- O Brasil registrou um crescimento de 1.266% no número de investidores alocados em fundos e ETFs de criptoativos em 2021 ante o ano anterior
- Segundo a pesquisa, o volume de investidores registrados neste tipo de aplicação passou de 30 mil, em 2020, para mais de 410 mil no ano passado
- Bernardo Srur, diretor da ABCripto, vê esse crescimento como um resultado natural, já que a capitalização deste mercado vem saltando ano após ano no contexto doméstico e internacional
Um levantamento realizado pela gestora Hashdex, enviado com exclusividade ao E-Investidor, mostrou que o Brasil registrou um crescimento de 1.266% no número de investidores alocados em fundos e ETFs de criptoativos em 2021 ante o ano anterior.
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Segundo a pesquisa, o volume de investidores registrados neste tipo de aplicação passou de 30 mil, em 2020, para mais de 410 mil no ano passado.
Ainda é cedo para dizer se o crescimento será vertiginoso também em 2022. Mas o estudo, que utilizou dados da B3 e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mostra que os números continuam subindo. Em janeiro deste ano, o número de investidores alocados em fundos e ETFs de criptoativos chegou a 427 mil, uma alta de 4% na comparação com dezembro de 2021.
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Para João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, esses produtos vêm atraindo o interesse de investidores devido ao alto retorno histórico. “É um investimento global, que não está sujeito às questões da economia brasileira. Para o investidor local, é sempre bom estar exposto a esses ativos, que acabam servindo também para esse propósito (de diversificação internacional)”, diz Cunha.
O expressivo interesse dos investidores também está associado ao aumento da oferta desses produtos no mercado brasileiro, que mais do que dobrou no ano passado. Enquanto 2020 encerrou com 12 fundos disponíveis nas prateleiras das instituições financeiras, 2021 fechou com o total de 31 fundos – uma alta de 158% -, aponta o estudo.
Por que esses produtos têm feito sucesso?
Bernardo Srur, diretor da ABCripto, vê esse crescimento como um resultado natural, já que a capitalização deste mercado vem saltando ano após ano no contexto doméstico e internacional, embalada pela popularização da tecnologia blockchain, que, ele lembra, democratiza o acesso a diferentes tipos de ativos, como NFTs, Fan Tokens, entre outros.
“É natural que produtos mais tradicionais, que de alguma forma oferecem a possibilidade de acesso, mesmo que de forma indireta, aos criptoativos, acompanhem esse crescimento”, diz Srur.
Fabrício Tota, colunista do E-Investidor e diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin, concorda que o forte aumento do preço de criptoativos é um atrativo para os investidores que estão buscando diversificar os investimentos. Além disso, ele vê os fundos e ETFs como alternativas mais simples para as pessoas que não querem investir diretamente em criptomoedas, como o bitcoin e o ether.
“Os ETFs no Brasil são uma porta de acesso mais fácil (para os criptoativos). Eles acabam sendo um produto menos sofisticado na carteira, mas de acesso muito simples. Tanto que um dos ETFs de maior sucesso na bolsa brasileira é um de criptomoedas”, cita Tota.
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O exemplo dado pelo colunista é o Hashdex Nasdaq Crypto Index Fundo de Índice (HASH11), o primeiro ETF cripto a estrear na B3. Na sexta-feira (11), o HASH11 foi negociado a R$ 40,25, em queda de 4,6% ante o preço da véspera. Este produto investe em uma cesta com os “melhores criptoativos” do mercado cripto, através de um índice criado junto com a Nasdaq, define Roberta Antunes, CGO da Hashdex.
“O HASH11 é muito popular no mercado e já se tornou o segundo maior ETF da B3 em número de cotistas. Mais de 250 mil investidores possuem exposição em cripto através deste produto”, afirma Antunes.
Como ficam as expectativas para 2022?
As fontes ouvidas pelo E-Investidor reconhecem o grande avanço alcançado pelos criptoativos no Brasil nos últimos anos, mas entendem que ainda há muito terreno de crescimento. Um ponto a favor, como mostrou o levantamento, é a crescente disponibilização desses ativos digitais nas prateleiras das corretoras brasileiras.
Cunha, gestor de portfólio da Hashdex, diz que a fração que esses ativos representam no portfólio médio do brasileiro, comparando com a de outras classes de ativos, ainda é muito baixa. “Sabemos que tem muita gente que não tem exposição a cripto ainda, e as pessoas que tem exposição ainda é muito pequena. Então o potencial de crescimento nos próximos anos é gigante, para se chegar ao que seria uma alocação razoável, um portfólio representativo do investidor brasileiro”, avalia Cunha.
O diretor da ABCripto considera a entrada de investidores institucionais de peso, como MicroStrategy e Tesla, como um fator importante para o crescimento do universo cripto até o momento e que ainda influenciará a consolidação deste mercado. “O desenvolvimento de produtos e serviços ligados ao Metaverso pode possibilitar a continuação da expansão tecnologia blockchain em diversos setores”, inclui Srur, citando também o caso da Nike, que planeja lançar NFTs de seus calçados.
Quais as perspectivas para as criptomoedas?
O início de 2022 foi assustador para o bitcoin. A criptomoeda abriu o mês de fevereiro negociada próxima dos US$ 38 mil, sendo que, cerca de três meses antes, em novembro de 2021, chegou a superar a casa dos US$ 69 mil.
Apesar do abalo, ainda há muito otimismo para a criptomoeda mais famosa do mundo. Um relatório recente da Ark Invest indica que o preço de um bitcoin poderá superar a barreira de US$ 1 milhão até 2030, alcançando uma capitalização de mercado de US$ 28,5 trilhões.
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Outras estimativas apontam para um crescimento expressivo ainda em 2022. É o caso do relatório da empresa FSInsight, que diz que o bitcoin pode atingir os US$ 200 mil no segundo semestre deste ano. O patamar vislumbrado para o Ethereum, por exemplo, seria de US$ 12 mil em 2022. Atualmente, o ETH é negociado na faixa dos US$ 3 mil.
O colunista do E-Investidor reconhece que a queda recente do preço do bitcoin continuará a assustar algumas pessoas, gerando uma saída de recursos da criptomoeda no curto prazo. Ainda assim, ele acredita que isso não será motivo suficiente para barrar o interesse de investidores em busca de ganhos com criptomoedas, principalmente por meio de fundos ou de ETFs.
Embora considere esses produtos como veículos importantes para um primeiro contato com o universo cripto, Tota diz que fundos e ETFs estão sempre um ou dois “passinhos” atrás da aquisição direta dos ativos digitais, que, em sua avaliação, oferecem maior chance de uma rentabilidade mais expressiva. “Claro, assumindo alguns riscos que, na nossa visão, são totalmente assimétricos ao potencial de retorno que essa categoria oferece hoje”, diz Tota.
Além das criptomoedas mais tradicionais, o diretor de novos negócios do Mercado Bitcoin avalia que as pessoas vão ter mais interesse em compreender mais e melhor sobre outras teses de investimento cripto, como metaverso, NFTs, finanças descentralizadas, web 3, interoperabilidade, entre outras.
Mas para que mais pessoas possam se interessar por essa classe de investimentos, desconhecida por muita gente ainda, os especialistas ressaltam que as instituições devem avançar nas discussões regulatórias.
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O diretor da ABCripto entende que o estabelecimento de regras equilibradas permite que os investimentos, atualmente enviados a empresas fora do Brasil, sejam direcionados ao mercado interno, o que pode contribuir para a consolidação do mercado doméstico. “A regulação é um dos fatores determinantes neste ano e que pode contribuir para um cenário onde o bitcoin e os criptoativos estarão mais presentes nos debates do dia a dia”, diz Srur.
Com ou sem regulação, a verdade é que os rumos dos criptoativos ainda são incertos dentro e fora do Brasil. Em âmbito nacional, por exemplo, a prefeitura do Rio de Janeiro quer criar uma criptomoeda própria e estuda a possibilidade de oferecer descontos para quem pagar impostos, como o IPTU, usando bitcoin.
Em nível internacional, há experiências que inspiram cautela. É o caso de El Salvador, que se tornou a “menina dos olhos” de entusiastas do mercado cripto por adotar o bitcoin como uma moeda legal em setembro de 2021. O país da América Central vem sendo repreendido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que exige o fim do reconhecimento legal da criptomoeda.
Além disso, uma pesquisa da Universidad Centroamericana José Simeón Cañas mostrou que 74,3% da população nunca usaram o bitcoin.