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Comportamento

Por que os mercados não sabem valorizar a paz

Oscilações do mercado devem continuar caso não haja bandeira branca logo

Por que os mercados não sabem valorizar a paz
As coisas permanecerão complicadas se a Rússia escolher continuar com seus avanços em direção à Ucrânia. (Fonte: Pexels)
  • Se a situação na Ucrânia se acalmar, não haverá uma simples reversão das recentes oscilações do mercado
  • O que torna isso especialmente confuso é que os refúgios óbvios não têm sido necessariamente amigos dos investidores durante a crise
  • A solução de curto prazo para a direção do mercado é a energia – mesmo se o aumento dos custos com habitação, alimentos e outras commodities deixar os banqueiros centrais preocupados

Marcus Ashworth, The Washington Post – É sempre complicado negociar com possíveis cenários de guerra. Avaliar qualquer futuro efeito colateral – assim como sua magnitude – nunca é simples. Assim como analisar outra possibilidade para a conjuntura. Se a situação na Ucrânia se acalmar, não haverá uma simples reversão das recentes oscilações do mercado. As coisas permanecerão complicadas se a Rússia escolher continuar com seus avanços em direção à Ucrânia.

O que torna isso especialmente confuso é que os refúgios óbvios – como o dólar americano e, em particular, os títulos do Tesouro dos Estados Unidos de curto prazo – não têm sido necessariamente amigos dos investidores durante a crise. O dólar, o iene e o franco suíço sofreram reduções na oferta e demanda. O ouro se saiu bem, mas não de forma espetacular, sobretudo em comparação com os metais usados na indústria em geral. Os rendimentos do título referencial alemão de 10 anos – o porto seguro europeu – estão no nível mais alto desde o final de 2018, tendo sido sem dúvidas positivos. Não houve proteção contra o ímpeto de investir na renda fixa de alta qualidade.

A solução de curto prazo para a direção do mercado é a energia – mesmo se o aumento dos custos com habitação, alimentos e outras commodities deixar os banqueiros centrais preocupados. O petróleo bruto ameaça passar a barreira dos US$ 100 há algum tempo – e talvez continue a fazer isso até mesmo se a expectativa de guerra no continente europeu diminuir. Isso porque ainda há forte crescimento econômico global pós-pandemia e muitos gargalos logísticos para manter os preços em alta. Pelo menos, em teoria.

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Entretanto, os banqueiros centrais ficariam aliviados se a paz reinasse e levasse a uma forte queda dos preços do gás e do petróleo. Isso ajudaria a interromper a volta da persistente – e constrangedora – alta dos números da inflação que precederam mudanças bruscas na orientação das tarifas dos principais bancos centrais. Já passou do tempo de uma dose de realismo sobre até que ponto e com qual velocidade as tarifas podem ser puxadas para cima. Mas isso talvez seja esperar demais.

Os mercados de títulos têm sua própria crise latente em relação à inflação para lidar. Com partes da curva de juros dos títulos do Tesouro americano já prestes a se inverter, há muitos sinais contraditórios a respeito do quanto as tarifas podem aumentar antes de a recuperação ser afetada. Os rendimentos de títulos de curto prazo não podem continuar subindo mais rápido do que os vencimentos mais longos para sempre.

Mas há outros problemas, inclusive sinais mais evidentes de estresse na zona do euro. Os rendimentos dos títulos espanhóis de 10 anos subiram mais do que o habitual em 100 pontos em relação aos da Alemanha, a maior alta desde o verão de 2020; enquanto isso, os rendimentos dos títulos italianos de 10 anos estão se aproximando de 2%. Não significa uma crise, mas é desconfortável. A eleição presidencial francesa em abril vai adicionar mais tensão a tudo isso.

Os spreads de crédito – o retorno que as empresas têm a oferecer acima da dívida do governo – sentiram a tensão recentemente, apesar das economias inerentes amplamente fortes. Além da situação da Ucrânia, os rendimentos crescentes do governo americano têm tido forte influência em todos os títulos. A atividade de novas emissões foi diminuindo até se esgotarem com apenas os emissores de maior qualidade se sentindo confiantes em testar a demanda dos investidores. Na terça-feira (1), a Bélgica assinou com sucesso um acordo de 30 anos, com livros de ofertas superiores a 36 bilhões de euros (US$ 40,9 bilhões).

Mas já há sinais promissores de que a oferta de títulos corporativos se recuperará com rapidez. O fundo de investimento imobiliário Prologis levantou 500 milhões de libras (US$ 677 milhões) em um acordo ecológico de duas parcelas e a BMW Finance AG fez um acordo com benchmark em euros. Os emissores estão interessados em angariar fundos antes de taxas mais altas. Se a onda de alta dos rendimentos se acalmar, eles atenderão de forma adequada a demanda dos investidores. Há muito dinheiro a ser colocado para trabalhar se a guerra não estiver mais em discussão.

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Enquanto isso, as ações podem, e provavelmente devem, dar uma trégua muito necessária depois de um conturbado 2022 até aqui. É questionável o quanto das atuais retificações são resultado dos acontecimentos no leste europeu. A queda das outrora “queridinhas” ações de tecnologia e de meme também teve um papel significativo. Haverá mais a se levar em consideração caso as taxas de juros subam de forma consistente.

Este ano teve um começo difícil que pode ser ampliado consideravelmente se o pior cenário acontecer na Ucrânia. Mas uma solução que não envolva derramamento de sangue apenas reorganizaria a lista de pressões latentes. A recuperação desarticulada com seu efeito inflacionário vai dar continuidade às instabilidades. Portanto, fique na sua e mantenha-se organizado. Não espere muito de um dividendo da paz.

Tradução: Romina Cácia

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