Criptomoedas

Crise na FTX provoca reflexão do mercado. Aprenda a se proteger

A crise financeira da corretora contaminou o segmento e derrubou o preço dos ativos digitais

Crise na FTX provoca reflexão do mercado. Aprenda a se proteger
As exchanges ou corretoras de criptomoedas são plataformas em que os investidores podem comprar ou vender criptomoedas (Foto: Envato Elements)
  • Um dos principais pontos sobre a crise financeira da FTX foi o uso dos recursos de usuários para o pagamento de dívidas
  • A situação trouxe um alerta aos investidores sobre a responsabilidade das exchanges em proteger o patrimônio dos investidores
  • As exchanges emitiram notas reforçando aos clientes o compromisso com a transparência e com a responsabilidade dos recursos dos clientes

A crise financeira da FTX, que pediu recuperação judicial, reacendeu as discussões sobre a responsabilidade das exchanges em relação ao patrimônio de seus clientes.

A terceira maior corretora do mercado de criptoativos utilizou recursos dos clientes para o pagamento de dívidas. Sem condições de cobrir o que foi gasto, a corretora decidiu congelar os saques até que uma solução fosse encontrada. E quem confiou na empresa amarga os prejuízos.

A situação preocupa o mercado e gera um alerta para os investidores sobre os cuidados antes de abrir uma conta em uma exchange, como são chamadas as plataformas de compra e venda de criptomoedas. Segundo Vanessa Butalla, diretora jurídica de compliance do grupo 2TM, o investidor precisa conhecer bem a corretora que deseja realizar as suas operações de investimentos. Para minimizar os riscos, a especialista orienta ao investidor buscar o endereço físico da empresa e saber o telefone de contato, entre outras formas de comunicação para uma eventual necessidade de atendimento.

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Mas esse não é o único trabalho a ser feito. “Outro ponto para ser analisado é a reputação da empresa. Há órgãos de proteção ao consumidor, como o Procon, que disponibilizam rankings das empresas com as maiores reclamações”, afirma. A reputação também se refere como a companhia se posiciona em relação a transparência das suas informações e segurança. “No caso do Brasil, há uma obrigação das empresas de reportar as transações acima de R$ 30 mil por mês para a Receita Federal. A corretora cumpre com essa disposição?”, questiona Butalla.

Esse exercício é importante para qualquer necessidade de abertura de conta em instituições financeiras. Por outro lado, por se tratar de um ambiente sem regulação, o trabalho se torna ainda mais necessário. “É muito difícil para o investidor ter certeza se a corretora mantém seu capital segregado”, afirma Felipe Vella, head de análise técnica da Ativa Investimentos.

Uma das formas de reduzir os riscos do investidor está em criar a sua própria wallet (carteira) e manter a custódia dos seus ativos. Por se tratar de um mercado não regulado, o mecanismo torna-se necessário porque não há garantias de que as exchanges, mesmo com políticas de transparência, não estejam suscetíveis a crises financeiras da mesma proporção ao da FTX. “Quando o investidor precisar transacionar os ativos, envia os recursos da sua wallet para a corretora. Desta forma, fica menos exposto a possíveis choques nas exchanges”, diz Vella.

Mas se em algum momento o seu patrimônio ficar retido em uma corretora por problemas de liquidez, os investidores podem buscar os órgãos de defesa do consumidor por se tratar de uma relação de consumo. “Também é possível ingressar uma ação contra a empresa para recuperar diretamente da companhia os prejuízos sofridos”, afirma Butalla.

Compromisso com o investidor

A situação da FTX estimulou algumas exchanges a reforçarem o seu compromisso com a transparência e proteção dos patrimônios dos seus clientes. A Bybit divulgou nesta quarta-feira (16) os endereços de carteiras para apresentar os detalhes das suas reservas e comprovar ao mercado que os fundos dos clientes seguem sob custódia.

“Acreditamos que as exchanges devem ser proativas na criação de um novo tipo de transparência”, disse Ben Zhou, co-fundador e CEO da Bybit. “Devemos melhorar em todos os modelos financeiros para cumprir com a promessa da tecnologia blockchain: informação em tempo real, instantânea e verificável sobre ativos e passivos detidos por todas as partes envolvidas. E estamos determinados a entregar isto”, afirma.

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No domingo (13), a exchange havia emitido outra nota reafirmando o seu compromisso com a transparência e informou sobre os planos de adotar um programa de Proof of Reserve (Prova de Reserva) para garantir ainda mais a transparência das negociações.

A BitPreço, outra corretora de criptomoedas, afirmou ao E-Investidor que possui um balanço patrimonial com segregação do patrimônio dos usuários. As informações esclarecem quais são os recursos da corretora e quais são os do cliente. “Isso, aliás, tem sido um ponto forte de discussões quando se fala do projeto de regulamentação de criptomoedas no Brasil”, diz Israel Buzaym, head de comunicação da BitPreço.

O Mercado Bitcoin também emitiu uma nota à imprensa sobre o assunto. Nela, a corretora destacou que não opera ou realiza empréstimos de ativos sem autorização do cliente e não possui nenhum produto de alavancagem financeira. “A empresa cumpre todas as determinações da Receita Federal e passa por rigorosos processos de auditoria”, afirma.

Entenda o caso

A crise de liquidez iniciou após o balanço patrimonial, divulgado na semana passada, mostrar a realidade financeira da FTX e da Alameda Research, empresa-irmã da corretora. Os números mostravam que as duas companhias de Sam Bankman Fried sofriam um risco de não honrarem com seus compromissos financeiros em virtude da baixa liquidez dos ativos.

“A Alameda estava com problemas financeiros e fez acordos com a FTX. A FTX envolveu fundos de usuários (para realizar esses acordos) e agora está com problemas de liquidez para pagar os clientes”, afirma João Galhardo, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.

Diante da situação, a FTX suspendeu os saques de usuários da plataforma e o temor dos investidores ocasionou uma venda em massa do token de governança da FTX, o FTT. A situação da corretora contaminou todo o mercado de criptoativos. O bitcoin, por exemplo, que já vinha apresentando dificuldades de se manter no patamar de US$ 20 mil, afundou ainda mais. Após sofrer uma queda acumulada de 19,9% nos últimos sete dias, o BTC segue em um novo suporte: US$ 16 mil.

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“Com o suporte de US$ 18 mil perdido e com o caso da FTX ainda longe de ser resolvido, é difícil prever para onde vai o preço do bitcoin”, diz a exchange Bybit em relatório enviado ao E-Investidor.

A situação do ethereum também é crítica. A segunda maior criptomoeda em valor de mercado despencou cerca de 21,9% nos últimos sete dias e segue sendo negociada na faixa dos US$ 1,2 mil.

Uma das vantagens do atual cenário é que o investidor poderá aumentar sua posição em ativos com bons fundamentos por um custo menor. No entanto, o investidor precisa levar em conta se manter os aportes em criptomoedas durante os períodos de crise condiz com seus objetivos financeiros.

“O investidor deve medir seu horizonte de tempo: caso seja de longo prazo, é uma ótima oportunidade pra se posicionar. Vender após essas quedas é uma má ideia”, afirma Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos. Veja os como aproveitar o momento de baixa nos preços para investir em criptos.

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