Comportamento

Três meses de Pix: o que deu certo e o que ainda não ‘colou’

Ativo há pouco tempo, o novo serviço do Banco Central gerou de desconfiança, memes e milhões de adeptos

  • Em três meses, as transações com o Pix já superam as feitas com TED e DOC somadas
  • No início, a novidade gerou desconfiança, mas o Pix alcançou mais de 65 milhões de usuários
  • O serviço já foi utilizado, inclusive, como ‘aplicativo’ de paquera

Foi no último 16 de novembro que o Banco Central (BACEN) do Brasil inaugurou o Pix, um sistema de transferências instantâneo e gratuito para pessoas físicas que permite enviar e receber dinheiro em questão de segundos, 24 horas por dia, sete dias por semana. Com pouco tempo de funcionamento, o serviço atingiu metas importantes. Outros objetivos, no entanto, ainda estão caminhando.

Para efeito de comparação, cada transferência feita por meio do DOC (Documento de Ordem de Crédito) ou TED (Transferência Eletrônica Disponível) pode custar até R$ 11 ao cliente, dependendo da instituição financeira. Fora o alto valor, essas modalidades possuem restrições quanto aos dias e horários em que é possível enviar e receber recursos. O Pix veio para acabar com essas limitações – mas tanta facilidade, em um primeiro momento, gerou desconfiança.

Em três meses de funcionamento, os benefícios da nova tecnologia se confirmaram e a maior parte das desconfianças se dissipou. Segundo o relatório do BACEN divulgado no fim de janeiro, já são 159.389.550 milhões de chaves cadastradas (dados utilizados para realizar os envios de dinheiro; um mesmo usuário pode cadastrar mais de uma chave), um aumento de 67% em relação ao registrado no final de novembro. As de pessoas físicas somam 152.478.535 milhões.

No total, são 65.496.767 milhões de usuários cadastrados no Pix – desses, 61,5 milhões são pessoas físicas. Se antes o serviço era visto com certo ceticismo, hoje já faz parte do dia a dia de muitos brasileiros, inclusive na hora da paquera. Houve quem utilizasse a transferência instantânea para mandar cantadas para os ‘crushs’, já que é possível enviar uma mensagem texto para justificar as transações.

Veja o que deu certo e o que ainda não funcionou nesses trimestre de Pix:

Deu certo

Pix levou a TED a nocaute

Antes mesmo do início das operações, já havia a especulação sobre a possível morte da TED com a chegada do Pix. Segundo informações divulgadas pelo Banco Central na 12ª Reunião Plenária do Fórum Pix, o número de transações com o novo serviço instantâneo em janeiro, de 200.246.028 milhões, já ultrapassou as transferências feitas com a TED e o DOC somadas.

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“Detonou a TED. Não era o objetivo, ninguém tem raiva da Transferência Eletrônica Disponível, mas a adoção do Pix foi brutal”, explica Carlos Netto, CEO da Matera. “Não imaginávamos que a TED ia desaparecer nessa velocidade. E já vemos, inclusive, empresas utilizando o Pix para pagar câmbio.”

Segundo Netto, apesar do maior número de pessoas físicas utilizando o serviço, a adoção por empresas não ficou para trás e a prova é o tíquete médio das transações. Na última sexta-feira (12), por exemplo, o valor médio das transferências ficou em R$ 880,24. “É um valor elevado, não é só as pessoas físicas enviando R$ 1 e pedindo desculpa para os namorados. Tem gente transacionando grandes quantias, que são empresas”, diz.

Aumento da concorrência

Um dos grandes objetivos que o Pix alcançou foi elevar a concorrência no sistema financeiro. Agora, por meio dos pagamentos instantâneos, pequenas fintechs e bancos tradicionais têm mais condições de competir, já que oferecem o mesmo serviço eficiente e gratuito. “Temos mais de 50 fintechs que não tinham nem número de banco e agora oferecem Pix, uma revolução em concorrência”, explica Netto.

Porém…

Varejo físico e E-commerce resistem

Pagar em estabelecimentos comerciais com o Pix ainda não é uma realidade, apesar de ser uma das grandes promessas do BACEN. De acordo com Netto, os varejistas não tiveram tempo de se adaptar à nova tecnologia, considerando que o lançamento foi feito próximo a datas importantes para o varejo, como Natal e Ano Novo.

“Para funcionar tem que ter as duas pontas: pessoas físicas utilizando o Pix e a disponibilização nos pontos de venda. A primeira metade já tem, a população usa. Falta a segunda metade”, afirma o especialista.

Os pagamentos em comércios poderão ser feitos via disponibilização de QR Code, que deverá ser escaneado via celular pelos consumidores. Apesar de não ser gratuito para as pessoas jurídicas, as taxas do Pix serão bem menores para os comerciantes, já que o serviço custa menos ao sistema financeiro.

É importante lembrar que as condições para oferecer o serviço nos estabelecimentos devem ser verificadas junto ao banco que o empreendedor tem conta e a empresa responsável pelas maquininhas. Já em relação ao e-commerce, a dificuldade em oferecer viria de alguns entraves.

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“Nesse ponto a baixa adesão me surpreendeu, já que vários dos grandes e-commerces não adotaram. Mas, conversando com essas companhias, um dos motivos apontados é a falta do ‘Pix Link’, um mecanismo em que o usuário poderia fazer compras online com o Pix apenas por meio da digital, o que encurtaria a experiência de compra”, afirma Netto. “Mas esse Pix Link foi adiado, e ficou o Pix copia e cola no lugar.”

Com o Pix copia e cola, o usuário precisa copiar um número aleatório, logar no aplicativo bancário, colar e pagar. “Os ecommerces ficaram com medo que essa burocracia toda levasse à desistência da compra. O varejo online tem muita compra por impulso”, afirma Netto.

Na visão de Fernanda Garibaldi, head da área de Fintech e Meios de Pagamento do Felsberg Advogados, outra novidade que deve facilitar a adoção entre as varejistas é o Pix-Saque. “Vai ter um impacto também nos caixas eletrônicos, já que vai ser possível sacar dinheiro no varejo. Mais uma funcionalidade que o lojista vai poder oferecer.”

Novas funcionalidades

Além do Pix-Link e do Pix-Saque, outras funcionalidades serão disponibilizadas futuramente pelo Banco Central:

  • Pix Conta-Salário – Hoje, o Pix só está disponível para contas corrente, poupança e pré-pagas. Futuramente, entretanto, será possível fazer um Pix por meio de contas-salário.
  • Pix por aproximação – De acordo com o BACEN, a função de pagar por aproximação deve ficar disponível ainda em 2021
  • Pix Garantido – Opção para realização de compras parceladas
  • Pix Débito Automático – Para pagar despesas fixas com o Pix automaticamente

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