O que este conteúdo fez por você?
- Muitos NFTs também foram impactados pela queda nas moedas digitais que ocorreu no chamado ‘inverno cripto’
- Com a alta de juros em todo o mundo, o poder de compra da população foi reduzido - o Copom encostou a taxa Selic em 13,75%. Isso impactou o setor de NFTs, assim como outros produtos do mercado de investimentos
- O bom desempenho das criptos está relacionado a dois motivos: satisfação dos investidores com as políticas econômicas do Federal Reserve; e os EUA atingir teto de endividamento
Os tempos áureos dos non-fungible tokens (NFTs, tokens não-fungíveis, em tradução livre) parecem ter ficado para trás. O volume de vendas caiu 98,6% em 1 ano e meio, aponta o banco de dados especializado em tokens CyrptoArt. Em agosto de 2021, foram vendidos cerca de US$ 630 milhões de NFTs, enquanto que em janeiro de 2023 foram apenas US$ 8,3 milhões.
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Durante seus melhores meses, os NFTs foram constantemente atrelados a negócios que envolveram altas cifras. O artista norte-americano Michael Winkelmann, mais conhecido como Beeple, por exemplo, vendeu uma série de quadros digitais. “Everydays: The First 5000 Days” foi negociado por US$ 69 milhões e “Crossroad” foi vendido por US$ 6,6 milhões.
O objetivo dos investidores naquele momento era encontrar NFTs que pudessem ser vendidos a um valor maior no futuro. E esse fato ajudou o mercado a expandir as vendas em 270% de março até agosto de 2021.
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Porém, nem tudo são flores. A alta de juros em todo o mundo diminuiu o poder de compra da população em geral, fator que impactou o setor de NFTs, assim como outros produtos de maior risco do mercado de investimentos.
“As artes digitais são como um mercado de luxo do setor cripto, com colecionadores e entusiastas. Então, um cenário de alta de juros afeta o mercado, já que as pessoas ficam mais seletivas sobre onde gastar o dinheiro e optam por não comprar itens que podem desvalorizar ao longo do tempo”, diz Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset Management.
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Os NFTs também foram impactados pela queda da cotação das criptomoedas no período que foi nomeado de “inverno cripto”, caracterizado por uma longa tendência de baixa dos criptoativos. Além disso, questões cambiais também podem impactar no preço dos ativos.
O rapper Post Malone foi um dos prejudicados com essa situação. Há um ano, ele pagou US$ 740 mil por dois NFTs produzidos pela Yuga Labs, empresa responsável pela coleção mais cara do setor. Hoje, valem US$ 256 mil, uma desvalorização de 65,4%. O recuo ocorreu, principalmente, pela queda no preço do ethereum, moeda digital usada na transação das artes digitais.
E quem esteve ao lado de Malone foi a cantora Madonna. Na época da aquisição, em março de 2022, o NFT valia US$ 564 mil, ativo que atualmente está avaliado em US$ 256 mil, uma queda de aproximadamente 50%.
“Bons tempos”
Ray Nasser, CEO da Arthur Mining, mineradora de bitcoins, diz que no começo a efervescência no mercado de NFTs se beneficiou de um momento positivo para o bolso dos investidores. “Naquele momento, as pessoas possuíam capital disponível para comprar tudo que enxergassem como oportunidade”, disse.
À época, durante a primeira onda do coronavírus, os bancos centrais optaram por reduzir os juros a patamares de mínimas históricas. O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro, diminuiu a taxa Selic para 2% em julho de 2020 e manteve os juros abaixo dos dois dígitos até o começo do ano passado.
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Dessa forma, diversos artistas entraram na onda dos NFTs. Em 20 de janeiro de 2022, o jogador de futebol Neymar trocou sua foto de perfil do Twitter por um macaco mascando chiclete – arte digital da Yuga Labs. No mesmo período, o cantor Justin Bieber também usou uma arte digital em seu perfil.
I am an ape! #community #art #BoredApeYC pic.twitter.com/iOe3E0H2t6
— Neymar Jr (@neymarjr) January 20, 2022
E agora, é o fim das artes digitais?
Na visão de André Franco, head de Research do Mercado Bitcoin (MB), a valorização verificada em 2021 pode ser chamada de “primeiro round do setor”, pois o mercado de artes digitais começou a funcionar há apenas cerca de cinco anos. “Outros rounds vão acontecer e novas coleções devem se valorizar ao longo do tempo”, diz o especialista. A alta nos preços de NFTs, segundo Franco, deve ocorrer porque “as criptos usadas nas negociações das artes digitais apresentam valorização em 2023”. Um estudo do MB demonstrou que 90% do mercado de cripto fechou no azul em janeiro.
O bom desempenho das criptos está relacionado a dois motivos: satisfação dos investidores com as políticas econômicas do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) no combate à inflação e os Estados Unidos atingirem teto de endividamento, o que naturalmente deprecia a moeda estadunidense. No primeiro caso, a menor aversão a risco ajuda os investimentos de renda variável. No segundo, para cobrir a dívida, o país precisará imprimir mais moeda, ação que, normalmente, provoca desvalorização do dólar e, automaticamente, valorização de ativos alternativos, como as criptomoedas.
O head do Mercado Bitcoin sugere, então, que os investidores não fiquem presos apenas a uma coleção, mas procurem as “blue chips (empresas líderes) do setor”. Ele indica a coleção da Yuga Labs como uma possível boa oportunidade.
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Já o CEO da Arthur Mining diz que os NFTs são puramente especulativos. “Não enxergo com bons olhos”, afirmou. Ele explica que tais ativos “nunca” tiveram algum valor real comprovado. Ou seja, o preço pode ser inflado pelos próprios participantes do mercado, “que colocam falsas posições de compra para aumentar a demanda e valorizar o produto”.
Dessa forma, ele não recomenda comprar artes digitais neste momento. Mas para quem já tem, sugere segurar até o próximo momento de euforia. Segundo os entrevistados, a próxima alta no setor deve acontecer em algum momento que compreende os anos de 2023 e 2024 por conta das políticas de redução de juros pelo mundo. “Mas essa é a pergunta de US$ 1 milhão”, brinca o especialista do Mercado Bitcoin.
Já o diretor de investimentos da QR Asset Management afirma que o cenário positivo para os NFTs depende de condições econômicas e demanda pelo ativo. “Hoje, do ponto de vista de tecnologia, desenvolvimento e adoção, existem muitas indústrias estudando e aplicando a solução, o que não é negativo para o mercado”, disse.
Ludolf sugere que o investidor guarde o que considera ter um valor artístico, pessoal ou de mercado. “Os NFTs têm vantagens sobre itens materiais, como facilidade de armazenamento e negociação, além de serem imunes à deterioração, já que são digitais”, afirmou.
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Segundo o banco de dados CyrptoArt, até hoje foram vendidas cerca de 3,8 milhões de artes digitais.