As inscrições para o programa de financiamento estudantil Fies abriram na última terça-feira (4). O fundo é uma forma de facilitar acesso da população às universidades, mas dados levantados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e publicados no início do ano expõem uma realidade preocupante. Mais da metade dos estudantes que contrataram o fundo de financiamento estudantil (Fies) entre 2013 e 2022 ficaram inadimplentes. De acordo com o documento, a taxa de inadimplência dos beneficiários no período foi de 51,5%.
Apesar de ser uma dívida “barata”, com juros mais baixos na comparação com outras modalidades de empréstimo, a inadimplência pode fazer com que o estudante fique com o nome negativado e o débito não prescreve com o passar do tempo. De acordo com informações do Serasa, o não pagamento do FIES pode gerar a inclusão do CPF da pessoa no cadastro de inadimplentes dos órgãos de proteção ao crédito.
Para tentar evitar essa situação, é preciso ser analítico antes da contratação do empréstimo – e isso passa por entender melhor o mercado de trabalho. “É fundamental refletir sobre o quanto o curso no qual a pessoa está matriculada vai impactar financeiramente na vida dela, verificar quais são as oportunidades da região e quais portas serão abertas por aquela graduação”, afirma Renan Pieri, professor de finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Ou seja, se perguntar: a possibilidade de aumento de renda é significativo para justificar essa dívida?”, diz.
Publicidade
Conteúdos e análises exclusivas para ajudar você a investir. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Quem já está endividado deve ficar de olho em oportunidades para renegociar a dívida. Segundo o relatório do TCU, nos 10 anos analisados, esses programas chegam a abater 99% do valor consolidado do débito de estudantes inadimplentes, o que representou um desconto de R$ 10 bilhões.
Por que tantos estudantes não conseguem pagar o Fies?
Pieri aponta que a alta inadimplência dos programas de financiamento estudantil são uma questão no mundo. “Algo que ninguém consegue resolver direito”, diz o especialista, que aponta alguns fatores que mantêm a inadimplência elevada. O primeiro é a impossibilidade de “apertar as condições” do financiamento. Ou seja, delimitar o acesso ao crédito para os beneficiários e instituições com melhores notas – uma combinação que resultaria em uma menor inadimplência, mas também na diminuição do acesso aos cursos pela população.
Outro fator são cursos que entregam baixa empregabilidade – portanto, quando os estudantes se formam, não conseguem a renda esperada para arcar com as parcelas da dívida estudantil. Isso pode acontecer tanto pela qualidade da instituição do ensino superior quanto por fatores externos, como a região onde o estudante mora e o próprio perfil dos alunos.
Por último, há o próprio comportamento do governo, que frequentemente promove renegociações de dívida com descontos de até 99%. “Não tem problema nisso, mas ainda que tenham juros baixos, as parcelas do Fies ainda são um custo considerável para quem está começando a carreira. E se esse jovem tiver problemas financeiros e tiver que escolher, o Fies acaba sendo a dívida mais barata (para deixar de pagar) e que ainda ele poderá renegociar depois”, diz Pieri.