- O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, teve variação de 83,31% entre 2012 e 2022. Na prática, porém, a alta inflacionária sentida pelo cidadão pode ser maior
- Há 10 anos, com R$ 100 era possível abastecer o carro com 36 litros de gasolina ou comprar 2,4 botijões de gás de 13 quilos. Agora, com o mesmo valor, é possível pagar apenas 13 litros de combustível ou 0,8 botijão
Quem entrasse com R$ 100 no bolso em um açougue em 2012 conseguia sair com 6,6 quilos de carne bovina na sacola. Dez anos depois, o mesmo valor compra apenas 2,3 quilos, uma quantidade quase três vezes menor. Esse aumento de preço têm um nome que muitos brasileiros conhecem e ainda temem: inflação.
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“A inflação é mais do que um índice geral de preços, é também um índice de degradação do salário”, explica Itamir Caciatori Junior, doutor em Administração e professor de Finanças da Business School da Universidade Positivo (UP).
Até a criação do Plano Real, em 1994, o Brasil convivia com um cenário de descontrole, com índice inflacionário mensal de 40% ao mês. O aumento de preço constante foi apelidado de “dragão da inflação”. A nova moeda surgiu para colocar a alta de preço dentro de níveis aceitáveis.
Inflação versus poder de compra
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de abril de 2012 a março de 2022 foi de 83,31%, enquanto o salário mínimo saiu de R$ 622 para R$ 1.212, uma variação de 94,85%.
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Analisando apenas esses números, pode parecer que a situação melhorou para os consumidores no período; no entanto, a inflação é sentida de forma diferente pelo trabalhador, segundo o professor: “Os reajustes salariais são, via de regra, anuais, enquanto os preços dos bens sobem em uma frequência maior”. Dessa forma, a renda sobe depois que o aumento de preço já ocorreu.
Além disso, a renda do trabalhador medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que também considera o mercado informal responsável por 40% da população ocupada, encontra-se no menor patamar desde 2012. O rendimento médio real do brasileiro foi de R$ 2.447 em 2021, frente aos R$ 2.516 de dez anos atrás.
Aumento de preço em 10 anos
Os principais produtos que impactam o aumento da inflação são gasolina, botijão de gás e energia elétrica, que geram efeito cascata em toda a cadeia produtiva da economia.
Em 2012, o litro da gasolina custava R$ 2,74 e o botijão de gás de 13 quilos, R$ 41,38. Hoje, esses produtos custam R$ 7,53 e R$ 113,63, respectivamente, em média. Isso significa que houve aumento de preço de quase três vezes em 10 anos.
Uma lista de compras no supermercado pode ilustrar como a inflação atingiu diretamente o bolso dos consumidores nos últimos dez anos. A tabela a seguir mostra o que era possível comprar em 2012 e 2022 com R$ 100, somando todos os produtos e desconsiderando a correção inflacionária.
Item | 2012 | 2022 |
Carne bovina | 1 kg | 300 g |
Frango | 3 kg | 2 kg |
Leite | 6 litros | 2 litros |
Feijão | 2 kg | 1 kg |
Arroz | 5 kg | 2 kg |
Farinha | 5 kg | 2 kg |
Batata | 1,5 kg | 1 kg |
Tomate | 1 kg | 400 g |
Pão francês | 1 kg | 500 g |
Café | 1 kg | 500 g |
Açúcar | 1 kg | 240 g |
Alguns itens têm grande variação sazonal, como a batata e o tomate; no entanto, a maioria dos bens relacionados tiveram aumentos de preços e dificilmente ficarão mais baixos, considera Caciatori Junior. Itens como óleo e carne bovina, que são de consumo cotidiano, sofreram aumentos acima do salário mínimo e da inflação do período.
Item | 2012 | 2022 | Variação |
Batata (kg) | R$ 1,51 | R$ 7,18 | 374,02% |
Óleo (900 ml) | R$ 3,13 | R$ 9,62 | 207,39% |
Carne bovina (kg) | R$ 15,05 | R$ 43,68 | 190,35% |
Leite (litro) | R$ 1,76 | R$ 4,32 | 145,97% |
Açúcar (kg) | R$ 1,70 | R$ 4,18 | 145,81% |
Frango (kg) | R$ 4,68 | R$ 10,55 | 125,25% |
Arroz (kg) | R$ 2 | R$ 4,27 | 113,66% |
Farinha (kg) | R$ 2 | R$ 4,20 | 110,16% |
Feijão (kg) | R$ 4,54 | R$ 8,46 | 86,32% |
Pão francês (kg) | R$ 8,75 | R$ 16,25 | 85,87% |
Tomate (kg) | R$ 5,49 | R$ 9,20 | 67,58% |
Café (kg) | R$ 13,54 | R$ 17,63 | 30,18% |
O dragão da inflação vai retornar?
Nos últimos meses, o IPCA tem apresentado aceleração assustadora. Em março, por exemplo, a taxa avançou 1,62%, na maior variação para o mês desde a estabilização da economia brasileira, e teve alta de 11,3% acumulada nos últimos 12 meses.
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Contudo, o dragão inflacionário não deve retornar — pelo menos não com a força de antes. “Em comparação com os anos 1980, há uma grande diferença na política monetária”, comenta Caciatori Junior. O Brasil trabalha com o regime de metas de inflação, um compromisso estabelecido pelo Banco Central para dar estabilidade à economia.