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- Cafés e importadores estão enfrentando oferta restrita e custos mais altos por causa da falta de espaço em contêineres de navios que transportam grãos do Brasil, o maior exportador, e da América Central
- Embora as perturbações no mercado de carga tenham devastado todo o comércio global de alimentos, os problemas no mercado do café mostram que a inflação dos alimentos já em alta pode ser exacerbada com a reabertura das economias
(Marvin G. Perez, Fabiana Batista, Manisha Jha/WP Bloomberg) – A oferta de café nos Estados Unidos está encolhendo e os preços no atacado estão subindo, com o mercado duramente atingido e se preparando para mais consequências da escassez global de contêineres que já afetou o comércio de alimentos.
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Cafés e importadores estão enfrentando oferta restrita e custos mais altos por causa da falta de espaço em contêineres de navios que transportam grãos do Brasil, o maior exportador, e da América Central. Por enquanto, os torrefadores podem se valer dos estoques em vez de aumentar os preços, mas, com os estoques caindo e a perspectiva de uma safra brasileira menor, as tensões devem persistir.
“Todo mundo está sentindo o aperto”, disse Christian Wolthers, presidente da Wolthers Douque, uma importadora em Fort Lauderdale, Flórida, que estima que os custos de remessa mais do que dobraram na América Latina. “Esses gargalos estão se transformando num pesadelo dos contêineres”.
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Embora as perturbações no mercado de carga tenham devastado todo o comércio global de alimentos, os problemas no mercado do café mostram que a inflação dos alimentos já em alta pode ser exacerbada com a reabertura das economias. Os estoques de café caíram para o nível mais baixo dos últimos seis anos nos Estados Unidos, mesmo com safra recorde do Brasil, e uma grande queda na produção após a seca no país sul-americano deve levar o saldo mundial a um déficit nos próximos meses, assim que a demanda se recuperar.
As negociações futuras de café arábica em Nova York subiram cerca de 24% desde o final de outubro, depois dos danos sofridos pelos produtores brasileiros. Em fevereiro, o estoque americano de grãos não torrados caiu 8,3% em relação ao ano anterior para o menor patamar desde 2015, mostraram dados do setor na segunda-feira.
Os estoques mais baixos significam menos proteção para amortecer o declínio esperado na safra do Brasil, agravando o aperto do mercado e dando suporte continuado aos preços, dizem analistas.
A Marex Spectron aumentou este mês sua estimativa de déficit global de café para 10,7 milhões de sacas em 2021-22, em comparação com sua projeção anterior de 8 milhões de sacas, citando a menor produção brasileira de arábica após o mau tempo prejudicar as safras. O Goldman Sachs Group Inc. disse em relatório que, se a produção na América Central não melhorar nos próximos anos, o mercado entrará em um déficit estrutural devido à recuperação da demanda.
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Nas instalações da Dinamo, uma das maiores operadoras do Brasil, há muito café parado esperando pelos contêineres. Na unidade da empresa no município de Machado, no coração cafeeiro de Minas Gerais, os grãos aguardam a chegada de 18 contêineres vazios, disse Luiz Alberto Azevedo Levy Jr., diretor da Dinamo. “Esses contêineres provavelmente levarão cerca de 15 dias a mais para chegar aqui, por causa de gargalos no porto”, disse.
A situação, que se agravou ainda mais em março, provavelmente reduzirá o volume de café exportado pelo Brasil, disse Levy Jr.
“A logística tem sido uma dor de cabeça, com problemas de falta de espaço e de contêineres”, disse Marco Figueiredo, trader e sócio da Ally Coffee, comerciante de cafés especiais que importa grãos de países como Colômbia, Guatemala e Brasil. “Estamos monitorando a situação e conversando com os clientes, alertando-os sobre o aumento dos custos”.
A dinamarquesa A.P. Moller-Maersk A/S, maior empresa de navegação do mundo, disse que contêineres e navios fretados estão temporariamente indisponíveis para compra ou aluguel, aumentando o congestionamento e os atrasos nos portos. A empresa tentou comprar ou alugar todos os contêineres disponíveis e está mantendo as unidades antigas em operação. Também está consertando unidades que normalmente não faria a custos mais altos, disse a Maersk em uma resposta por e-mail a perguntas da Bloomberg.
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“É uma situação temporária, tanto em termos de padrões de compra quanto de disponibilidade de embarcações”, disse a empresa. “Esperamos que as coisas voltem ao normal durante o primeiro semestre de 2021”.
Por enquanto, muitos comerciantes estão tentando conter os aumentos de preços enquanto trabalham para atrair clientes de volta aos cafés e restaurantes. Há um crescimento constante na demanda por café, embora o segmento de bares e restaurantes possa levar de dois a três anos para retornar aos níveis anteriores à covid, de acordo com David Rennie, chefe das marcas de café da Nestlé SA.
Stefano Martin, gerente de vendas e exportação de marketing da rede italiana de cafés Diemme, disse que o negócio ainda não está sentindo todo o impacto porque continua operando sob contratos feitos antes das interrupções no transporte. Isso pode mudar quando esses contratos forem renovados, disse ele. A empresa tem 26 restaurantes e cafeterias e, normalmente, importa 30 mil sacas em cerca de 90 contêineres do Brasil, Colômbia, El Salvador, Honduras, Tanzânia e Índia.
“Ainda não há impacto do nosso lado, pois fechamos todos os contratos antes de os preços subirem”, disse ele. “Mas muito provavelmente o próximo lote de contratos cobrará mais caro de nós”.
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(Tradução de Renato Prelorentzou)