A ansiedade financeira é uma preocupação excessiva e constante com dinheiro. (Foto: Adobe Stock)
Os brasileiros estão mais endividados e inadimplentes, segundo dados recentes da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Essa situação não afeta apenas o bolso: equilibrar gastos e dívidas também pode prejudicar a saúde mental, aumentando riscos de ansiedade e outros distúrbios.
A proporção de consumidores com contas atrasadas passou de 30,0% em julho para 30,4% em agosto, atingindo o maior nível de inadimplência desde o início da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), em janeiro de 2010. Em comparação, em agosto de 2024, esse índice era de 28,8%.
“Isso se dá especialmente em um cenário de crédito mais caro e prazos mais curtos. É um sinal de alerta importante para a economia doméstica”, avaliou o presidente da CNC, José Roberto Tadros, em nota oficial.
Além do impacto econômico, a inadimplência também pode gerar ansiedade financeira, causando distúrbios mentais que prejudicam a qualidade de vida.
“A ansiedade financeira é, antes de tudo, uma manifestação de insegurança diante do futuro. Quando lidamos com o dinheiro, não estamos apenas falando de contas a pagar, mas de símbolos muito profundos: estabilidade, pertencimento, liberdade e até mesmo valor pessoal. Por isso, não é raro que o tema desperte angústia intensa”, avalia Gisele Hedler, psicanalista e especialista em comportamento humano.
O E-Investidor conversou com especialistas e reuniu algumas dicas práticas para aliviar suas contas e, consequentemente, reduzir a ansiedade relacionada às finanças.
Dicas para cuidar das finanças e reduzir a ansiedade financeira
1. Reconheça suas emoções
Uma das principais orientações é reconhecer os sentimentos que o dinheiro desperta. Como explica Hedler, muitas vezes, a ansiedade está ligada a memórias familiares, como padrões de escassez, medos herdados ou mesmo crenças de que não se pode falhar. “Trazer isso para a consciência já ajuda a reduzir a carga emocional”, avalia.
O terapeuta Tony Couto ressalta que há diferença entre preocupação e ansiedade: “preocupação saudável leva à ação. Já a ansiedade paralisa. Pergunte-se: ‘o que está sob meu controle agora?’. Isso ajuda a focar no que realmente pode ser feito”.
2. Anote suas receitas e despesas
Outro ponto é controlar suas receitas e despesas para identificar gastos. Segundo Hedler, é comum que a mente ansiosa exagere riscos, criando cenários de catástrofe.
“Uma boa prática é escrever suas preocupações financeiras e, em seguida, organizar quais delas são fatos (como uma dívida concreta) e quais são projeções da sua mente. Isso ajuda a reduzir a sensação de descontrole”, diz.
A psicanalista ainda reforça que ter clareza sobre receitas, gastos e metas oferece segurança e funciona como um antídoto para o excesso de incerteza.
3. Defina metas
Com as finanças organizadas, é hora de avançar para a próxima etapa: definir metas, como quitar uma dívida menor ou guardar um valor fixo por mês.
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Para a psicóloga financeira Ana Paula Hornos, o essencial é dar o primeiro passo e manter a constância.
“O planejamento é o contraponto da impulsividade. Decisões apressadas aliviam por instantes, mas geram resultados frágeis e um ciclo de culpa e ansiedade. Já o planejamento organiza as escolhas, conduz ao autocontrole e cria compromissos com metas de longo prazo. Essa disciplina traz tranquilidade, senso de realização e resultados mais consistentes”, diz a psicóloga Hornos.
4. Busque ajuda profissional
Por fim, os especialistas ressaltam que não se deve enfrentar a ansiedade financeira sozinho. Conversar com pessoas de confiança, buscar orientação profissional, seja de um terapeuta, seja de um consultor financeiro, ajuda a transformar a ansiedade em ação. “Quando o assunto dinheiro deixa de ser um tabu, abre-se espaço para lidar com ele de forma mais consciente e menos sofrida”, completa Hedler.