O que este conteúdo fez por você?
- John Reed Stark, ex-diretor da SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), comparou a tether, maior stablecoin do mercado, com um "castelos de cartas"
- O comentário foi publicado em seu perfil no Twitter e acusou a moeda de ser um esquema Ponzi, além de aumentar a desconfiança dos investidores sobre a credibilidade dos criptoativos
No rastro do impacto do caso de insolvência da corretora FTX, os investidores seguem cautelosos antes de se posicionar em criptos, principalmente porque o medo de novos casos de quebra de companhias do segmento ainda permanece no mercado. No início de dezembro, John Reed Stark, ex-diretor da SEC (a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), fez uma acusação que adicionou mais um alerta.
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Ele comparou a tether, maior stablecoin do mercado, com um “castelos de cartas” ao repercutir uma entrevista de Reeve Collins, cofundador da tether, para o canal norte-americano CNBC, no dia 2 de dezembro. Na visão de Stark, o empresário não soube ser transparente ao falar do lastro da USDT (a tether).
O comentário foi publicado em seu perfil no Twitter e acusou a moeda de ser um esquema de fraude Ponzi, além de aumentar a desconfiança dos investidores sobre a credibilidade dos criptoativos.
Wow, tell us Tether is running a Ponzi scheme without telling us that Tether is running a Ponzi scheme. Just listen to his answers. IMHO, as a former SEC enforcement official of 18 yrs, the evasion/deflection/lack of responsiveness makes me believe Tether is a house of cards. https://t.co/smBHui1Djv
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— John Reed Stark (@JohnReedStark) December 2, 2022
Segundo Rony Suzster, analista de criptomoedas do Mercado Bitcoin, um possível colapso da stablecoin, semelhante ao que ocorreu com o ecossistema Terra Luna, poderia causar estragos ainda maiores para o mercado. A boa notícia é que essa possibilidade, segundo ele, ainda segue “pouco provável”.
“A própria emissora divulgou balanços auditados pela BDO (empresa de auditoria). Obviamente, trata-se de um documento que não é 100% garantido, mas não deixa de ser uma auditoria (sobre os balanços)”, afirma.
Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da QuantzedCriptos, também acredita que a estrutura financeira segue sólida ao ponto de não sofrer riscos iminentes de solvência. Segundo ele, a polêmica sobre o lastro da tether ocorre há anos, mas a empresa tem mostrado ao mercado, desde 2020, que a maior parte das suas reservas estão alocadas em títulos do tesouro norte-americano, considerados ativos de alta liquidez, por meio dos seus balanços.
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A estabilidade do ativo ao longo deste ano também ajudou a reduzir a desconfiança entre os investidores. “Em todos esses acontecimentos que presenciamos, a tether saiu ilesa. Isso deixa o mercado mais tranquilo em relação à stablecoin”, diz. Apesar dos esforços e do seu peso para o setor por possuir a terceira maior capitalização do mercado, os trabalhos parecem não ter sido suficientes para retirar por completo o receio de uma instabilidade.
Segundo Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, embora tenham sido consideradas um avanço, as auditorias não conseguiram conquistar a confiança total do mercado. Essa situação abre espaço para a capitalização de outras stablecoins que demonstraram mais credibilidade.
“A incerteza abriu espaço para outras stablecoins, como a USDC. É um ativo mais confiável e com uma auditoria mais transparente. A USDC reduziu a hegemonia do tether no mundo cripto”, diz Lago. O aumento da concorrência se torna positivo por ajudar a reduzir os danos de um possível colapso financeiro.
O mesmo alerta aconteceu com a decisão da Binance em suspender os saques de USDC na última semana. Ela é a segunda maior stablecoin do mercado e possui paridade com o dólar norte-americano. A medida foi motivada por um aumento das retiradas na corretora. Segundo Changpeng Zhao, CEO da corretora, o processo era necessário para reabastecer as carteiras com novas moedas.
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O episódio trouxe uma reação dos investidores com o receio de que uma nova crise interna, semelhante à da FTX, pudesse se instalar no mercado. “Isso mostra que o mercado de criptomoedas está amadurecendo, e os usuários devem continuar atentos a exchange nos próximos dias para garantir que as movimentações e saques se mantenham dentre os conformes”, diz Thiago Rigo, analista da Titanium Asset.
Esse sentimento expressa a “cicatriz” que os recentes colapsos financeiros do ecossistema Terra Luna e também da FTX deixaram nos investidores. As duas situações conseguiram empurrar para baixo as cotações das principais criptos.
De acordo com dados do Mercado Bitcoin, o BTC sofreu uma desvalorização de 15,5% em maio deste ano, quando o mercado foi impactado pelo colapso do ecossistema Terra Luna. Os preços do ethereum afundaram 28,7% durante o período.
Em novembro, a repercussão da crise financeira da FTX também causou o mesmo efeito para o setor. As perdas chegaram a 16,24% para o BTC e de 17,7% para o ethereum no mês. Já o valor de todo o mercado de criptomoedas encolheu 22,6% e 15,5% nos meses de maio e novembro, respectivamente.
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Caso o mercado se depare com uma situação semelhante, como um colapso da tether, os especialistas são categóricos em afirmar que um próximo evento não estabeleceria o fim para o mercado de criptomoedas. “Voltaríamos uns três a quatro anos atrás na evolução do mercado de criptomoedas, mas temos alternativas ao USDT (como o tether), como o USTC e o BUSD. Não acredito que iria acabar, mas com certeza seria uma grande razão para um novo inverno”, afirma Suzester, do Mercado Bitcoin.
Já Medeiros, da Quantzed, acredita que um colapso financeiro da Binance poderia ter um impacto ainda mais significativa devido a sua importância para o mercado de varejo – destinado para os investidores de pessoa física. De acordo com ele, isso pode acontecer porque a exchange é responsável por 80% das negociações dos investidores de pessoa física do mercado de criptomoedas.
“Independentemente da concretização desses casos, vale lembrar que a tecnologia continuará sendo desenvolvida”, diz. Segundo ele, parte da capitalização do mercado segue alocada para as empresas responsáveis pelo desenvolvimento dessas tecnologias. “Essa tecnologia em algum momento vai gerar um caso de uso real que pode trazer o retorno desses investimentos. As criptomoedas não são apenas o token”, afirma.