- A nova atualização permitirá que os investidores saquem seus ativos deixados em staking desde dezembro de 2020
- Atualmente, cerca de 18 milhões de Ether estão em staking, avaliados em cerca de US$ 36 bilhões, de acordo com a Etherscan
- A possibilidade de saque tende a tornar o Ether um investimento mais interessante, mas depende de como os reguladores vão lidar com a prática do 'staking'
Os fãs das criptomoedas receberam boas notícias: a próxima grande atualização de software do blockchain do ethereum ocorreu nesta quarta-feira (12). Mas, como quase tudo no mundo dos ativos digitais nos dias de hoje, os ajustes tão esperados não virão sem complicações.
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A nova versão, apelidada de Shanghai, surge depois da revolucionária “Merge”, de 2022, que substituiu computadores sedentos por energia por um processo envolvendo os tokens Ether dos chamados validadores para validar transações na rede criptográfica com maior êxito comercial.
Agora, a Shanghai permitirá pela primeira vez que os donos de Ether saquem seus ativos deixados em ‘staking’ (travados para validação) desde dezembro de 2020. Os donos de criptomoedas que fazem ‘staking’ ganham um rendimento que é pago em tokens Ether adicionais.
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Atualmente, cerca de 18 milhões de Ether estão em staking, avaliados em cerca de US$ 36 bilhões, de acordo com a Etherscan. Desse total, estima-se que 1,2 milhão de Ether – equivalente a US$ 2,2 bilhões nos preços atuais – será sacado nos cinco primeiros dias após o lançamento da Shanghai, segundo o pesquisador da Coin Metrics.
A grande questão é se a atualização provocará um êxodo maior dos detentores dos ativos ao longo do tempo ou motivará um fluxo de nova demanda quando os tokens forem desbloqueados. Uma perspectiva regulatória confusa acrescenta mais incerteza à combinação – a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) alertou nos últimos meses que os serviços de staking oferecidos por algumas plataformas de negociação são considerados basicamente como venda ilegal de valores mobiliários.
“O mercado vai oscilar enquanto se tenta analisar como será o aumento dos saques”, disse Henry Elder, chefe de finanças descentralizadas da Wave Digital Assets. “Não tenho dúvidas de que vamos ter inúmeros saques.”
Muitos detentores de Ether talvez simplesmente alternem entre diferentes serviços de staking, ou deixem de fazer staking com seus próprios equipamentos para terceirizar a tarefa a um serviço de staking que operaria o mecanismo para eles, disse Elder.
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Pode levar semanas ou até mesmo meses para sacar os tokens, porque as retiradas serão limitadas para preservar a segurança do Ethereum. Os testes que antecederam a atualização foram relativamente tranquilos.
“Estou bastante confiante em relação aos saques”, disse Tim Beiko, que coordena os desenvolvedores do ethereum, em uma entrevista. “Não há nada nisso que tire meu sono.”
Lidando com o inesperado: a expectativa é que a plataforma para staking Lido – responsável por um terço de todo o Ether em staking – comece a permitir saques apenas em maio. Outro possível problema poderia envolver alguns dos vários nós de computadores onde rodam os softwares responsáveis pelos serviços de staking das carteiras com Ether.
Assim que os saques forem autorizados, os operadores de nós vão precisar recuperar as senhas necessárias para desbloquear os depósitos dos usuários. Caso eles tenham perdido esses dados ou não puderem localizá-los por algum motivo, os nós aos quais os serviços de staking pertencem podem ser declarados insolventes, e isso poderia colocar pressão sobre os tokens associados a esses serviços, disse Elder.
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“Ninguém sabe que um banco está falido até as pessoas começarem a sacar seu dinheiro”, disse. “Isso é um pouco do cisne negro que está no horizonte.”
Há também o risco de os nós serem hackeados ou trapacearem e tentarem reter os fundos dos usuários para resgate, disse Mike Silagadze, CEO da Ether.fi, que permite aos stakers manter o controle de suas senhas. “A maioria das pessoas tem essa percepção equivocada de que, quando a Shanghai for lançada, o risco de fazer staking será reduzido”, disse Silagadze. “Na verdade, é justamente o contrário, o risco cresce exponencialmente neste momento.”
Os desenvolvedores do Ethereum chamam a atenção para o fato de que sempre houve a possibilidade de que uma plataforma de serviços ou um nó fosse hackeado ou perdesse as senhas, e a Shanghai não aumenta esse risco.
“Existe um possível perigo de um terceiro conseguir as senhas para saque de um operador”, disse Ben Edgington, líder de produto Teku na ConsenSys, que trabalha na infraestrutura do ethereum. “Qualquer grande operador deveria levar muito a sério a segurança das suas senhas, por isso ficaria muito surpreso se houvesse vazamentos [de senhas] generalizados.”
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Uma vez que tais problemas sejam resolvidos, o recurso de saques pode, no fim das contas, tornar o Ether um investimento mais interessante, atraindo investidores de varejo e investidores institucionais em busca de rendimento. No entanto, muito também vai depender dos pareceres dos reguladores sobre as criptomoedas e o staking.
“O fator de risco que diminui é o risco de execução”, disse Darren Langley, supervisor do serviço de staking Rocket Pool. “Há muito medo, incerteza e dúvidas, (alegações de que) o ethereum nunca pagará os saques. Isso encerra a questão.”
TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA