Educação Financeira

Consórcios batem recorde em 2021. Modalidade ainda vale a pena?

Especialistas dão dicas para quem está pensando em aderir a um financiamento de longo prazo

Consórcios batem recorde em 2021. Modalidade ainda vale a pena?
Com a taxa de juros em alta, o ano de 2022 pode não ser tão positivo para o sistema de consórcios no Brasil. (Foto: Envato)
  • O consórcio é uma modalidade de aquisição de bens baseada na união de grupos de pessoas, com a finalidade de formar uma poupança para a compra de imóveis ou serviços, por exemplo. Nesse sistema, o valor do bem ou serviço é diluído em um prazo predeterminado, em que todos os integrantes do grupo têm que contribuir com parcelas mensais, enquanto a empresa administradora realiza sorteios de cartas de crédito, no valor do bem ou do serviço contratado, até que todos contribuintes sejam atendidos
  • Entre janeiro e dezembro o acumulado de vendas atingiu 3,46 milhões de novas cotas de consórcio, um crescimento de 14,6% em comparação às adesões de 2020
  • Para Paula Bazzo, planejadora financeira CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), o aumento significativo das modalidades de financiamento – não só o consórcio – está ligada à baixa taxa de juros praticada no início de 2021. Em janeiro do ano passado, a Selic estava em 2% ao ano

O sistema de consórcios bateu recorde histórico no Brasil em 2021: entre janeiro e dezembro o acumulado de vendas atingiu 3,46 milhões de novas cotas, um crescimento de 14,6% em comparação às adesões de 2020. O volume de negócios também atingiu máximas, alcançando R$ 222,26 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac).

O consórcio é uma modalidade de aquisição de bens baseada na união de grupos de pessoas, físicas ou jurídicas, com a finalidade de formar uma poupança para a compra de imóveis ou serviços, por exemplo.

Nesse sistema – que completa 60 anos em 2022 – o valor do bem ou serviço é diluído em um prazo predeterminado, em que todos os integrantes do grupo têm que contribuir com parcelas mensais. Durante esse período, a administradora do consórcio realiza sorteios de cartas de crédito, no valor do bem ou do serviço contratado, até que todos contribuintes sejam atendidos.

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Em nota, Paulo Roberto Rossi, presidente executivo da Abac, afirma que os números recordes demonstram a capacidade que a modalidade de consórcios tem de crescer além das expectativas. “Em 2022, ano em que o consórcio completa 60 anos, poderemos, apesar das turbulências de um ano eleitoral, repetir o bom desempenho alcançado em 2021. Enquanto as boas perspectivas apoiam-se no crescente aumento de conhecimento do consumidor sobre educação financeira, a expectativa é que o planejamento seja incorporado na rotina do brasileiro”, diz.

Para Paula Bazzo, planejadora financeira CFP pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar), o aumento significativo das modalidades de financiamento – não só o consórcio – está ligada à baixa taxa de juros praticada no início de 2021. Em janeiro do ano passado, a Selic estava em 2% ao ano.

“Como o governo estimulou o consumo por meio da baixa da Selic, houve um impacto tanto no aumento da contratação de consórcios, quanto nos financiamentos. Então, de fato, em parte do ano passado estava bastante interessante para o consumidor”, afirma.

Em 2022, porém, o cenário é diferente. A taxa básica de juros foi elevada em 1,5 ponto percentual na primeira reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), chegando a 10,75% ao ano. A projeção do boletim Focus é que a Selic termine 2022 em 12,25% ao ano.

“Agora, como o movimento de alta na Selic foi muito forte, provavelmente não será um bom momento para fazer esse tipo de contratação. A alta no juros projetada hoje não vai necessariamente persistir pelos próximos anos, talvez não se mantenha daqui a dois, três anos. Então corre o risco do consumidor contratar um plano e assumir uma dívida de longo prazo com uma taxa de juros mais alta”, afirma Bazzo.

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Para a planejadora, nesse momento, é mais interessante que o consumidor tenha disciplina e aproveite para investir aquele valor que gastaria em um financiamento.

“Já que você estaria disposto a tomar um consórcio, use o valor que você pagaria como prestação para poupar. Vale mais a pena o consumidor pensar em se disciplinar, guardar esse dinheiro que iria para a parcela em um investimento, mesmo que conservador, onde os juros jogam a favor dele. E daqui a um tempo realmente tomar essa decisão”, diz.

Consórcio ou financiamento?

Para quem deseja comprar um bem de alto valor, os consórcios costumam ser uma opção muito comum, assim como os financiamentos em instituições bancárias.

Graziela Fortunato, especialista em finanças pessoais e coordenadora do MBA em Finanças Corporativas da Escola de Negócios PUC-Rio, explica que, entre as principais vantagens comparativas dos consórcios, está o tamanho do prazo. “Financiamento tem um prazo determinado a depender do bem. Os prazos do consórcio são maiores, então o valor a ser pago ao longo do período é menor. Pesa menos no bolso do consumidor”, diz.

Antes de escolher entre as duas opções, o consumidor precisa comparar os valores cobrados para avaliar qual seria a melhor opção. Nos consórcios, são cobradas taxas administrativas, enquanto nos financiamentos, incidem os juros. Fortunato reforça que, embora tenha nome diferente, a taxa de administração também embute a cobrança de juros – então é preciso se atentar a esses valores.

“Todo mundo acha que o consórcio não tem cobrança de taxa de juros, o que é um equívoco. Em um financiamento a taxa de juros é muito clara. No consórcio, eles vêm embutidos na taxa de administração, que pode sair até mais cara do que o financiamento”, explica a especialista. A orientação é comparar o valor das parcelas no mês e garantir que o valor pago ao consórcio, incluindo as taxas de administração, não ultrapassem o valor de uma parcela de financiamento.

Cuidados antes de tomar a decisão

Para Paula Bazzo, da Planejar, os consórcios também podem ser uma boa opção para famílias de baixa renda, que costumam ter maior dificuldade para reunir o capital para dar entrada em um financiamento. Mas a planejadora reforça: é preciso tomar alguns cuidados. “O primeiro deles é conferir se a empresa administradora do consórcio está registrada e autorizada pelo Banco Central para prestar aquele serviço”, diz.

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Segundo Fortunato, da PUC-Rio, é fundamental que a empresa peça uma avaliação da capacidade de pagamento do cliente. Assim, diminui o risco de inadimplências, já que o sucesso do consórcio depende da contribuição de todas as pessoas do grupo.

“Tem empresas que dizem que não precisam fazer a avaliação de capacidade de pagamento, coisa que um banco exige antes de liberar um financiamento. Nesse caso, é totalmente contraindicado entrar em um consórcio de uma empresa que não avalia sua condição financeira, porque se não faz isso com você, não vai fazer isso com os outros”, explica.

Outro ponto que o contribuinte precisa se atentar é a duração do contrato. Embora essa seja uma das maiores vantagens do sistema de consórcio, que permite suavizar os valores em prazos muito longos, na outra ponta, isso também significa uma espera maior pela aquisição do bem.

Para Bazzo, da Planejar, esse risco pode comprometer a decisão de contratar ou não um consórcio. “O valor é um sorteio, pode ser que a pessoa seja contemplada daqui a uns cinco, seis, sete anos. Então existe um risco de você não ter acesso a esse seu dinheiro durante um longo período de tempo e talvez isso comprometa a decisão de contratar”, afirma.

Por fim, a planejadora financeira destaca que a decisão de entrar em um consórcio precisa ser tomada com consciência, sem a pressão de terceiros. “É bem importante estar consciente do porquê que a pessoa está fazendo essa dívida e contratar um consórcio somente se aquela contratação se conectar com os seus objetivos, pois é uma dívida de 20 anos”, diz.

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