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Comportamento

Rap e hip hop também ensinam lições de negócios e finanças

O mundo da música está cheio de mentores, como Jay-Z. Nos negócios, uma mentoria pode fazer toda a diferença

Rap e hip hop também ensinam lições de negócios e finanças
Performance de Jay-Z e Beyonce (Foto: Brian Snyder/Reuters)
  • Artistas do rap e do hip hope, e até mesmo algumas de suas canções, passam valiosas lições sobre negócios e finanças
  • O mundo do hip hop está cheio de duplas de protégés e mentores, que viram potenciais em novos talentos e os guiaram no começo de suas jornadas pelo mundo da música
  • Jay-Z é outro que não é egoísta quando se trata de guiar novos talentos. No mundo dos negócios, uma mentoria pode fazer toda a diferença

(Murilo Basso, Especial para o E-Investidor) – Carrões, cordões de ouro, roupas caras e de grife. Essa é a imagem mais comum que se tem de grandes nomes do rap e do hip hop que gostam da boa e velha “ostentação”. Isso não significa, porém, que artistas do gênero e até mesmo algumas de suas canções não passem valiosas lições sobre negócios e finanças. E não, não nos referimos aqui a lições como “fique rico ou morra tentando” (álbum de 2003, de 50 Cent).

Confira a seguir algumas delas:

Você não precisa de muitos recursos para começar

O conceito básico de um equipamento de DJ é o “two turntables and a microphone” (dois toca-discos e um microfone). O MC, por si só, precisa apenas de caneta e papel para anotar suas rimas – isso quando elas não são improvisadas na hora. Uma das magias do rap, portanto, é que se trata de um estilo musical que, a princípio, não precisa de outros instrumentos musicais. Na área dos negócios, muitas pessoas têm medo de empreender por considerarem que não têm recursos suficientes, que dariam conta de sustentar uma empresa. Ocorre que vontade e inspiração talvez sejam os ingredientes principais na hora de montar um negócio.

“Uma coisa que é real para começar a empreender: recursos não são uma questão essencial, pois é possível iniciar o negócio com o que você possui. Você utiliza algo que já tem à disposição para tirar esse negócio do papel ou, pelo menos, começar a validar suas ideias. Conforme o tempo passa, você vai precisando de mais recursos e pessoas para lhe ajudar ou dinheiro que contribua para o crescimento da empresa, por exemplo”, diz Fernando Domingues, coordenador do StartupLab da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo.

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“Mas a ideia é que você precise do mínimo possível de capital nesse processo. É preciso estar disposto a botar a mão na massa, ser protagonista e também observar uma oportunidade. Resiliência e coragem para seguir em frente também são necessárias”, completa o professor, que reforça que um bom planejamento estratégico também é essencial.

Já André Pamplona, gestor de produto e cofundador da Platta Investimentos, lembra de outra prática comum no rap com a qual se pode, muito bem, traçar um paralelo com empreendimentos: o sample. Trata-se de usar trechos de canções já conhecidas em músicas novas, como o brasileiro Emicida faz com “Sujeito de Sorte”, de Belchior, em seu rap “AmarElo”.

“Esse mecanismo funciona quando você pega um produto ou serviço tradicionais e tem uma sacada de como modernizá-lo e torná-lo mais eficiente e atrativo para os consumidores. Você ‘sampleia’ as partes que funcionam e ‘cria a batida’ para as partes que merecem ser modernizadas. Quando você sampleia ideias, a coisa geralmente tende a ficar mais barata e simples de executar, como por exemplo, incorporar processos e ferramentas que você sabe que funcionam na hora de montar o seu negócio”, pontua Pamplona, que também é investidor-anjo e produtor musical nas horas vagas.

Mentorias podem fazer a diferença

O mundo do hip hop está cheio de duplas de protégés e mentores, que viram potenciais em novos talentos e os guiaram no começo de suas jornadas pelo mundo da música. Lil’Wayne não se conteve em ajudar apenas um artista de sucesso: “apadrinhou” Drake e Nicki Minaj. Já Eminem foi tanto protegido quanto mentor, pois contou com os ensinamentos de Dr. Dre quando estava começando e ajudou 50 Cent quando este ainda era um novato no show business.

Jay-Z é outro que não é egoísta quando se trata de guiar novos talentos e foi crucial para o crescimento musical de J. Cole, Rihanna e Kanye West, para citar apenas alguns exemplos. No mundo dos negócios, uma mentoria pode fazer toda a diferença.

“Mentores são fundamentais para o desenvolvimento pessoal e profissional, não somente nos negócios como também na vida. É importante que a relação seja sinérgica, que o mentor veja potencial nas suas ‘rimas’ e que você admire os ‘álbuns’ que ele já escreveu. A relação é de interesse mútuo, por isso é importante procurar por alguém que se encaixe não só no desafio, mas também no propósito e na maneira de trabalhar”, opina Pamplona.

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Não há “receita” sobre o momento certo para começar a trabalhar com um mentor e como encontrá-lo, mas é preciso destacar que mentores qualificados geralmente são aqueles profissionais que têm experiência na área com a qual o empreendedor novato está tentando se desenvolver, pois uma das premissas da mentoria é que o processo ajude o empresário a encontrar os melhores caminhos.

“Muitos empreendedores possuem boas ideias, mas nem sempre eles sabem como executá-las ou ainda não têm o aporte financeiro necessário para colocá-las em prática. A mentoria pode preencher essa lacuna, uma vez que o mentor tem uma grande experiência em negócios e pode fornecer atalhos interessantes para um empreendedor inexperiente. No caso da falta de recursos, é possível também encontrar um mentor de startup que pode ou não se tornar sócio ou, ainda, indicar um investidor-anjo à empresa”, pontua Magnus dos Reis, docente do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Busque colaborações e diversifique seu público

Astros do hip hop são ótimos em fazer parcerias com grifes, para “emprestar” seus nomes e desenhar produtos. Adidas, Nike, Puma e New Balance são apenas alguns exemplos de marcas com as quais rappers costumam trabalhar. Parcerias musicais com artistas que não têm a mesma base de fãs não são incomuns – “Crazy in Love”, parceria entre a diva pop Beyoncé e o rapper Jay-Z terminou até em casamento.

Além disso, há rappers que não têm medo de se arriscar em outras artes, como o cinema e a televisão. Apesar de hoje ser mais conhecido como ator, Will Smith começou no rap. Eminem e 50 Cent, mentor e protegido, também estrelaram filmes na telona – “Rua das Ilusões” (2002) e “Fique Rico ou Morra Tentando” (2005), respectivamente. A lição que o empreendedor pode extrair daqui é: não tenha medo de diversificar e tentar ampliar seu público, o que muitas vezes pode ser feito por meio de colaborações.

“Colaborações, quando fazem sentido para o negócio e são bem estruturadas, sempre são bem-vindas e muito eficientes. No universo do hip-hop, posso dar como exemplos a ascensão da marca de roupas Supreme e o coletivo de rap Odd Future. A empresa nova-iorquina consolidou seu posicionamento alternativo e dominou o mercado americano por meio de bem-sucedidas parcerias com rappers emergentes na Califórnia. O coletivo de rap, por sua vez, foi beneficiado com visibilidade e conexões na Costa Leste do país. O grande desafio é ter clareza do que contribui para o crescimento do seu negócio e as implicações que uma parceria pode trazer a curto, médio e longo prazo”, diz Pamplona,
da Platta Investimentos.

Magnus dos Reis, da Unisinos, afirma que a cooperação entre empresas pode até conduzir a um melhor equilíbrio de mercado que seja benéfico para ambas, além de poder ser uma boa estratégia para as companhias aumentarem seus lucros. Para que isso seja possível, é necessário estabelecer relações de confiança e, principalmente, pensar em uma proposta que seja de ganho para ambas. Sobre a expansão do público-alvo, o professor lembra que há empresas que trabalham muito bem com foco em um nicho específico, mas que existem outras que cresceram justamente por focar em várias
áreas.

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“Há empresas bem sucedidas que atuam em mercados mais restritos e para um público alvo, como a Apple. Outras tantas cresceram ofertando diversos produtos para diferentes níveis de renda, que é o caso da Amazon. No entanto, para iniciar um negócio é importante ter foco, pois isso também facilitará na hora de elaborar um bom planejamento estratégico. Após a consolidação da empresa no mercado alvo, é mais fácil ofertar novos produtos ou alcançar outros tipos de consumidores”, orienta o professor.

Não tenha medo de se arriscar

Um “mantra” do rapper Drake é “oh, well, guess you win some and lose some, as long as the outcome is income” (“bem, acho que você ganha e perde, contanto que o resultado seja uma receita”). Não se deve, é claro, fazer tudo pelo lucro e buscar capital até às últimas consequências, mas a frase ensina que todo negócio envolve um risco e que não é possível vencer sempre. Quando você empreende, está, automaticamente, arriscando-se. Há, contudo, meios de mitigar esses riscos.

“Risco faz parte do negócio de empreender, e existe uma diferença entre gerir e empreender. Gerir significa trabalhar de forma a reduzir os riscos ao mínimo, enquanto empreender significa buscar evolução, aceitando que haverá riscos nesse processo. As pessoas precisam ter em mente que empreender envolve riscos e que suas ações geram impactos”, aponta Fernando Domingues, da ESPM.

Pamplona diz que o risco é inerente a um negócio, sempre. O que existe, na realidade, são riscos mais e menos conhecidos, seja porque o empreendedor ainda não tem muita experiência, seja porque o mercado ainda não foi muito explorado.

“Drake é um bom exemplo de rapper que correu riscos num mercado inexplorado. Atribuem a ele a popularização de um novo gênero de hip-hop, ao cantar melodicamente em suas canções, trazer um novo ritmo às rimas, trazer suavidade e abordar a mulher de maneira afável, muito diferente do que a cena estava acostumada. Tudo isso poderia ter dado errado, visto que não era o padrão há 10 anos.

Para reduzir os riscos, se o mercado é conhecido, é preciso ter conhecimento e consciência sobre onde você está pisando. Se for um mercado inexplorado, a tentativa e o erro com constantes ajustes de rota é um caminho altamente indicado”, opina o investidor.

Uma boa gestão de marca é fundamental

Jay-Z diz que “Eu não sou um cara de negócios. Eu sou um negócio, cara”. O rapper, assim como vários outros músicos do ramo, compreendeu que ele consegue capitalizar em várias frentes: ele canta, produz, escreve livros, investe no mercado de espumantes, fecha parcerias com marcas de roupas, para citar algumas empreitadas do americano.

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“Quando a gente fala da ideia de se capitalizar ao máximo, estamos falando sobre entender todos os seus potenciais. A Amazon, por exemplo, lançou a Amazon Prime porque isso fazia sentido para o seu negócio. Caminho que foi seguido pela Apple e também está dando certo. É claro que podem haver falhas, como foi o caso do celular da própria Amazon”, afirma Domingues.

Nesse ponto, é importante se atentar aos propósitos da marca e não “atirar para todos os lados”, lançando produtos que não conversam entre si. E isso demanda, também, uma ótima gestão de marca, já que um bom branding pode ser determinante para valorar o negócio, conquistar mercado, investidores e até mesmo colaboradores.

Saiba se organizar

Em “All Falls Down”, Kanye West canta que “I got a couple past-due bills, I won’t get specific. I got a problem with spendin’ before I get it” (“Tenho algumas contas atrasadas, não vou ser específico. Eu tenho um problema em gastar antes de conseguir [dinheiro]”). Tanto em uma empresa, quanto na vida pessoal, a organização das finanças é crucial, justamente para minimizar os já falados riscos.

“Como investidor, sempre gostamos de projetar cenários de crescimento pessimistas. Isso significa que é importante pensar que seu negócio vai crescer, mas talvez nem tanto, e até mesmo, em alguns momentos, o bico do avião pode apontar para baixo. Dessa maneira, você se prepara para o pior e tem ideias de como contornar as mais diversas situações”, diz Pamplona.

“É sempre bom ter cenários em vista. Kanye West pode ter um problema em gastar antes de receber, mas quando se tem clareza de como seu negócio irá performar, é coerente gastar mais do que se fatura. Essa é a lógica de crescimento de muitas startups que captam recursos com investidores para crescer e dominar mercado, mas sempre tendo em vista os cenários, metas e planos de contingência”, completa o investidor.

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