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Educação Financeira

É melhor comprar ou alugar um carro?

Automóveis por assinatura se popularizam à medida que o preço do carro aumenta

É melhor comprar ou alugar um carro?
Imagem ilustrativa de homem dirigindo um carro (Foto: Pixabay)
  • Os serviços de aluguel de carros por assinatura estão se popularizando no Brasil, enquanto os preços dos carros novos e usados sobem no mercado
  • De acordo com o site Kelley Blue Book Brasil (KBB), especializado na pesquisa de preços de carros, atualmente o automóvel novo mais barato (Fiat Mobi) custa pelo menos R$ 31,7 mil
  • Para as planejadoras financeiras procuradas pelo E-Investidor, não há uma resposta única, mas alguns fatores devem ser levados em consideração. A duração dos contratos de assinatura, seguros inclusos e limites de quilometragem, são alguns exemplos

No final de ‘Grease – Nos Tempos da Brilhantina’, o jovem Danny (John Travolta) voa pelos céus em seu conversível vermelho, junto a sua namorada Sandy (Olivia Newton-John). A cena feita em 1978 retrata bem o sonho do carro próprio, almejado fortemente pelos baby boomers (pessoas nascidas entre 1940 e 1960) e Geração X (nascidos entre 1960 e 1980).

Afinal, muito mais que auxiliar nos deslocamentos, ter um automóvel também era sinal de sucesso na vida financeira, independência e até um certo grau de ‘amadurecimento’ pessoal. Ocorre que as novas gerações já enxergam essa questão de forma diferente. Para os Millenials (nascidos entre 1981 e 1994) e Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) as experiências têm muito mais valor do que a posse de objetos – não à toa, serviços por assinatura são um grande sucesso nos dias de hoje.

“Hoje em dia não tem mais isso, as coisas estão mudando bastante, principalmente nos grandes centros”, afirma Carol Stange, educadora em finanças pessoais. “Essa geração mais jovem não tem o mesmo apego emocional que a Geração X e dos Boomers tinham com aquela coisa do primeiro carro.”

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Aliado a isso, a conjuntura econômica parece desfavorável. A quebra de cadeia provocada pela pandemia gerou uma escassez de semicondutores no mercado (componente dos automóveis), o que fez a oferta de veículos zero quilômetro diminuir bruscamente. Como consequência, os preços desse tipo de veículo aumentaram.

De acordo com o site Kelley Blue Book Brasil (KBB), especializado na pesquisa de preços de carros, atualmente o automóvel novo mais barato (Fiat Mobi) custa pelo menos R$ 31,7 mil. Outro efeito da diminuição de ‘carros zero’ nas concessionárias foi o aumento da procura por carros usados, cujos preços também acabaram por disparar 13,04% somente no primeiro semestre de 2021, segundo dados dos Monitores de Variação de Preços (MVP) da KBB.

“Querendo ou não, o carro é uma fonte de despesas”, afirma Stange. “A não ser que o carro seja comprado como fonte de receita, para fazer renda extra, ele é essencialmente uma fonte de despesa. E o orçamento precisa estar pronto para essa despesa constante.”

Por outro lado, os serviços de carros por assinatura estão, aos poucos, se popularizando no Brasil. Em grandes locadoras de veículos, a assinatura de um Fiat Mobi está saindo por cerca de R$ 1500 ao mês. Mas, pensando em longo prazo, será que vale realmente mais a pena alugar, em vez de comprar o veículo próprio?

Carro por assinatura?

Existem muitas variáveis que influenciam os preços na compra ou locação de um veículo. Segundo Daniela Mir Gelamo, planejadora financeira CFP pela Planejar, os custos podem aumentar ou diminuir bastante de uma região para outra, o que torna necessária uma pesquisa minuciosa para entender, de fato, o que sairá mais vantajoso.

“É um ponto de atenção. Temos que deixar claro que é uma novidade os carros por assinatura, mas depende muito de região em que o cliente mora, o tipo de imposto, tudo isso faz as contas mudarem. Não tem uma resposta única”, afirma Gelamo.

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Entretanto, em termos gerais, existem alguns aspectos que o motorista precisa olhar antes de decidir de que forma ‘ter’ um veículo. Gelamo explica que muitas locadoras de veículos anunciam preços para assinaturas que à primeira vista parecem ‘baratos’, mas que no final incluem poucos recursos ou contratos com prazos longos.

“Primeiro, tem que ficar atento aos contratos, no caso de assinatura. Normalmente, para pagar um valor reduzido de assinatura, você precisará ficar preso a um contrato de longo prazo. Então pode-se perder a flexibilidade de cancelar a assinatura quando quiser”, afirma Gelamo. “Outra questão é o limite de quilometragem mensal. Quanto menor os quilômetros, mais barata a assinatura, mas se ultrapassar o limite o cliente paga uma taxa pelo excedente.”

Nos planos mais simples, o limite de quilometragem costuma ser fixado em 1 mil quilômetros por mês. Stange também alerta para esse fator. “Alugar um carro é uma opção que tem ficado cada vez mais comum, cada vez mais fácil e atendido cada vez mais pessoas”, explica. “Mas quando a pessoa roda muito, o aluguel nem sempre acaba sendo uma opção vantajosa.”

Os seguros envolvidos nos contratos de assinatura também precisam ser avaliados. No final, o motorista precisa ter certeza de que a rotina pessoal se encaixa com as possibilidades oferecidas pelo documento de locação do veículo.

“Às vezes podemos pensar: ‘é só R$ 1000 por mês a assinatura, vou locar em vez de comprar’. Mas aí você vai ver e é um seguro básico, para um contrato de três ou quatro anos, em que você fica preso, e em um plano de apenas 1 mil quilômetros ao mês”, afirma Gelamo. “E também algumas empresas deixam os três primeiros meses mais baratos e depois aumentam o preço.”

Carro próprio?

Em contrapartida, a compra de um carro também tem seus gastos recorrentes, principalmente se o interessado precisar financiar o veículo. “Em financiamentos, o custo mensal vai aumentar na compra, porque paga-se muitos juros e aí pode ser que locar valha mais a pena”, afirma Gelamo. “Tem que entender quanto você terá para dar de entrada, quanto irá financiar, a taxa de juros que você irá conseguir, para tomar a decisão de comprar ou alugar com base nos números.”

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É importante lembrar que ao final do primeiro ano, o carro zero pode depreciar até 20%, ou seja, é um dinheiro perdido ao comprar um automóvel que precisa entrar no ‘balanço’. Despesas que não existem na assinatura, como IPVA, licenciamento, seguro e manutenção também precisam estar claros no horizonte do motorista.

Essa também é a visão de Osias Brito, sócio da BR Finance. “O carro no tempo perde valor, esse bem não ganha valor. E se a pessoa troca de carro muito rápido, o cliente vai continuamente perder uma parte do valor investido”, afirma. “Quando você tem um carro, existe um conjunto de gastos associado a ele. E alguns não dependem nem de você andar com o carro, como IPVA e taxas do Detran.”

Fora esses dispêndios mais comuns e conhecidos, um outro fator que deve ser levado em conta é o chamado ‘custo de oportunidade’. Isto é, quanto o capital empregado na compra do veículo renderia se fosse investido. “Se você comprar um carro, você perde esse custo de oportunidade, porque o dinheiro não estará rendendo”, explica Gelamo.

O nível da taxa de juros também influencia nessa decisão, uma vez que o custo de oportunidade (do quanto renderia o dinheiro do carro, caso fosse investido em uma aplicação financeira) aumenta quando a Selic é ajustada para cima. “Pode ser que essa aplicação aumente o retorno, com o CDI subindo. Logo, a subida dos juros estimula o aluguel do carro”, afirma Brito.

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Para efeito de comparação, Gelamo, da Planejar, simulou os custos com a compra ou locação de um HB20 Evolution 1.0 Manual, cujo valor foi fixado em R$ 71,990 mil. Foram considerados também dois cenários opostos: o primeiro, em que o comprador paga o veículo à vista, e o segundo, em que o comprador financia 100% do preço do veículo. A localização considerada é a cidade de São Paulo.

Os resultados para essa simulação apontaram que para a compra do HB20 sem financiamento, o custo mensal (considerando despesas com impostos, licenciamento, manutenção, depreciação, custo de oportunidade ) seria de R$ 1.282,5, contra a média de R$ 2.079,6 de uma assinatura de 12 meses. Por um prazo mais longo, de 36 meses, a assinatura ficaria em R$ 1.779,60.

“Isso você tendo o dinheiro, ou seja, os R$ 71,990 para comprar o carro. Com esse cálculo, a resposta é bem nítida que valeria a pena comprar o carro”, afirma Gelamo.

Já na simulação em que o comprador financia 100% do carro, o resultado é diferente. O custo mensal do veículo próprio sobe para R$ 2.151,80, contra os mesmos 2.079,60 de uma assinatura de 12 meses. A taxa de juros considerada nessa situação, foi de 2% ao mês. “Neste caso, o aluguel é mais barato”, afirma Gelamo. “Por isso a sugestão é não fazer contabilidade mental, é importante colocar no papel todos os custos.”

Segundo Brito, o resultado da comparação não é uma surpresa. O especialista afirma que, no geral, alugar um carro compensa muito mais do que comprar financiado. Para quem troca de automóvel com frequência, essa decisão também fica mais fácil. "Quem não tem dinheiro, fica mais fácil alugar, sem fazer muita conta. Agora quem tem dinheiro, tem que entender de quanto em quanto tempo fará a troca. Se vender daqui 1 ano, por exemplo, perde 20%", explica. "Por outro lado, se troca de carro de cinco em cinco anos, tem que considerar os custos de IPVA, manutenção, pneus, depreciação do automóvel. Então é preciso ver a taxa da assinatura."

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