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Comportamento

Enjoei é a empresa com mais mulheres no conselho. BMG e Magalu vêm logo a seguir

Estudo revela que só existe uma empresa na Bolsa com mais mulheres do que homens dentro do Conselho

Enjoei é a empresa com mais mulheres no conselho. BMG e Magalu vêm logo a seguir
Francine Mendes, educadora financeira da Genial Investimentos. Foto: Ana Correa
  • Levantamento feito pela Teva Indices, em parceria com a Easynvest, mostra que há apenas uma empresa em que o Conselho de Administração é majoritariamente formado por mulheres: a novata da Bolsa Enjoei
  • No total, foram analisados 1.504 assentos de conselho, dos quais apenas 177 são ocupados por mulheres (11,8%)
  • Questões culturais explicam a baixa presença feminina no mercado financeiro

Nesta segunda-feira (8), Dia Internacional da Mulher, um dado alarmante sobre o mercado financeiro é revelado: só existe uma empresa na Bolsa de Valores brasileira em que o número de mulheres dentro do Conselho de Administração é maior do que o de homens, a Enjoei (ENJU3), uma novata na B3 que abriu seu capital em novembro de 2020. Das cinco cadeiras de conselheiros na plataforma de brechós on-line, três (60%) são ocupadas pelas profissionais Ana Luiza Mclaren, Aline de Lucca e Helena Turola.

Em segundo lugar entre as maiores presenças femininas dentro dos conselhos, aparece o banco BMG (BMGB4), com 50% de participação. Na sequência, com 43% das cadeiras ocupadas por mulheres, está a rede varejista Magazine Luiza (MGLU3). A representatividade das outras empresas é igual ou inferior a 40%. Os dados, que consideraram as companhias com valor de mercado superior a R$ 300 milhões, fazem parte de um levantamento realizado pela Teva Indices, em parceria com a Easynvest, e enviado em primeira mão ao E-Investidor.

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Além do volume de capitalização, superior a R$ 300 milhões, foram selecionados para o estudo as empresas listadas que enviaram reportes de governança corporativa nos últimos 24 meses, com ao menos 1% de suas ações em circulação e volume de negociação em fevereiro de 2021 superior a R$ 20 milhões. Das 354 companhias de capital aberto, 204 atenderam aos critérios utilizados. No total, foram analisados 1.504 assentos de conselho, dos quais apenas 177 são ocupados por mulheres (11,8%).

“A ideia inicial do estudo era elencar 10 empresas grandes cujos CEOs eram mulheres, mas não conseguimos encontrar essas companhias para formar a lista”, afirma Iris Sayuri Kazimoto, gerente de produto da Easynvest. “Chegamos a fazer um ranking com as 10+, mas grande parte eram organizações muito pequenas, quase sem capitalização, foi um choque. Então ampliamos nosso espectro para os Conselhos.”

Conselho de Administração é o órgão responsável pelo direcionamento estratégico e tomadas de decisão de uma organização. “É extremamente importante a questão da diversidade. Quando falamos de investimentos, empresas com boa governança, que seguem os preceitos ASG (boas práticas sociais, ambientais e de governança nos negócios), costumam ter resultados melhores. É essencial para o mercado começar a dar visibilidade para companhias que promovem igualdade de gênero”, diz Kazimoto.

Essa também é a visão de Fernanda Felici, coordenadora sênior de recursos humanos da Enjoei. A empresa, que realizou IPO em novembro do ano passado, possui 200 funcionários – destes, 99 são mulheres. Os cargos de liderança também são cuidadosamente equilibrados, de modo que nem um lado, nem o outro, fique mal representado.

“O primeiro aspecto é que foi uma mulher que fundou a companhia. Por mais que hoje o CEO seja uma figura masculina, temos a atuação dela muito presente”, afirma Felici. O fato de a empresa ter equilíbrio e lideranças diversas também contribuiria para melhoria do ambiente de trabalho – parte do ponto ‘S’, da sigla ASG. “Ser mulher na Enjoei é fluído, não nos sentimos discriminadas e não vemos falas de assédio, já que a igualdade vem desde a fundação. Do ponto de vista de remuneração, também nunca tivemos diferenciação entre mulheres e homens. Achamos a igualdade fundamental para o sucesso da companhia”, diz.

Desiguais desde a infância

Mesmo fora do ambiente profissional, a presença feminina no mercado financeiro é bem menor em relação à participação dos homens. Até dezembro do ano passado, a B3 tinha apenas 847.269 mil investidoras. O número representa apenas 25,97% dos 3,2 milhões de CPFs da Bolsa. Quando é feito o recorte por faixa etárias, as mulheres são minoria inclusive entre os investidores de até 15 anos. No total, são 6.373 jovens mulheres na B3, de um total de 14.720 contas abertas nesta categoria de idade.

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“É uma questão muito cultural porque as mulheres são ensinadas desde cedo que precisam ir para áreas de humanas. A mulher é tida como esses seres frágeis e que precisam se resgatadas por um homem, como nos contos da Disney”, afirma Francine Mendes, economista e educadora financeira da Genial Investimentos. “Nossas meninas crescem com aquela mensagem de que elas não precisam cuidar tanto assim da carreira, porque sempre vai ter alguém que lucre por elas.”

Segundo Mendes, é preciso mudar as estruturas e trazer o universo de exatas para o meio feminino. “Há pouco tempo, por exemplo, os pais depositavam até sete/ oito vezes mais dinheiro nas contas abertas na B3 para meninos, do que para meninas. Temos que questionar: por que não queremos que as nossas meninas lucrem desde cedo.”

De fato, em janeiro de 2020 eram 6.617 contas abertas para pessoas de até 15 anos. Dessas, 3023 eram de meninas, enquanto 3594 eram para meninos. Contudo, o capital disponível para elas era de R$ 180 milhões, enquanto para eles chegava a R$ 1,56 bilhão – valor quase 9 vezes maior.

Cerca de 12 meses depois, dentro de um contexto de pandemia de covid-19, esse panorama foi realinhado: os recursos em contas de meninos diminuíram 79,4% e agora somam R$ 320 milhões. Por outro lado, o capital na contas de meninas saltou 50%, para R$ 270 milhões.

“A mulher tem que lutar pelos seus espaços. Aliás, não falo nem ‘lutar’, mas ‘roubar’ esses espaços, que ainda estão tomados hoje”, diz Mendes. “Muitas vezes a mulher acha que não sabe investir e delega para o homem, que também nem sabe o que está fazendo.”

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Para Sandra Blanco, estrategista-chefe da Órama Investimentos e autora do livro ‘A Bolsa para Mulheres’, o mercado financeiro já foi mais ‘arrogante’, mas que hoje as oportunidades estão se abrindo para as profissionais femininas, principalmente com o debate em torno do ASG.

“Comecei lá atrás, quando o mercado era um grupo mais restrito de homens, mas tive jogo de cintura para me manter, bati o pé quando precisei e me questionei porque é um ritmo de trabalho bem puxado. Atualmente é mais fácil, temos mais mulheres em destaque”, afirma.

No final, é realmente por meio da educação financeira e, principalmente, da quebra de inseguranças que as próprias mulheres têm em relação a elas mesmas, que o mercado financeiro vai se tornar mais igualitário. “Quando a mulher assume as rédeas da vida financeira, ela consegue rendimento médio anual cerca de 0,4% maior do que o conseguido pelos investidores homens, segundo dados da Fidelity Investments. O que falta para as mulheres é autoconhecimento, saber onde quer chegar e ter independência emocional, entender que não precisam de uma segunda pessoa para isso.”

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