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Inversa: “O streaming pode ser o maior canal de educação financeira”

Marcelo Cerize, CEO da Inversa, explica sobre a INV, novo streaming de educação financeira da casa de análise

Inversa: “O streaming pode ser o maior canal de educação financeira”
Marcelo Cerize, CEO da Inversa. Foto: Rafael Campos/Inversa/Divulgação
  • Qual o futuro da educação financeira? Para Marcelo Cerize, CEO da Inversa Publicações, é o streaming. O executivo lançou há cerca de um mês a INV, uma espécie de ‘netflix’ do mundo dos investimentos, que já conta com mais de 5 mil assinantes
  • Para ter acesso aos mais de 240 vídeos disponíveis na plataforma, é necessário pagar uma assinatura de R$ 19,90 por mês ou R$ 199,90 por ano. Entre os conteúdos mais assistidos, estão os relacionados a criptoativos
  • “Eu estou colocando meu dinheiro no Brasil, acreditando que renda variável, Bolsa e educação financeira são o futuro não só daqui, mas o futuro das nações que ainda não têm Bolsa”, explicou Marcelo Cerize

Qual é o futuro da educação financeira? Para Marcelo Cerize, CEO da Inversa Publicações, é o streaming. Há cerca de um mês, o executivo lançou a INV, uma espécie de ‘Netflix’ dos investimentos que já conta com mais de 5 mil assinantes, um número bem maior do que a meta inicial, que era de 2 mil novos usuários nos primeiros 30 dias após a estreia.

Os conteúdos são variados e englobam desde cursos para investidores iniciantes, entretenimento e recomendações. Para ter acesso aos mais de 240 vídeos disponíveis na plataforma, é necessário pagar uma assinatura de R$ 19,90 por mês. Em média, duas novas produções são postadas por dia. “Estou colocando meu dinheiro no Brasil, acreditando que renda variável, o mercado de capitais e a educação financeira são o futuro não só daqui, mas o futuro das nações que ainda não têm Bolsa”, explica Cerize.

A novidade tem atraído investidores mais jovens do que a média da base de usuários da Inversa. Enquanto na casa de análise a maioria dos clientes tem cerca de 45 anos, na INV o perfil é bem mais jovem, com idades entre 25 e 35 anos, e com menor capital. De acordo com Cerize, essa mudança de quadro é natural e esperada.

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“O preço é para democratizar e trazer pessoas que estão nas favelas, no campo e aquele cara que está saindo da faculdade em busca do primeiro emprego. A ideia é atrair a pessoa que recebeu algum dinheiro e quer começar a poupar, mas não sabe por onde começar”, explica Cerize.

Entre os conteúdos mais assistidos no streaming das finanças, estão os vídeos sobre criptoativos. Inclusive, o interesse por ativos digitais ultrapassa até mesmo o por ações. Para o CEO da Inversa, é um movimento sem volta, cuja relevância no mundo não tem mais como ser desprezada.

“As grandes oportunidades do universo cripto não estão mais em moedas. A grande valorização está concentrada em NFTs (tokens não fungíveis), mas isso envolve um risco alto, e aí vai do apetite de risco de cada um”, afirma o executivo.

Além da plataforma, Cerize também comenta os episódios que mais movimentaram o mercado nas últimas semanas, como o caso da chinesa Evergrande e as perspectivas para o Ibovespa.

Leia os principais trechos da entrevista:

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E-Investidor – Algumas plataformas de streaming foram lançadas neste ano e a Inversa não está sozinha. Qual é o diferencial de vocês para garantir competitividade e sair na frente?

Marcelo Cerize – Quem lançou o primeiro streaming de investimentos foi o Primo Rico, uma plataforma de streaming educativa, que dá cursos para investidores que estão iniciando e até para mais avançados.

A principal diferença é que na INV, além de cursos, eu ofereço carteiras recomendadas de investimento em renda variável, em Bolsa – que é o que tem mais atraído os nossos clientes. Eu cubro uma gama grande do mercado de investimentos para o investidor médio brasileiro, que está iniciando.

Outra grande diferença é o preço, nossa assinatura custa menos da metade do valor que o Primo Rico cobra. A outra casa que conheço de concorrente, e que abriu recentemente, foi a Guide, mas eles realmente ficaram na parte de educação financeira.

E-Investidor – A INV conquistou 5 mil cadastrados no primeiro mês. Como você avalia a recepção inicial do mercado?

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Cerize – Eu tinha uma meta de 2 mil usuários, que já ficaria muito feliz, mas foram 5 mil. Outro indicador importante foi o de cancelamento, que ficou muito abaixo do que eu esperava, perto de 1% neste primeiro mês. E dentro do sistema, eu criei uma coisa que ninguém hoje no ramo faz, que é você poder entrar e cancelar na própria plataforma. Temos um botão de ‘suspender assinatura’, basta clicar e está suspenso, respeitando a vontade do usuário.

E-Investidor – Qual o perfil dos assinantes da INV?

Cerize – A INV absorveu uma parte relevante dos clientes e usuários da Inversa, até por eles já conheceram o nome e já confiarem na casa. Hoje, 30% são clientes que vieram da própria Inversa. A maioria dos clientes Inversa são homens, acima de 45 anos. Herdamos uma parte dessa nova base na INV.

Os outros 70% têm um perfil mais mixado. Ainda tenho a maioria de homens, na casa de 60%, só que a idade fica entre 25 e 35 anos. É uma plataforma com uma cara jovem, custo acessível, um streaming, modelo que a juventude está mais acostumada. Acredito que isso trouxe usuários com menor poupança, porque no Brasil os grandes poupadores geralmente são as pessoas mais velhas. Até porque o tempo no mundo dos investimentos conta muito. Muito tempo poupando dinheiro, significa uma poupança maior. Então, geralmente os mais velhos têm mais dinheiro.

A ideia da plataforma é trazer pessoas mais novas, que estão saindo da faculdade, ensinar para elas que investimento não é difícil e que pode ser divertido – por isso a série de entretenimento. E o preço é para democratizar e trazer pessoas que estão nas favelas, no campo e aquele cara que está saindo da faculdade em busca do primeiro emprego. A ideia é atrair a pessoa que recebeu algum dinheiro e quer começar a poupar, mas não sabe por onde começar”

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São essas pessoas que eu tento trazer para a plataforma, com esse preço, com essa cara e com essa modernidade, que é completamente diferente do resto.

E-Investidor – Quais são as perspectivas de crescimento de streamings voltados para finanças? Você vê espaço para crescimento?

Cerize – Tanto vejo, que comprei essa ideia lá atrás. Tive problemas e demorei um pouco para lançar. Era para termos lançado em abril, mas eu não queria lançar algo mais ou menos, que decepcionasse. Acredito que não só há perspectivas de crescimento, como pode ser o futuro. Todo tipo de serviço que vemos hoje, pode migrar para o streaming. Óbvio que sempre teremos uma parcela de leitores, mas hoje as crianças e jovens têm uma dinâmica diferente daquela que eu vivi, por exemplo. Eles estão muito mais ligados ao streaming e a informações rápidas, a muitas informações, do que a uma leitura longa. Então acho que esse é um diferencial. Estou aqui para o futuro, acho que o maior canal de educação financeira pode ser o streaming.

E eu espero conseguir 2 mil (assinantes) por mês. Vou manter essa meta, de chegar ao fim do ano com 8 mil a 10 mil assinantes.

E-Investidor – Na INV são os tipos de conteúdos mais populares entre os assinantes?

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Cerize – Por incrível que pareça, os conteúdos mais vistos foram as nossas lives, que são muito boas, com grandes nomes do mercado. Isso tem sido um diferencial porque a plataforma permite fazer as lives, além de streaming. Tirando essas lives, que são abertas ao público não-assinante, as maiores visualizações foram as carteiras de criptomoedas e de ações.

E-Investidor – E como você interpreta essa busca maior por criptoativos do que por ações?

Cerize – Criptoativos já foram uma incógnita e agora têm tomado uma proporção no mundo que não pode ser desprezada. Quando olho para fora, grandes fundos e grandes alocadores de capital já estão buscando criptomoedas no portfólio, pelo menos uma parcela. Já temos grandes fundos no Brasil fazendo ETFs de criptomoedas.

O Mercado Bitcoin, que é uma corretora nacional, está chegando próximo de 3 milhões de usuários. A Bolsa de Valores de São Paulo demorou 100 anos para chegar a isso. Talvez o que impeça esse crescimento no futuro seja uma regulamentação mais severa. Quando tivermos regulamentação, pode ser que esse crescimento seja coibido, mas por enquanto o crescimento é espetacular.

E para suportar esse crescimento de usuários, eu trouxe aqui para a Inversa o que eu considero o maior analista de cripto do Brasil. Para ter uma ideia, ele é uma pessoa que trabalha há uma longa data no mercado financeiro, trabalhou em Nova York na crise de 2008, em um dos grandes bancos.

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Ele percebeu o potencial das criptomoedas em 2013, quando esse negócio começou a tomar uma certa proporção. Ele foi o criador do primeiro fundo de private equity de mineração do mundo. É um cara que está realmente dentro do mundo de criptomoedas, conhece tudo, é um minerador, já teve mineradora na Austrália, no Paraguai. O nome dele é Ray Nasser (CEO da Arthur Mining), é um amigo pessoal meu e grande entendedor do mercado.

E-Investidor – Quais as melhores oportunidades dentro do mundo cripto?

Cerize – As melhores oportunidades são aquelas que correm mais risco. As moedas não são mais as grandes oportunidades (em cripto). As grandes oportunidades, de grandes valorizações, estão concentradas em NFTs, mas isso envolve um risco grande, e aí vai do apetite de risco de cada um, do perfil de investidor.

Por isso é difícil falar de ‘grandes’ oportunidades. Aqui, nós somos responsáveis com a poupança das pessoas. Então as nossas séries recomendam criptomoedas sólidas, não prometemos nenhuma rentabilidade do tipo ‘coloque R$ 5 mil e transforme em R$ 1 milhão’.

Sabemos que esse tipo de valorização pode ocorrer no mundo de criptomoedas, mas que não é tão simples assim, já que a cada dia nascem mais criptoativos. É óbvio que nessa gama toda (de criptoativos) um ou outro pode valorizar mais de 1.000%, mas as pessoas podem acreditar no que você está falando (de promessas de rentabilidade altas) e pegar toda a ‘poupancinha’ delas, o FGTS, e ver o dinheiro virar ‘zero’. E se eu fizesse isso, não conseguiria dormir à noite.

E-Investidor – O assunto movimentou muito o mercado foi o risco de falência da incorporadora chinesa Evergrande. Haveria realmente grande impacto para os mercados, em especial para o brasileiro, caso a empresa quebrasse?

Cerize – Enquanto todo mundo, pelo menos entre as casas de análise, dizia que a Evergrande poderia ser um novo Lehman Brother, nós fomos a primeira casa a soltar um relatório dizendo que não, que a empresa já estava precificada no mercado chinês. A crise na incorporadora não aconteceu do dia para a noite, ela já caiu cerca de 80% (em 12 meses). A dívida da incorporadora vai ficar para o credor pagar.

E o interessante  é o seguinte: os credores da Evergrande são investidores internacionais e quem tem que receber as casas é a população chinesa, os moradores. O que pode acontecer é que exista um default (calote) da dívida, mas que o governo chinês garanta a entrega das casas. Isso não vai afetar o mercado de maneira relevante. Aliás, acho que não seria quase nada perto do tamanho do mercado de crédito mundial.

E-Investidor – O Ibovespa está escorregando e quase derrapou para os 100 mil pontos nas últimas semanas. É o momento de comprar ou o investidor precisa ter cautela? Quais empresas estão atrativas neste momento?

Cerize – De novo, quando a Bolsa estava em 125 mil pontos, a Inversa foi a única casa que falou ‘cuidado, tem coisa ruim vindo aí, o mercado lá fora não está para peixe e aqui também não, com a popularidade do presidente indo mal, reforma tributária não saindo como deveria, muita coisa pode piorar’. Nós recomendávamos cuidado quando todo mundo falava que a Bolsa ia subir. Agora que a Bolsa está a 110 mil pontos, começamos a ver algumas oportunidades de compra aparecendo, mas em setores específicos, não são todos os setores que estão baratos.

E realmente, quando olhamos para o preço/lucro da Bolsa, está bem abaixo da média histórica. Principalmente nos setores dos quais grande parte das pessoas não gosta, por exemplo, Vale (mineração) e os bancos – que todo mundo fala mal, acham que a fintech vai acabar com os bancos – mas são eles que puxam o preço da Bolsa para baixo.

Acredito que têm oportunidades na Bolsa, principalmente agora que entramos em um período de eleição, e sabemos que historicamente períodos de eleição envolvem volatilidade nos ativos de renda variável e dólar. Então gosto de estar alocado em ações de exportadoras, de setor de celulose, por exemplo. Em resumo, de empresas com receita em dólar.

E-Investidor – Na sua visão, o que precisa acontecer para a Bolsa brasileira decolar?

Cerize – Temos um problema sério fiscal, de conta pública. Enquanto não resolvermos esse problema fiscal de maneira contundente, a Bolsa brasileira estará sempre atrás das outras.

Logo, quando lá fora as Bolsas subirem, aqui subirá menos. Quando cair lá fora, aqui vai cair igual. Sempre estaremos um passo atrás, se não resolvermos os problemas sérios do País. Independentemente de eleição, se o País estivesse caminhando para o lado certo, se tivesse caminhando para uma redução de gasto público e não para o inchaço da máquina, eu tenho certeza que a Bolsa tinha tudo para andar.

O País é um exportador de commodities, e as commodities lá fora estão vivendo um ciclo de alta. Era para estarmos andando bem. Nós não estamos andando bem, porque existe irresponsabilidade fiscal por parte do governo federal.

E-Investidor – Na ONU, o Bolsonaro tentou mostrar um Brasil supostamente diferente e falou que restaurou a credibilidade junto ao investidor estrangeiro, por exemplo. Esse Brasil atrativo ao estrangeiro realmente existe?

Cerize – Hoje o Brasil não está no radar de grandes investidores internacionais. O Brasil tem dificuldades sérias de carga tributária, lei trabalhista, o passado é incerto, insegurança jurídica etc. Para investir no Brasil, e não só em Bolsa ou mercado financeiro, mas montar um grande empreendimento, trazer uma empresa para cá, fazer negócio, é muito difícil.

E-Investidor – Na última semana tivemos mais um aumento na taxa básica de juros, em um ponto percentual, para 6,25%. Nessa toada, o brasileiro pode ver a Selic subir novamente aos dois dígitos?

Cerize – A curva do mercado futuro já precifica juros de dois dígitos, cerca de 10% ou 11% no longo prazo. A curva de mercado de juros futuros já está precificando uma Selic no longo prazo acima de 10%, não preciso fazer previsão. Quem gosta de fazer previsão é economista, eu olho para o mercado e o mercado me responde.

E-Investidor – Hoje há quase 4 milhões de CPFs na B3. Esse fluxo de pessoas investindo na Bolsa deve continuar mesmo com o ciclo de alta da Selic?

Cerize – Eu estou colocando meu dinheiro no Brasil, acreditando que renda variável, Bolsa e educação financeira é o futuro não só daqui, mas o futuro das nações que ainda não têm Bolsa.

O País tem apenas 2% da população na Bolsa,  4 milhões não é nada. Enquanto no Chile, país vizinho muito menor que o Brasil, tem acima de 10%. Nos EUA cerca de 60% da população tem investimentos em renda variável. É um futuro inevitável.

Se o Brasil quiser ter uma economia pujante, essa economia tem que passar pelo mercado de capitais, não tem jeito. Empresas terão que vir à Bolsa e capitar recursos privados, esse é o futuro. É por isso que vejo um caminho de crescimento muito grande.

A Bolsa só está engatinhando, temos que nos preparar para 20% ou 30% da população ter conta na Bolsa em um prazo de 10 anos.

E-Investidor – Em 2021, a meta para a inflação já está perdida. Em 2022, entretanto, o cenário apresentado pelo Focus é melhor, com juros em 8% e inflação a 4%. Essas projeções são realistas, tendo em vista as eleições e o risco de crise hídrica?

Cerize – No começo do ano o Focus falava que os juros iriam ser 3% e o dólar ia ser R$ 5, com inflação 2%. Hoje, a inflação está na casa de 9% a 10%, os juros já estão a 6%, caminhando para 8% ou 9% no final do ano. No final de 2022, estarão próximos de 10%. As previsões do Focus têm se mostrado erradas ao longo do tempo.

E-investidor – O Banco Central errou a mão na política monetária?

Cerize – Acho que sim, ele baixou os juros sem precisar. Foi uma decisão errada. Enfim, o Banco Central é independente e pode corrigir, não tem problema. Houveram fatores no meio do caminho que não poderiam ser previstos, como a crise hídrica, por exemplo. Ninguém poderia prever uma quebra na cadeia de suprimentos, que faltaria contêiner, chip. Isso tudo pega na inflação.

Tudo isso não dá para prever, mas não precisava descer os juros a 2% só para marcar uma posição.

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