Dividir a data – e a vida – com alguém passa por compartilhar também bons momentos, projetos pessoais, sonhos e, inevitavelmente, as finanças. Desde o início de um relacionamento surgem as pequenas questões envolvendo o dinheiro: o presente em datas comemorativas como o Dia dos Namorados e quem vai pagar as contas dos encontros e das viagens, entre outras situações comuns.
Embora possa parecer estranho colocar o dinheiro em pauta quando o assunto é amor, não tem como fugir dessa discussão. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 57% dos divórcios realizados no País na última década foram motivados por problemas financeiros.
“O dinheiro é carregado de simbologias e significados pessoais. Cada indivíduo do casal traz sua bagagem afetiva e simbólica em assuntos financeiros, que podem gerar conflitos quando não entendidos, validados ou quando estão desalinhados e em direções distintas a partir da história e das experiências de vida de cada um”, explica Ana Paula Hornos, especialista em finanças e comportamento e colunista do E-Investidor.
Em um período de inflação alta, com o poder aquisitivo da população sob pressão, manter o planejamento em dia pode ser ainda mais difícil para os casais. Para evitar que a falta de diálogo e planejamento financeiro gere problemas no futuro, o E-Investidor ouviu especialistas para reunir orientações que ajudam a tornar o relacionamento mais saudável também do ponto de vista das finanças pessoais.
Com diálogo e transparência é possível planejar o orçamento em conjunto, colocando metas em comum no centro e respeitando a individualidade do outro. Confira:
Converse sobre dinheiro
A primeira dica passa por um ponto fundamental para o desenvolvimento de qualquer relação: o diálogo. Conversar sobre dinheiro abertamente vai ajudar a entender os cenários em que os dois se encontram e como sincronizá-los. Desde quanto cada um recebe, seus custos de vida, até os objetivos pessoais e comuns ao casal.
“Dinheiro não pode ser um tabu. Faz parte da vida e precisa ser conversado com clareza. Quando o casal está planejando a união, precisa pensar e refletir sobre esse pilar da vida, o financeiro, para não gerar depois estresses desnecessários em uma futura gestão familiar”, orienta Eliane Tanabe Deliberali, planejadora financeira pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
A especialista Ana Paula Hornos dá ainda um outro conselho: esteja disposto a escutar o parceiro. “Conflitos não podem nem devem ser evitados, eles precisam ser mediados, negociados, resolvidos e gerenciados. Conversar de forma empática, ter uma escuta ativa e de fato buscar uma compreensão profunda dos sentimentos de seu par é um excelente ponto de partida para uma comunicação amorosa”, diz.
Combine a divisão dos gastos
Já ouviu aquele ditado que diz que o combinado não sai caro? Pois é. Ele também vale para os relacionamentos.
Um dos assuntos que precisam ser abordados durante a conversa sobre dinheiro é a relação entre ganhos e gastos – principalmente para aqueles que moram juntos e precisam dividir as despesas domésticas. “Assumir o compromisso conjunto de fazer esse exercício de planejamento é o primeiro passo. Com data e hora marcada, e com recorrência, monte o orçamento coletivo para ter a visão do todo”, orienta Hornos.
Luiz Gustavo Stachowoski, consultor financeiro da fintech Leve, focada em bem-estar financeiro, destaca que é muito importante entrar em um acordo sobre a divisão de contas, mas que isso pode ser feito de diversas maneiras.
Pode-se, por exemplo, juntar o dinheiro recebido por ambos, pagar todas as contas e o restante direcionar para os objetivos em conjunto e individuais. Outra maneira é dividir os gastos comuns de forma proporcional à renda. Nesse caso, o casal precisa estar na mesma página e saber quanto ganha cada um.
“Por exemplo: a renda do casal totaliza R$ 10 mil reais, onde um recebe R$ 6 mil e o outro recebe R$ 4 mil. Nesse caso, a pessoa A vai pagar 60% do total das contas e a pessoa B, 40%. Independente da forma escolhida, o importante é sempre haver diálogo para que ninguém se sinta prejudicado ou injustiçado”, diz Stachowoski.
Respeite a individualidade do outro
Tão importante quanto ter uma conversa franca para dividir despesas e gastos entre o casal é respeitar a individualidade do outro para com o próprio dinheiro.
Ter um valor por mês para gastar com aquilo que deseja faz parte dos bons hábitos para a saúde financeira do casal. Mas é fundamental que isso também seja definido em conjunto, aconselha Stachowoski.
Esse também é o conselho na Planejar: “Cada um tem suas individualidades e é preciso ter espaço para isso também. Do contrário, a pessoa fica muito restrita financeiramente para fazer algumas coisas que gosta e até precisa”, diz Eliane Tanabe Deliberali. Para a planejadora, deixar o coração de lado e ser racional nesta parte pode ajudar.
Alinhe sonhos e objetivos
Em relacionamento, é muito importante que o casal esteja alinhado quanto aos sonhos e objetivos a serem alcançados juntos. E, em um mundo onde não é possível fugir do dinheiro, ele também precisa entrar nessa equação.
“Ter objetivos financeiros em conjunto ajuda não só na organização das finanças para os ambos e o planejamento do futuro a dois, como também fortalece a própria relação. Liste os objetivos e defina prioridades no curto, no médio e no longo prazos”, diz Luiz Gustavo Stachowoski.