- A Ethereum, segunda maior rede de criptoativos do mundo em capitalização de mercado, passou por uma atualização apelidada de "London Hard Fork”
- Entre as cinco alterações na forma como sua blockchain opera, a principal delas foi tornar as taxas da rede mais estáveis e o criptoativo Ether deflacionário
- Desde a implementação do mecanismo de queima da rede Ethereum, mais de 62,3 mil Ether foram destruídos, isso equivale a cerca de R$ 1,016 bilhões retirados de circulação. As informações são da plataforma etherchain.org, utilizada para explorar a rede e verificar transações e saldos.
A Ethereum, segunda maior rede de criptoativos do mundo em capitalização de mercado, passou por uma nova atualização no início de agosto. Apelidada de “London Hard Fork” as mudanças trouxeram cinco alterações na forma como a blockchain opera. A principal delas é a proposta de melhoria do Ethereum 1559 (EIP-1559), que visa tornar as taxas da rede mais estáveis e o criptoativo deflacionário.
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As atualizações acontecem ocasionalmente e visam trazer melhorias para os ecossistemas. A mudança anterior na Ethereum aconteceu em abril de 2021 e foi chamada de “Berlim Fork”.
O que é o London Hard Fork
O “Hard Fork” é um jargão utilizado pelos desenvolvedores para atualizações incompatíveis com as versões anteriores. Ou seja, após o London, se um desenvolvedor quiser permanecer conectado a rede, precisará baixar essa nova versão. Na prática é como se fosse uma atualização de software.
No London, foram implementadas cinco EIPs, que são o acrônimo para Ethereum Improvement Proposal, ou proposta de melhoria da Ethereum, no bom português. Em linhas gerais, ass atualizações geram impacto maior para os desenvolvedores, com exceção da EIP 1559, que foi desenvolvida com o intuito de melhorar a qualidade de utilização dos usuários da rede.
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Antes de explicarmos o que a EIP 1559 altera, precisamos explicar como funciona a rede. Toda vez que você vai interagir com o ecossistema de Ethereum, seja para enviar dinheiro para alguém ou interagir com as mais diversas aplicações de finanças descentralizadas (DeFi), como empréstimos, corretoras ou bancos, é necessário pagar uma taxa em Ether, que não é fixa.
Essa tarifa é paga para os mineradores da rede, que deixam seus aparelhos de mineração ligados 24 horas por dia validando todas as transações da Ethereum. Ela funciona como incentivo para que esses participantes continuem realizando essa tarefa.
Antes da atualização, os próprios usuários podiam definir o quanto queriam pagar de taxa, o que no primeiro momento parece algo ótimo, já que o user poderia escolher não pagar caro para fazer as transações. Só que isso gerava um problema: quando a rede ficava congestionada, diversas transações ficavam “presas”, pois não tinham uma tarifa competitiva.
“Todos colocavam uma taxa cada vez maior para ter as transações aprovadas primeiro. Com isso, as variações de preços eram absurdas e, em questão de uma hora, passavam de US$ 10 para US$ 200”, diz Alex Buelau, CTO da Parfin, plataforma de consolidação de investimentos em criptoativos para institucionais.
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De acordo com a Ethereum Foundation, o EIP 1559 estabelece duas melhorias: a primeira implementa um mecanismo para a criação de uma taxa de base que vai aumentar e diminuir conforme a usabilidade da rede, criando valores mais estáveis. A segunda criou um recurso para que essa taxa base paga pelos usuários seja queimada, em vez de ir para os mineradores, que agora só receberão uma espécie de gorjeta.
André Franco, especialista de criptomoedas da Empiricus Research, explica que essa gorjeta é um valor a mais que você paga se quiser para o minerador colocar sua transação na frente da ordem.
Impactos na rede
A rede Ethereum é o principal alicerce para as aplicações de finanças descentralizadas (DeFi) e também dos NFTs, a nova tecnologia responsável por conferir autenticidade e originalidade a itens digitais. Conforme mais usuários e investidores utilizam essas aplicações, mais a rede tende a ficar congestionada, assim como mais valor vai sendo agregado.
Desde a implementação do mecanismo de queima da rede Ethereum, mais de 62,3 mil Ether foram destruídos, isso equivale a cerca de R$ 1,016 bilhões retirados de circulação. As informações são da plataforma etherchain.org, utilizada para explorar a rede e verificar transações e saldos.
Orlando Telles, diretor de research da Mercurius Crypto, explica que agora as taxas serão mais estáveis. “É importante não confundir isso com taxas mais baratas, isso não vai acontecer tão cedo. Ou seja, não veremos grandes picos de tarifa nem momentos com taxas muito baixas, veremos sempre algo mais linear”, diz.
Impacto para os investidores
Ao contrário do Bitcoin, que possui um limite de 21 milhões de unidades de BTC para serem mineradas, a rede Ethereum não possui essa trava. Com a implementação do EIP 1559, criou-se a possibilidade de que mais Ethers sejam destruídos, do que novas unidades sejam criadas.
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Ou seja, quando mais a rede Ethereum seja utilizada, maior será a quantidade de Ethers queimados e retirados de circulação do mercado.
“Se considerarmos que o valor da rede se mantém constante, com a redução da quantidade daquele ativo, a tendência é de valorização da moeda”, diz Telles.
Franco explica que agora, com a atualização, com certeza a quantidade de novos Ethers emitidos não será igual a antigamente, mesmo que a produção não tenha sido afetada. “Isso torna o protocolo da Ethereum candidato a ser deflacionário, diferentemente do Bitcoin que tem uma inflação programada. Essa deflação pode tornar o ativo mais valioso ainda”, diz.
Com a queima dos ETH, há diminuição da oferta sem mexer na demanda. “Essa redução acaba puxando o preço para cima. E realmente é o que tem acontecido, desde que passou o London Fork, o preço do Ether subiu”, diz Buelau.
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Segundo informações da plataforma Coinmaketcap, que analisa os preços dos criptoativos, nesta quarta-feira (18) às 19h40, o Ether estava cotado a US$ 3.031,72, o que representa uma valorização de 310,98% no acumulado deste ano.
Segundo informações da Ethereum Foundation, a próxima atualização da rede Ethereum, que possui o nome de Altair, está programada para entrar em operação ainda em 2021.