Comportamento

Mulheres abandonam o conservadorismo e diversificam investimentos

Comportamento está ligado à educação financeira; mais de 1 milhão de mulheres entraram na Bolsa em 5 anos

Mulheres abandonam o conservadorismo e diversificam investimentos
Da esquerda para a direita: Júlia Abi-Sâmara, Dina Prates e Maísa Oliveira, profissionais do mercado financeiro. | Fotos: arquivo pessoal
  • Figuras do mercado contam que com orientações básicas, investidoras que pensavam ser totalmente conservadoras estão reconfigurando suas carteiras e abrindo para a renda variável
  • Fenômeno seria resultado da valorização da educação financeira e ao maior número de mulheres como figuras de destaque em instituições, seja como investidoras, educadoras, gestoras ou consultoras
  • Primeiros passos para perder a insegurança sobre os investimentos podem ser feitos com experiência em renda fixa com maior rentabilidade

A popularização da educação financeira tem feito mulheres reverem seus perfis de investimento. Figuras do mercado contam que com orientações básicas, investidoras que pensavam ser totalmente conservadoras estão reconfigurando suas carteiras e se abrindo para a renda variável. Na Bolsa de Valores do Brasil, apesar de ainda serem a minoria, elas saltaram de 179 mil em 2018 para atuais 1,4 milhão.

No dia a dia, a gestora de renda variável Isabel Lemos, da Fator Administração de Recursos (FAR), diz que mulheres que se dizem conservadoras podem se entender mais moderadas após uma reflexão sobre questões simples. “Você aceitaria ganhar 10% do seu patrimônio e perder 5%? Se ela virar para mim e disser que aceita, vou dizer que talvez ela seja moderada ou menos que conservadora”, exemplifica.

A educadora financeira Dina Prates diz que observa um forte movimento de mulheres ampliando seus horizontes sobre as possibilidades de investimento. Para ela, tal mudança de postura se deve tanto à valorização da educação financeira, quanto ao maior número de mulheres como figuras de destaque em instituições, seja como investidoras seja como educadoras, gestoras ou consultoras.

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Júlia Abi-Sâmara, fundadora do As Investidoras, empresa de educação financeira para mulheres, diz que ela própria começou como investidora conservadora. “Eram duas questões principais. Primeiro ainda me via insegura, por mais que já tivesse estudado muito. Depois, era a responsabilidade com meu dinheiro. Não queria colocar em um lugar que logo de cara pudesse ter desvalorização”, conta a influenciadora digital do mundo das finanças.

Júlia Abi-Sâmara, empreendedora e influenciadora do mundo das finanças | Foto: arquivo pessoal

A empreendedora conta que apesar do receio inicial, o objetivo sempre foi ampliar e se tornar investidora na Bolsa. Contudo, Júlia diz que a sua trajetória não precisa ser a de todas. Para ela, o acesso à educação financeira, com a identificação do perfil real, conseguirá dar base para uma resposta assertiva. “Tem mulher que de fato vai concluir que tem o perfil mais conservador. E não tem problema. Agora, tem outras que só têm perfil conservador porque se sentem inseguras”, afirma.

O movimento citado por Prates, que segundo ela tem contribuído para as mulheres diversificarem suas carteiras, tem colhido apenas os primeiros frutos. “O reflexo daqui outros cinco, dez anos será triplicado. Teremos mais profissionais, mais pessoas falando sobre isso. Dessa forma, mais mulheres tomam conhecimento e se empoderam para dar passos como entrar na Bolsa”, explica a profissional que atende um público composto por 90% de mulheres.

Conheça seu perfil

Se você já é investidora, com certeza sabe o que é uma carteira de investimentos. Porém, se você começou recentemente a investir dinheiro, pode ser que esse conceito ainda não esteja tão bem definido. O E-investidor criou um material gratuito para explicar o que é a carteira de investimentos, como montá-la e de que maneira o perfil de investidor interfere nas escolhas. Confira aqui!

Ponto de partida

O início não precisa ser ousado, mas é preciso dar o primeiro passo. A insegurança sobre os investimentos pode ser superada com a experiência na renda fixa, ainda mais em um momento de maior rentabilidade, como o atual, explica Dina Prates. “Muitas encaram a poupança como a única possibilidade. Elas podem começar com o CDB (Certificado de Depósito Bancário), por exemplo. E aí vão entender mais, vendo o dinheiro crescer, e então poderão decidir se aventurar em outras coisas futuramente”, diz a educadora.

Dina Prates, educadora financeira | Foto: arquivo pessoal

Quando forem dados os passos em direção a uma carteira mais diversificada, ainda vale ter ao lado um apoio profissional. “Delegar para uma assessoria também é saudável. O importante é que ela esteja bem informada sobre suas possibilidades de investimento”, considera a sócia e diretora de Relações com Investidores da Devant Asset, Maisa Oliveira.

Um dos pontos destacados pelas profissionais entrevistadas diz respeito ao momento de incertezas sobre os investimentos em renda variável, o que pode contribuir para afastar as mulheres. No entanto, para Prates, apesar das incertezas assustarem, muitas mulheres equacionam os riscos com a fatia do patrimônio a ser investido. “Investem aos pouquinhos. Elas têm mais cuidado, mas isso não impede de começar”, afirma.

A educadora lembra que ela começou devagar, primeiro focada em quitar suas dívidas e depois com aportes em CDB. Mesmo formada em contabilidade, precisou buscar informações para poder avançar para uma carteira hoje considerada arrojada. “Com tudo o que eu fui vendo e aprendendo consegui virar a chave”, diz Prates, que agora se dedica a ensinar e orientar outras mulheres sobre os investimentos.

Day traders

Nesta matéria, o E-Investidor contou as histórias de mulheres no day trade – uma das modalidades mais arriscadas de negociação de ativos, em que a compra e venda são feitas em um único dia. Apesar de serem a minoria, elas estão ganhando destaque nesse tipo de operação por saberem equalizar melhor os riscos das operações, o que pode resultar em ganhos robustos.

Questões a avançar

Além da chegada de um número expressivo de mulheres na Bolsa nos últimos cinco anos, outro fenômeno é observado de forma positiva por Oliveira, da Devant. “Em 2016, 75% das investidoras da Bolsa investiam somente em ações. Esse porcentual caiu para 38% no ano passado. Ou seja, elas estão deixando de olhar somente para ações e começando a observar outros produtos”, diz.

Maísa Oliveira, sócia e relações com investidores da Devant Asset | Foto: arquivo pessoal

Para Oliveira, apesar dos bons números, é preciso avançar na reflexão sobre o objetivo dos investimentos para as mulheres. “Hoje, por exemplo, vemos que as mulheres ainda priorizam as finanças quando se trata da família e da educação dos filhos, enquanto os homens priorizam o empreendimento e a aposentadoria, olhando para o futuro. As mulheres precisam ser direcionadas a também olhar para o futuro”, diz.

Se não houver evolução, considera Oliveira, isso pode ser uma consequência da cultura que vai contra todos os discursos e trabalhos que estão sendo feitos em relação à independência financeira no longo prazo. “É um desafio persistente que precisa ser cada vez mais incentivado. É importante entender por que é necessário investir e transformar em um hábito”, pontua.

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