- O Catar é um País minúsculo em território, mas com as maiores reservas de petróleo do mundo.
- O poder é concentrado na família Al-Hani desde o século 19, que governa sob as regras mais radicais do islamismo.
- A ditadura investiu R$ 1 trilhão para tentar mudar a imagem associada à violação de direitos humanos.
O Catar, uma pequena península de 11 mil m2, área equivalente a metade do estado de Sergipe, está se tornando um caso clássico de sportwashing. O País possui as maiores reservas de petróleo do mundo, que foram utilizadas pelo governo sediado em Doha para investir US$ 229 bilhões (R$ 1,22 trilhão) na Copa 2022, o evento esportivo mais caro da história mundial.
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Nos jogos Olímpicos de Tóquio, realizados no ano passado, o Japão investiu US$ 28 bilhões. Em 2018, a Rússia investiu US$ 11,6 bilhões. Em 2014, o Brasil aportou US$ 15 bilhões, um volume recorde para a Copa do Mundo na época. A marca anterior pertencia a Coreia do Sul e Japão, que gastaram US$ 7 bilhões na Copa de 2002, quando a seleção brasileira foi pentacampeã.
O que é sportwashing?
O sportwashing é uma estratégia de marketing que utiliza o esporte para reposicionar a imagem de uma marca, produto ou país. “A Alemanha Nazista usou as Olimpíadas de 1936 para popularizar o regime de Hitler”, lembra Saulo Camelo, CEO e fundador da agência de marketing CMLO&CO.
A prática é comum de regimes autoritários e populistas. A ditadura militar na Argentina também usou a Copa do Mundo de 1978 com o mesmo objetivo. “A Copa do Mundo da Rússia também foi usada para querer mudar a visão do mundo sobre o País”, comenta Camelo. No entanto, a Guerra na Ucrânia desfez esse capital político em pouco tempo.
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Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, os atletas russos não puderam usar a bandeira do país, uma proibição inédita. O Comitê Olímpico Internacional (COI) quis evitar que Vladimir Putin usasse o esporte para melhorar a sua imagem na comunidade internacional.
Como o Catar investiu R$ 1 trilhão na Copa mais cara da história?
“O Catar quer mudar a sua imagem diante do mundo”, considera Marcelo Glauco, empresário especialista em Machine Learning pelo MIT e esportista. O País é governado pelo Emir al-Thani, que herdou o poder de seu pai em 2013. A dinastia familiar está no comando desde o século 19 e governa com uma ditadura islâmica financiada pelo petróleo.
Os investimentos do Catar foram muitos e diversificados, mas focados em propaganda. A principal empresa estatal, a petrolífera Qatar Energy, é uma das patrocinadoras master do evento esportivo, enquanto o governo contratou Morgan Freeman e pagou viagens para 1.600 influencers digitais.
A seguir, confira os principais investimentos do Catar:
Estádios
As arenas esportivas representam menos de 3% dos investimentos do Catar na Copa do Mundo 2022. O Catar construiu e renovou 8 estádios para sediarem os jogos da Copa 2022, arcando com o custo de US$ 6,5 bilhões, tendo cerca de US$ 800 milhões direcionado para que a construção ocorresse em cima da areia e para que todas as arenas esportivas fossem climatizadas.
Com uma média de 5 mil torcedores por jogo na liga nacional, o Catar quer evitar os elefantes brancos. O Estádio 974, que recebe Brasil x Suíça, foi construído especialmente para a competição e será desmontado após a realização de sete jogos. O equipamento inovador poderá ser remontado em qualquer lugar que houver um evento.
Metrô
O investimento mais pesado foi na infraestrutura do Catar. O País investiu US$ 36 bilhões em uma rede moderna de metrô, inaugurada em 2019, com 93 km de extensão ligando os novos aeroportos, hotéis e estádios.
Aeroporto
O Aeroporto Internacional de Hamad em Doha, considerado o melhor do mundo, foi aberto em 2014 e recebeu US$ 16 bilhões em investimentos para a Copa de 2022. A Qatar Airways, companhia aérea nacional, é uma das patrocinadoras oficiais do evento da Fifa.
Hotéis
A rede hoteleira foi ampliada de 30 mil quartos em março de 2022, metade reservada para a Fifa, para 100 mil em novembro. Ainda assim, está sendo insuficiente para abrigar 1 milhão de turistas estrangeiros, que se distribuem em tendas, navios e até países vizinhos.
O que o Qatar tem a ganhar com a Copa?
O Catar vive um difícil equilíbrio entre um regime religioso fechado e a abertura comercial para o mundo, devido ao petróleo. O comportamento no País é ditado pelo islamismo, única religião oficial. O consumo de álcool e a homossexualidade são considerados crimes. O direito das mulheres é restrito e a liberdade de expressão controlada.
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Cerca de 90% da sua população é composta por imigrantes e as denúncias de péssimas condições de trabalho e exploração de mão de obra escrava são comuns. Cerca de 6.500 trabalhadores morreram nas construções necessárias para a Copa 2022. Apesar disso, o País mantém relações comerciais internacionais para exportar petróleo e importar produtos básicos.
Mesmo que o sportwashing não funcione, o Catar já saiu ganhando com as estruturas construídas e ainda pode ganhar no futuro. “A visibilidade que uma Copa do Mundo dá a um país costuma aumentar seu turismo nos anos seguintes, levando dinheiro à região, gerando empregos e fomentando a economia”, comenta Glauco.
Fonte: The Guardian, ESPN, Estadão, Instituto Humanitas Unisinos