Comportamento

A verdade sobre os seus dados do WhatsApp

Por que houve uma reação negativa ao aplicativo esta semana e o que mudou, se é que alguma coisa mudou

WhatsApp e Facebook fazem parte de um mesmo grupo controlador (Foto: Sean Dong/The New York Times)
  • A verdade é que o Facebook já coleta muitas informações sobre o que as pessoas fazem no WhatsApp
  • As políticas do WhatsApp mudaram para refletir a possibilidade de realizar transações comerciais envolvendo a comunicação de diversas atividades entre aplicativos do Facebook
  • Isso significa que os serviços digitais, incluindo o WhatsApp, nos dão uma escolha desagradável: ou abrimos mão do controle sobre o que acontece com nossas informações pessoais, ou não usamos o serviço. E ponto final

(Shira Ovide/The New York Times) – Ocorreu uma reação negativa ao WhatsApp nos últimos dias, depois que o aplicativo postou o que parece ser uma revisão das políticas de privacidade. Deixe-me tentar esclarecer o que aconteceu.

Algumas pessoas acham que o aplicativo de mensagens agora obrigará os usuários a entregar seus dados pessoais ao Facebook, que é dono do WhatsApp.

Mas não é bem assim.

Preencha os campos abaixo para que um especialista da Ágora entre em contato com você e conheça mais de 800 opções de produtos disponíveis.

Ao fornecer meu dados, declaro estar de acordo com a Política de Privacidade do Estadão , com a Política de Privacidade da Ágora e com os Termos de Uso

Obrigado por se cadastrar! Você receberá um contato!

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

As políticas do WhatsApp mudaram apenas na superfície e não o suficiente para fornecer mais dados ao Facebook. A verdade é que o Facebook já coleta muitas informações sobre o que as pessoas fazem no WhatsApp.

A confusão resultou das comunicações confusas do Facebook, da desconfiança em relação à empresa e das leis de proteção de dados violadas nos Estados Unidos. No fechamento do mercado de sexta-feira (15), as ações do Facebook na Nasdaq encerraram o dia em alta de 2,33%, cotadas a US$ 251,36 – no ano, o ativo acumula desvalorização de 7,98%.

Aqui está o que mudou e o que não mudou no WhatsApp

O Facebook comprou o WhatsApp em 2014 e, desde 2016, quase todas as pessoas que usam o aplicativo de mensagens vêm compartilhando (geralmente sem saber) informações sobre suas atividades com o Facebook.

O Facebook sabe os números de telefone que estão sendo usados, quantas vezes o aplicativo é aberto, a resolução da tela do dispositivo, a localização estimada a partir da conexão com a internet e muito mais.

O Facebook usa essas informações para garantir que o WhatsApp funcione corretamente e para ajudar uma loja de calçados a mostrar um anúncio para você no Facebook.

O Facebook não consegue ver o conteúdo de mensagens de texto nem de chamadas telefônicas, porque as comunicações do WhatsApp são embaralhadas. O Facebook também afirma que não mantém registros de quem as pessoas estão contatando no WhatsApp, e os contatos do WhatsApp não são compartilhados com o Facebook.

O WhatsApp tem muitos aspectos positivos. É fácil de usar e as comunicações no aplicativo são seguras. Mas, sim, o WhatsApp é Facebook, uma empresa em que muitas pessoas deixaram de confiar.

Existem alternativas, como o Signal e o Telegram – os quais receberam uma onda de novos usuários recentemente. O grupo de privacidade digital Electronic Frontier Foundation diz que Signal e WhatsApp são boas escolhas para a maioria das pessoas.

O motivo pelo qual o WhatsApp recentemente notificou os usuários do aplicativo sobre a revisão das regras de privacidade é que o Facebook está tentando fazer do WhatsApp um lugar para conversar com uma companhia aérea sobre um voo perdido, avaliar bolsas para comprar e pagar pelas coisas.

As políticas do WhatsApp mudaram para refletir a possibilidade de realizar transações comerciais envolvendo a comunicação de diversas atividades entre aplicativos do Facebook – uma bolsa que você vê pelo WhatsApp pode aparecer mais tarde no seu aplicativo do Instagram, por exemplo.

Infelizmente, o WhatsApp fez um péssimo trabalho ao explicar o que havia de novo em sua política de privacidade. Eu e meu colega Kashmir Hill, um ás da privacidade de dados, precisamos pesquisar muito para entender.

Também quero abordar as razões mais profundas para os mal-entendidos.

Em primeiro lugar, é um resquício da velha história de o Facebook ser arrogante com nossos dados pessoais e imprudente com a maneira como eles são usados pela empresa e seus parceiros. Não é de admirar que as pessoas tenham presumido que o Facebook estava deixando as políticas do WhatsApp mais sangrentas.

Em segundo lugar, as pessoas passaram a entender que as políticas de privacidade são confusas e que realmente não temos o poder de fazer as empresas coletarem menos dados.

“Este é o problema com a natureza da lei de privacidade nos Estados Unidos”, disse Hill. “Contanto que eles digam o que estão fazendo numa política que você provavelmente não vai ler, eles podem fazer o que quiserem”.

Isso significa que os serviços digitais, incluindo o WhatsApp, nos dão uma escolha desagradável: ou abrimos mão do controle sobre o que acontece com nossas informações pessoais, ou não usamos o serviço. E ponto final.

Esclarecendo mais confusão com o WhatsApp

Outra crença falsa circulando sobre o WhatsApp – e, mais uma vez, isso é culpa do WhatsApp, não sua – é que o aplicativo acaba de remover uma opção para as pessoas se recusarem a compartilhar seus dados do WhatsApp com o Facebook.

Mas também não é bem isso.

Sim, quando o Facebook fez grandes mudanças nas políticas de privacidade do WhatsApp em 2016, houve um breve momento de escolha. As pessoas podiam marcar uma caixa para impedir que o Facebook usasse seus dados do WhatsApp para fins comerciais.

O Facebook ainda seguiria coletando os dados dos usuários do WhatsApp, como expliquei acima, mas a empresa não usaria os dados para “melhorar seus anúncios e experiências de produto”, como fazer recomendações de amigos.

Mas essa opção no WhatsApp existiu por apenas 30 dias em 2016: em termos de anos digitais, isso foi há séculos e aproximadamente 4 milhões de escândalos do Facebook atrás.

No caso de quem começou a usar o WhatsApp depois de 2016 – ou seja, muita gente – o Facebook vem coletando muitas informações sem a opção de recusar.

“Muita gente não sabia disso até agora”, disse-me Gennie Gebhart, da Electronic Frontier Foundation. E, disse ela, a culpa não é nossa.

Entender o que acontece com nossos dados digitais parece exigir um curso avançado em ciência da computação e um diploma de direito. E o Facebook, uma empresa com mares de dinheiro e um valor em ações de mais de US$ 700 bilhões, não explicou ou não quis explicar o que estava acontecendo de uma maneira que as pessoas pudessem entender.

(Tradução de Renato Prelorentzou)