- Alguns brasileiros estão optando por receber o salário em criptomoedas, motivados pela rapidez e facilidade das transações no mundo cripto
- De acordo com a Bitwage, desde janeiro de 2021, o número de trabalhadores recebendo em cripto cresceu 600% na Argentina, 100% nos Estados Unidos e 50% no Brasil, onde atualmente são cerca de 300 usuários da plataforma
- Para especialistas, a melhor opção para ter o salário 100% em cripto são as stablecoins, que protegem o investidor da volatilidade
Imagine receber o salário de uma empresa em outro país, sem intermediação de um banco ou preocupações com a conversão do câmbio. Foram essas facilidades que levaram o casal de lutadores de UFC Matheus Nicolau e Luana Pinheiro a optar por receber parte da remuneração mensal em criptomoedas.
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Como o pagamento dos atletas é feito por uma empresa dos Estados Unidos, parte do dinheiro era descontada direto da conta em função das taxas das instituições financeiras e variações do câmbio.
Com as criptos, essa questão foi resolvida. “A vantagem é que as negociações acontecem muito rápido, sem depender do funcionamento do banco. Receber em cripto facilitou o controle do meu dinheiro”, diz Nicolau. O lutador, 7º no ranking peso mosca do UFC, já tinha interesse em investir em criptomoedas, mas não sabia como colocar o plano em prática. Ao descobrir que poderia utilizar o próprio salário para realizar esse investimento, foi como se juntasse “a fome com a vontade de comer”, diz.
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Os atletas optaram por receber 10% de seus salários em bitcoin, a principal criptomoeda do mercado. Pinheiro, 14ª no ranking do peso palha feminino do UFC, explica que eles ainda não podem investir 100% do recursos, pois precisam de uma parte em moeda líquida para pagar as contas mensais. “A maior parte do dinheiro que recebemos é quando a gente luta. Como existe o risco de nos machucarmos ou ficarmos um tempo sem lutar, não podemos investir tudo”, diz.
A parte que recebem em cripto encaram como um investimento. Os atletas acreditam que o bitcoin pode ser a moeda do futuro e os aportes de hoje podem garantir a aposentadoria em alguns anos. “O mercado vai cair, vai subir e eu vou continuar aportando até o ativo estabilizar em alta. Estou investindo pensando na aposentadoria”, diz Nicolau.
A ponte dos dois atletas com o mundo cripto é a Bitwage, uma plataforma que oferece uma interface entre a empresa contratante e o profissional contratado para pagamentos de salários em criptomoedas. De acordo com a companhia, desde a rodada de investimentos realizada em janeiro de 2021, o número de usuários cresceu 600% na Argentina, 100% nos Estados Unidos e 50% no Brasil, onde atualmente são cerca de 300 usuários do serviço em cripto.
Os números da Bitwage mostram que 40% dos usuários são argentinos. Com a deterioração econômica do país, eles foram incentivados a procurar alternativas para se proteger contra a inflação. Os Estados Unidos representam 22% dos usuários e o Brasil e as Filipinas, 15% cada um.
Vale a pena receber o salário em cripto?
Quem viu o bitcoin atingir o pico histórico de US$ 69 mil, em novembro de 2021, pode achar que receber o salário em criptomoedas seja uma forma de lucrar. Por outro lado, quem viu a moeda digital afundar para os US$ 20 mil, menos de um ano depois, pode ver o ativo com maior cautela.
Essas variações, comuns a qualquer investimento no mercado financeiro, precisam estar no radar na hora de optar por receber o salário em cripto. Para quem aloca 100% dos rendimentos em criptomoedas e usa os recursos no dia a dia, a melhor opção são as stablecoins. Esses ativos são pareados em algum lastro estável, de modo a controlar a volatilidade.
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É o caso da tether, uma stablecoin hospedada nas blockchains ethereum e bitcoin com a proposta de paridade com o dólar. “Quando você recebe o seu salário em criptos, há o risco de variação da criptomoeda, o que pode não ser interessante para um rendimento fixo. Porém, recebendo em qualquer outra stablecoin, como a tether, esse risco deixa de existir”, explica Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move.
Para quem mora no Brasil e trabalha em uma empresa local com pagamento em reais, a opção já não valeria tanto a pena. Mas Lago diz que essa pode ser uma alternativa interessante para brasileiros que, morando aqui, tenham empregos no exterior. Essa é uma forma de receber os pagamentos sem intermédio de uma instituição bancária, com rapidez e sem perder para a cotação do câmbio.
É o caso de Britto, que preferiu se identificar apenas com este nome, um desenvolvedor brasileiro que trabalha em uma empresa dos Estados Unidos, de onde recebe cerca de US$ 9 mil mensais.
Ao optar por receber o salário em stablecoins, ele só precisa se preocupar com as variações do dólar, coisa que já afetaria o seu rendimento independentemente das criptos. “As taxas para enviar o dinheiro para cá são muito altas e ainda tem um grande spread na cotação. Desse jeito, o salário cai na conta e já vira stablecoin. Quando preciso, eu vendo a cripto praticamente sem taxa nenhuma e já recebo o dinheiro certinho”, explica.