O que este conteúdo fez por você?
- A expectativa é que o julgamento dure quatro ou cinco semanas em um tribunal em Manhattan
- As ações da Nikola caíram drasticamente após denúncias de que as afirmações de Milton sobre a tecnologia da empresa eram falsas
- O caso também é visto como um exemplo dos perigos de se investir em empresas de aquisição de propósito específico
Começou na semana passada o julgamento do fundador da Nikola Motor, fabricante de picapes e caminhões elétricos, por acusações de fraude. O caso é visto como um alerta sobre os riscos de investir em empresas que ainda não estão gerando vendas ou entregando produtos.
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O réu, Trevor Milton, enfrenta acusações federais de trapaça e fraude de títulos após denúncias de que ele exagerou a respeito da tecnologia da empresa, levando a perdas devastadoras para aqueles que compraram ações da Nikola antes dela sucumbir.
A expectativa é que o julgamento dure quatro ou cinco semanas em um tribunal em Manhattan, onde a escolha do júri começou na segunda-feira (12). Milton declarou-se inocente. Ele está sendo representado por Marc Mukasey, o mesmo advogado da Trump Organization e de Edward Gallagher, integrante de uma força especial da marinha americana que foi acusado de crimes de guerra no Iraque.
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Durante um breve período de 2020, a Nikola foi avaliada com um valor superior ao da Ford Motor no mercado de ações, devido ao entusiasmo dos investidores com o potencial da novata de se tornar a Tesla da indústria de caminhões.
As ações da Nikola caíram drasticamente após denúncias de que as afirmações de Milton sobre a tecnologia da empresa eram falsas, incluindo a produção de um vídeo no qual um caminhão rolava por uma rampa para fazer parecer que a Nikola tinha um protótipo funcional.
Pouco tempo depois, Milton pediu demissão e a Nikola continuou a operar. Ela começou a produzir um caminhão movido a bateria conhecido como Tre em uma fábrica no Arizona e entregou cerca de 50 deles às distribuidoras, disse um porta-voz. A Nikola informou um prejuízo líquido de US$ 173 milhões no segundo trimestre, com vendas de US$ 18 milhões.
No ano passado, a empresa concordou em pagar uma multa de US$ 125 milhões para encerrar uma investigação de fraude pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (Sec, na sigla em inglês). A Nikola não admitiu irregularidades como parte do acordo.
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As ações da empresa eram negociadas recentemente por cerca de US$ 5,40; uma baixa em relação ao valor recorde de quase US$ 66 alcançado em junho de 2020.
O caso também é visto como um exemplo dos perigos de se investir em empresas de aquisição de propósito específico (SPACs), empresas listadas na bolsa de valores antes mesmo de terem quaisquer ativos. A Nikola abriu o capital em 2020, fundindo-se com uma SPAC chamada Vectoiq Acquisition, e evitando parte do escrutínio regulatório habitual aplicado às ofertas públicas iniciais.
Outrora uma febre em Wall Street, as SPACs perderam grande parte de seu brilho depois que muitas apresentaram um desempenho ruim.
Com exceção da Tesla, muitos fabricantes de veículos elétricos tiveram problemas para aumentar a produção ou conquistar uma fatia significativa do mercado. As chances de sucesso deles estão diminuindo conforme as montadoras tradicionais começam, com atraso, a incluir modelos elétricos entre seus produtos.
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No caso da Nikola, os promotores federais alegam que Milton promoveu as ações em entrevistas e nas redes sociais em uma tentativa deliberada de atrair investidores menos experientes e que investem pequenas quantias.
“Precisamos ter certeza de que temos investidores de varejo do nosso lado”, disse ele em um e-mail para um integrante do conselho da Nikola um dia antes de a empresa anunciar que se fundiria com a VectoIQ, de acordo com a denúncia contra ele.
Milton fez inúmeras alegações falsas, segundo a acusação, afirmando que a Nikola tinha um caminhão funcionando perfeitamente em 2016, quando, na verdade, o veículo não tinha câmbio ou motor. A acusação também diz que a Nikola postou vídeos on-line que pareciam mostrar um protótipo se deslocando por uma estrada, mas ele não tinha bateria e estava descendo uma ladeira.
Além disso, de acordo com a acusação, Milton afirmou em 2020 que a Nikola estava desenvolvendo uma picape, a Badger, “do zero” usando sua própria tecnologia. Na realidade, segundo o governo, a tecnologia veio de terceiros e um protótipo da Badger foi construído usando peças de picapes F-150, da Ford.
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Milton afirmou posteriormente em uma entrevista para um podcast que a Badger superaria a F-150, dizem os promotores.
Em um determinado momento, ele tuitou que a Badger teria uma torneira com água potável abastecida por resíduos de água de suas células de combustível de hidrogênio. Mas Milton não conversou sobre esse recurso com seus engenheiros e depois pesquisou na internet para saber se era viável, de acordo com a acusação. (Aparentemente não era.)
Além de fabricar caminhões, a Nikola planejava construir uma rede de postos de abastecimento de hidrogênio para caminhões movidos a células do combustível. Milton afirmou inúmeras vezes que a Nikola já havia construído postos que poderiam produzir o próprio hidrogênio a baixo custo, segundo a acusação.
“A Nikola nunca obteve uma licença, muito menos construiu um posto de produção de hidrogênio, assim como também não tinha produzido qualquer hidrogênio”, diz a acusação.
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Aqueles que investiram pequenas quantias sofreram as consequências do prejuízo quando as ações da Nikola caíram mais de 40% em setembro de 2020, depois que Milton deixou a empresa, de acordo com a acusação. Alguns investidores institucionais, que “tiveram acesso mais completo às informações dos produtos e da tecnologia da Nikola”, abandonaram o barco mais cedo, dizem os promotores. Esses investidores “conseguiram vender suas ações com um lucro considerável”.
Tradução de Romina Cácia