Criptomoedas

Corretoras cripto brasileiras vão para o exterior antes de boom do bitcoin

Companhias levam operações para América Latina e Portugal; movimento aposta em alta dos preços em 2025

Corretoras cripto brasileiras vão para o exterior antes de boom do bitcoin
Criptomoedas (Foto: Envato Elements)
  • Corretoras especializadas apostam na expansão para novos países para diversificar receita, conter a queda no número de clientes ativos e se preparar para o novo boom de preço
  • No Brasil, o mercado de criptoativos terá faturamento de US$ 531 milhões (R$ 2,5 bilhões) em 2023, número com previsão de crescer 16% ao ano até 2027, segundo estimativa da consultoria Statista
  • Na avaliação de Matheus Rosendo, líder de tecnologia da Criptou, os ciclos de alta e baixa do mercado de criptomoedas ocorrem em sincronia com o halving do bitcoin.

Durante o “inverno das criptomoedas“, a baixa temporada de preços de ativos como o bitcoin, as corretoras especializadas apostam na expansão para novos países para diversificar receita, conter a queda no número de clientes ativos e se preparar para o novo boom de preço da maior criptomoeda em valor de mercado, previsto por analistas para 2025.

Após atingir o pico histórico de preço em 2021, o bitcoin afundou em 2022 e teve uma melhora no patamar médio de preço em 2023. Segundo dados da Economatica, a moeda apresentou uma valorização de 153% no acumulado no ano passado. Outro sinal positivo para o mercado foi dado na última semana, com a aprovação dos primeiros ETFs de criptomoedas nos Estados Unidos.

O ano de 2024 irá marcar um novo corte na remuneração de processadores de pagamentos do bitcoin e causar um efeito de valorização no ano seguinte, o que pode atrair ainda mais investidores para essa classe de ativos. Para surfar nessa onda, empresas de criptomoedas estão se espalhando pelo mundo desde já.

A empresa mais recente a fazer esse movimento de expansão foi a token.com. O empresário holandês Mel Gelderman é CEO e fundador da companhia, que tem uma plataforma de negociação de criptomoedas com interface simplificada para comprar e vender ativos pelo celular. Junto ao sócio David Hoggard, Gelderman criou a Monolith, em 2016, a primeira carteira para a criptomoeda ethereum vinculada a um cartão de débito de bandeira Visa.

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Com o capital levantado com esse produto, a empresa criou o aplicativo de negociação de criptomoedas e, depois de escolher o Brasil como primeiro mercado no mundo em março de 2022, leva a plataforma para 21 países da Europa neste segundo semestre. No País, a empresa teve mais de 300 mil downloads do token.com e possui atualmente 95 mil clientes.

No momento de baixa do mercado de criptomoedas no Brasil e no mundo, a empresa busca ampliar sua operação para estar preparada para o próximo ciclo de alta do bitcoin, a maior de todas as criptomoedas. A cada quatro anos, existe uma queda no volume de recompensas e emissões de novos bitcoin, acompanhada de um salto de preço do ativo. Esse processo é conhecido no mercado como halving.

“O halving não é muito interessante por questões técnicas, mas é uma festa cultural do mundo cripto. O bitcoin é um movimento de pessoas. O halving não vai mudar muito, mas há muitos que se interessam por isso”, afirma Gelderman.

Unicórnio das criptomoedas

O movimento de expansão internacional também foi feito pela Foxbit. A iniciativa estratégica permitiu que a empresa atingisse uma audiência mais ampla, conquistando novos clientes em diferentes partes do mundo. Ao expandir seus serviços internacionalmente, a Foxbit se tornou uma referência no cenário das criptomoedas não apenas no Brasil, mas também no exterior.

A empresa tem hoje operações no Brasil, na Argentina e no México. Outros países da América Latina estão no plano de expansão da companhia, que tem parceria com a empresa de blockchain OK Group. “Como temos um sócio global, fica mais fácil de expandir operações e conseguir novos parceiros”, diz Ricardo Dantas, CEO da Foxbit. Em 2022, a OK Group investiu R$ 110 milhões na companhia brasileira.

A Foxbit também buscou diversificar a receita ao longo dos anos ao oferecer serviços para empresas, como a 99, que permite a negociação de bitcoin a partir de uma plataforma fornecida pela empresa. “Depender só do varejo e do trade significa estar muito aberto às variações de mercado. Atendendo ao mercado corporativo, viramos uma prestadora de serviços”, afirma Dantas. A empresa tem hoje 105 funcionários.

Primeiro “unicórnio” das criptomoedas no País, o Mercado Bitcoin começou a expansão internacional a partir de 2022, usando capital de risco de R$ 200 milhões. A empresa viu oportunidades para se aventurar em mercados estrangeiros, ampliando a base de usuários e explorando novas possibilidades de negócios. Com 3,8 milhões de clientes, a companhia está no Brasil, em Portugal e no México. Para o próximo ano, o mercado espanhol está na mira.

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“Se nós não buscarmos esses caminhos lá fora, seremos alvo de aquisição de plataformas que estão fazendo isso”, afirma Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin. Assim como a Foxbit, a empresa atua não só no mercado de varejo, voltado a pessoas físicas, mas também no mercado corporativo, oferecendo serviços de criptomoedas para empresas como Magazine Luiza (MGLU3) e a corretora Guide Investimentos. O Mercado Bitcoin tem 400 funcionários atualmente, um salto expressivo em relação a 2020, quando eram cerca de 60 profissionais.

No Brasil, o mercado de criptoativos terá faturamento de US$ 531 milhões (R$ 2,5 bilhões) em 2023, número com previsão de crescer 16% ao ano até 2027, segundo estimativa da consultoria Statista. O valor de negociação por usuário no País é de US$ 14 (R$ 67).

Preparando o terreno

Na avaliação de Matheus Rosendo, líder de tecnologia da Criptou, os ciclos de alta e baixa do mercado de criptomoedas ocorrem em sincronia com o halving do bitcoin. Esse evento acontece aproximadamente a cada quatro anos e, na prática, reduz pela metade a recompensa paga aos “mineradores”, como são chamadas as pessoas que usam computadores para realizar o trabalho de validação de transferências nos blocos que mantêm a rede funcionando. Com isso, o ativo passa a ser mais escasso no mercado.

“É durante o período do mercado em baixa que preparamos o terreno para a explosão da demanda na próxima alta. Enquanto os holofotes estão direcionados para outros setores da economia, nós, os desenvolvedores, estamos empenhados em criar e tornar as inovações acessíveis ao público e investidores no próximo ciclo de alta”, afirma Rosendo.

Para o sócio da exchange Transfero, Carlos Eduardo Russo, o halving do bitcoin é um dos poucos eventos que têm relação com a oscilação de preços da criptomoeda. O processo aconteceu nos anos de 2012, 2016 e 2020, sendo o próximo no primeiro semestre de 2024.

Porém, o efeito sobre o preço deve ocorrer apenas meses após o evento. Segundo dados da TradeMap, de 2016 para 2017 o preço médio anual do bitcoin foi de R$ 2 mil para R$ 43 mil. De 2020 para 2021, o salto foi de R$ 58 mil para R$ 259 mil.

“Entre 12 e 18 meses após o halving, há uma alta de preço do bitcoin, puxando para cima o valor de outras criptomoedas também. Existe uma curva de oferta e demanda do bitcoin, que muda do dia para a noite, provocando uma deslocação do preço de equilíbrio, que hoje está na casa dos US$ 30 mil”, afirma Russo.

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O bitcoin e outras criptomoedas ainda são vistas por analistas como ativos de investimento, devido ao aumento de valor puxado pelo crescente interesse de novos investidores. No entanto, diferentemente de uma ação de empresa na bolsa de valores, esses ativos não geram caixa, não pagam dividendos ou juros sobre capital próprio.

Por isso, futuramente, as criptomoedas terão formas de apoiar projetos de avanço tecnológico, como a criação de contratos inteligentes, que são acordos baseados puramente em tecnologia e sem intermediários, como entidades regulatórias.

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