia Automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Seria interessante abastecer apenas com álcool se a diferença dos combustíveis fosse abaixo dos 69%.
A mesma fórmula pode ser aplicada em todos os outros veículos a combustão se forem rodar em estrada. Como o Renault Sandero S Edition, que consome 10,2 Km/l na estrada com álcool e 14,7 km/l com gasolina; ao efetuar os cálculos obtêm-se o valor de 70%.
Considerado o mesmo preço nos postos no levantamento realizado com o Fiat Mobi, também vale mais a pena o motorista de um Sandero utilizar a gasolina. Neste caso, seria vantajoso a escolha pelo álcool apenas se a diferença de preço nas bombas inferior aos 70% calculados.
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A pedido do E-Investidor, Milad Kalume, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics, realizou um estudo com cinco veículos diferentes e três localizações distintas para apontar quanto o motorista gastará se o preço do álcool for R$ 3,66 e da gasolina for R$ 4,92.
As distâncias apontadas no levantamento são:
- Aeroporto Guarulhos - MASP = 27,5 km (5,1 km na cidade e 22,4 km na estrada);
- Sede de O Estado de S. Paulo - Paranapiacaba = 70,8 km (10,5 km na cidade e 60,3 km na estrada);
- Parque Ibirapuera - Parque Vila Lobos = 13,6 km na cidade
O gerente da Jato explicou que a planilha é sensível ao custo do combustível. O estudo considerou valores da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Porém, são os proprietários dos postos de combustíveis que definem qual o preço que vão repassar aos clientes. "Se a diferença da divisão entre os valores dos combustíveis estivesse próxima do valor encontrado na divisão de cada consumo, teríamos uma diferença insignificante ou tendendo a zero”, diz Kalume.
Segundo dados da Ticket Log, de setembro para outubro o preço da gasolina comum caiu 2,66%, de R$ 5,413 para R$ 5,269. Enquanto o álcool no mesmo período recuou 6,93%, de R$ 4,353 para R$ 4,051. A análise considera os preços de mais de 18 mil estabelecimentos.
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Kalume afirmou também que no levantamento não foi desconsiderado o trânsito e o horário que o carro está circulando, pois “são variáveis impossíveis de mensurar”. Os valores utilizados para saber quanto o carro gasta por litro em um quilômetro são passados pelas montadoras, que usam dinamômetro (aparelho utilizado para medir a intensidade da força) para calcular.
Outras variáveis
Pagliarini, o professor da FGV, diz que existem outras variáveis que também impactam na escolha do combustível: tecnologia do veículo e o motorista. Na primeira, tudo depende da arquitetura do motor, ou seja, se a fabricante fez um produto que funciona melhor com álcool ou com gasolina.
No segundo fator, se o condutor costuma pisar muitas vezes no freio e no acelerador durante o percurso na cidade, o gasto com combustível é maior, pois tanto o álcool quanto a gasolina são transformados em energia para que mecanismos do automóvel agarrem e soltem a roda constantemente.
Um levantamento da startup de gestão de frotas brasileira Cobli apontou que acelerar e frear o tempo todo faz o carro gastar até 75% a mais de combustível do que o normal. Nos veículos leves, o consumo a mais pode ser em média de 30% a 50%.
O gerente da Jato Dynamics também apontou outras variáveis que podem afetar o consumo de combustível:
- Consumo está diretamente relacionado com a potência do veículo. Apesar de não ser uma regra absoluta, em linhas gerais, quanto maior a potência, maior o consumo;
- Veículos mais pesados apresentam maior consumo em relação aos mais leves;
- Veículos com transmissão automática normalmente consomem mais em relação aos veículos de transmissão manual.
“Ou seja, há infinitas variáveis que o motorista deve levar em conta no momento que for abastecer o veículo. Escolher o investimento certo para o automóvel não é uma tarefa fácil, mas é possível encontrar contas matemáticas e características técnicas [do carro] para que a decisão pelo álcool ou pela gasolina seja a mais correta possível”, afirma o professor da FGV.