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Comportamento

As patroas do day trade: como elas descobriram o mercado de ações

Conheça a história das mulheres que mudaram a vida por meio da modalidade mais arriscada de negociação

As patroas do day trade: como elas descobriram o mercado de ações
Renata Furtado se tornou day trader para conquistar liberdade financeira. Foto: Arquivo Pessoal
  • Minoria entre day traders, as mulheres vêm ganhando destaque nesse tipo de operação por saberem equalizar melhor os riscos das operações
  • Renata Furtado, Vera Rocha e Luciana Ortega decidiram ingressar no mercado financeiro já na modalidade de maior risco e no período de maior turbulência, com a crise do coronavírus
  • Carol Paiffer, CEO da empresa de traders Atom, afirma que o day trade pode ser um grande aliado da mulher quando o assunto é liberdade financeira

Renata Furtado nunca teve medo de assumir riscos. Filha de um casal formado por concursados, a jovem carioca decidiu traçar um caminho diferente. Entre críticas e conselhos pouco bem-vindos, ela se formou em educação física e se tornou personal trainer.

“O que eu mais ouvi na minha vida é que educação física não dava dinheiro e que eu iria morrer de fome. Na minha opinião, só se ganha dinheiro fazendo o que a gente gosta”, afirma Furtado.

De fato, após o término da graduação o que menos faltou foi trabalho. A carreira como profissional de educação física rendeu frutos, mas, à medida que os anos avançavam, a preocupação com a aposentadoria se tornou mais latente. Em meados de 2017, aos 40 anos, ela diz que se viu em um dilema.

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“Na minha profissão existe aquela história: um dia o profissional vai ficar mais velho e não vai poder trabalhar tanto quanto antes. E eu via os anos passando e pensava que o único jeito de eu me aposentar seria fazendo concurso, como a minha família”, afirma Furtado. “Confesso que essa ideia me desesperava, porque é um jeito de trabalhar que eu não gostava e não me via fazendo.”

Foi nesse momento que ela descobriu o mercado financeiro. Navegando pela internet, achou uma vídeo aula sobre day trade – uma das modalidades mais arriscadas de negociação de ativos, em que a compra e venda são feitas em um único dia.

No vídeo, o responsável por ensinar as estratégias era João Homem, criador do Special Squad Traders (SST). O SST, como é chamado, é um grupo de educação financeira que reúne traders iniciantes e profissionais e oferece cursos e ferramentas para ajudar o investidor.

Pouco mais de três anos depois do primeiro contato com o day trade, Furtado já investe cerca de 45% da sua renda em negociações de curtíssimo prazo e estima rentabilizar o capital em 35% a 40% ao mês. A carioca opera mini-índices no Brasil e no exterior, minidólar, além de investir em criptomoedas como bitcoin e ethereum.

Furtado também diversificou bastante o patrimônio nesse período. Metade do seu capital é dolarizado, com cerca de 40% aplicado em renda fixa e 60% em renda variável. Todas as manhãs, a investidora reserva algumas horas para operar no mercado e afirma ter conquistado a liberdade financeira que sempre sonhou.

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“Entendi que eu posso fazer a minha aposentadoria e ter a minha independência financeira. Olhar para o mercado financeiro foi descobrir a liberdade que eu sempre quis”, diz Furtado

Os riscos, entretanto, não são desprezíveis. Mini-índices e minidólar são ‘minicontratos’ de compra e venda negociados no Mercado Futuro, que buscam travar os preços de índices e dólar em determinado prazo. Geralmente, traders operam alavancados, ou seja, utilizando um dinheiro ‘emprestado’ pela corretora.

A alavancagem pode potencializar os ganhos, mas também multiplicar as perdas caso o mercado não siga na direção esperada. Por isso, muito estudo e utilizar recursos que minimizem os riscos, como o conhecido ‘stop loss’, são essenciais. Nesse quesito, Furtado acredita que as mulheres traders levam vantagem.

“Os homens se arriscam bastante. Essa promessa de dinheiro fácil mexe muito mais com a cabeça deles. As mulheres entram mais comprometidas com o que estão fazendo. Acabamos operando com mais cautela e disciplina”, afirma Furtado. “A nossa curva [de ganhos] certamente sobe bem mais do que a dos homens.”

Investidoras de risco

Furtado faz parte de uma ‘minoria dentro de outra minoria’ no mercado financeiro: a de investidoras que realizam operações de risco. Segundo a B3, até 25 de fevereiro as mulheres representavam 23,54% dos 5 milhões de CPFs na Bolsa. Entretanto, elas apresentam perfil mais conservador em relação aos homens.

De acordo com uma pesquisa da fintech de saúde financeira Onze, que ouviu 19,4 mil pessoas entre outubro de 2021 a janeiro de 2022, apenas 8,2% das investidoras afirmam investir em ações, contra 19,3% dos homens.

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O cenário se repete em um levantamento feito com dados do canal do SST no Youtube. Em fevereiro, as mulheres foram responsáveis por apenas 3,2% dos 198,4 mil views. A maior parcela dos interessados por trade foram homens (96,9%), com idades entre 25 e 34 anos (43%).

Desde a criação do canal, em 2016, até hoje, dos 14,5 milhões de espectadores que já assistiram a algum vídeo sobre day trade na plataforma, apenas 5,6% eram mulheres.

“Hoje já temos uma taxa [de mulheres] muito maior do que no passado e continuamos trabalhando para criar um ambiente mais favorável para elas”, diz Eduardo Garufi, sócio-fundador do SST. O empresário também ressalta a falta de participação histórica das mulheres nas finanças. “Antigamente, quando o mercado negociava em pregão viva voz, por exemplo, havia ainda menos investidoras. Era um ambiente bastante masculino, mas hoje elas vêm crescendo cada vez mais”, diz.

Nessa pequena parcela, estão inclusas investidoras como Vera Lúcia Rocha, de 60 anos. Casada, funcionária pública aposentada e com dois filhos criados, a day trader se diferencia muito do público majoritário do SST, grupo do qual faz parte.

O primeiro contato com o mercado financeiro veio em meados de 2015, antes da aposentadoria. Por meio do irmão, Rocha foi apresentada à modalidade chamada ‘swing trade’. Esse tipo de negociação também é de curto prazo mas, diferente do day trade, leva mais do que um dia para ser finalizada.

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“Quando eu comecei, a minha ideia era estudar swing trade, mas era muito difícil achar conteúdo. Passei a estudar day trade, mas com foco em aplicar em operações com prazo maior que um dia, até porque eu trabalhava e tinha um horário a cumprir”, explica Rocha. “A minha intenção nunca foi largar o meu trabalho, mas complementar a renda. Eu buscava algo que entregasse um retorno maior que a poupança.”

Logo no início, Rocha passou a seguir as recomendações de analistas de investimentos. “Tem que estudar muito. Se você não souber absolutamente nada, irá jogar na loteria com o trade”, afirma. “O que eu aconselho é começar analisando os gráficos e seguir as recomendações de analistas sem fazer o trade. Com o tempo e com o estudo, você ganha confiança para operar sozinho.”

Quando a aposentadoria veio, em meados de 2018, a investidora teve mais tempo para negociar e passou a fazer day trade. Ela investe cerca de 10% da sua renda mensal nas negociações de curtíssimo prazo (3% no exterior e 10% no Brasil) e opera principalmente CFDs (Contrato por Diferença, em português) – instrumentos financeiros que refletem as oscilações de diferentes tipos de ativos, como moedas e ações americanas.

Enquanto a ex-funcionária pública avançou nas operações intraday, o irmão, que a apresentou aos investimentos, desistiu da modalidade por conta do risco. “A perda existe e é uma constante na vida de quem faz trade. Você tem momentos de perda e momentos de ganho. Ainda assim, os retornos são maiores do que eu teria em uma renda fixa”, afirma Rocha. “Eu ainda estudo e testo muita coisa, não sou uma profissional do mercado. Sou uma eterna estudante.”

Para as mulheres que estão iniciando, a aposentada recomenda cuidado, resiliência e muito estudo. Principalmente pelo histórico recente de acontecimentos que balançaram o mercado, como a crise do coronavírus e a guerra entre Rússia e Ucrânia. “A mulher é muito mais protetiva do que o homem. Ou seja, existe uma tendência de não entrar de cabeça nas coisas logo de cara. A minha dica é não acreditar nas coisas da internet, de ganho fácil, o marketing hoje anda muito agressivo. Não é fácil ganhar na Bolsa, pelo contrário”, ressalta. “Precisa ter uma resistência à frustração.”

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A mesma experiência é compartilhada por Luciana Ortega, aluna da Atom S/A, maior empresa de traders da América Latina. A fisioterapeuta de 40 anos começou a investir por conta da pandemia do coronavírus, que paralisou a economia. O day trade chamou a atenção pela rapidez nos resultados em um momento crítico no País.

Depois de quatro meses de estudo, a paulista recebe hoje, em média, de R$ 600 a R$ 700 por mês com as operações e separa 5% da renda para o day trade. “Não opero todos os dias e sempre quando opero é por pouquíssimo tempo”, explica Ortega. “Minha dica é: comece, mas estude. Dinheiro não aguenta desaforo.”

Melhores resultados

Apesar do número ainda pequeno de day traders mulheres no Brasil, a perspectiva é de crescimento. É isso que observa Carol Paiffer, CEO da Atom S/A. Segundo a executiva, referência neste segmento, nos novos cursos de trade lançados pela Atom, pelo menos 30% das turmas são compostas por alunas.

“O mercado financeiro é novo para o universo feminino. Por muito tempo, as mulheres se mantiveram afastadas, achando que era arriscado ou que não era para elas. Conforme foram colhendo mais informação, entendendo que o mercado é, sim, para elas, o número de investidoras foi aumentando”, afirma Paiffer.

A característica feminina de ser um pouco mais conservadora, segundo os dados da B3, também é um fator que pode tornar mais difícil para uma mulher sofrer grandes perdas com os investimentos. “As mulheres que se permitem aprender o day trade acabam se destacando muito”, explica Paiffer. “Elas levam essa característica mais conservadora, mais pé no chão de respeitar o gerenciamento risco, para o dia a dia do mercado. Consequentemente, acabam tendo mais sucesso.”

O day trade, segundo Paiffer, pode ser um grande aliado das mulheres na busca por liberdade, seja ela financeira, de horário ou geográfica. A executiva começou a operar na Bolsa aos 17 anos com o objetivo ousado de se ‘aposentar’ aos 25 anos.

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“Todo mundo me fala que deu errado, porque hoje eu tenho 34 anos. Só que deu certo. O que eu queria era ter dinheiro suficiente para que se eu quisesse me casar, ter 10 filhos e morar no Havaí, eu pudesse fazer isso. Para a mulher é libertador”, diz Paiffer. “A mulher que pretende ter mais tempo para a sua família não tem como desprezar esse mercado que é altamente meritocrático. O que vai diferenciar é quanto você estuda e se dedica.”

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