O que este conteúdo fez por você?
- Um levantamento feito pela empresa de crédito Creditas aponta que 30% das solicitações de empréstimo com garantia de veículo tinham como objetivo o pagamento de dívidas com juros maiores.
- Movimento de "trocar" dívidas é um sinal grave de descontrole das finanças e pode ser arriscado, ainda que funcione em algumas ocasiões
- Especialistas apontam que esse movimento pode gerar riscos, como o aumento da dívida à longo prazo e a própria perda do bem colocado como garantia
Inadimplentes têm buscado empréstimos com garantia, opções com juros mais baixos, para lidar com dívidas de serviços financeiros com juros mais altos. É o que aponta um levantamento feito pela Creditas com todas as solicitações de crédito que recebeu de janeiro a maio de 2023. De acordo com a pesquisa feita pela empresa de crédito, 30% das solicitações de empréstimo com garantia de veículos tinham como objetivo pagar dívidas ou trocá-las por outras “mais baratas” — ou seja, com juros menores.
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O dado vai de encontro com outra pesquisa feita pela empresa no último ano: o estudo com 1.500 pessoas apontou que 52% delas disseram ter se endividado devido ao mau uso do cartão de crédito e do cheque especial — duas das operações com maiores taxas de juros no País.
Mas, afinal, contratar uma nova dívida para quitar uma antiga é realmente um movimento correto?
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Especialistas ouvidos pelo E-Investidor dizem que essa pode ser uma boa solução, mas não deixa de ser arriscada – e pode ser entendida como um indicativo de descontrole na inadimplência. “O principal sinal de um endividamento grave é quando a pessoa toma um crédito apenas para liquidar outro contrato de crédito, pois isso significa que faltou planejamento financeiro e análise mais adequada de riscos nesse processo”, explica Tiago Almeida, planejador financeiro da FIDUC.
Vale a pena fazer um empréstimo com garantia para pagar dívidas?
Utilizar um empréstimo com a garantia de um veículo para pagar uma dívida com juros mais elevados não deixa de ser uma opção, no entanto. Essa alternativa costuma ser indicada quando o valor final pago no empréstimo não supera o da dívida antiga.
“Deve-se recorrer ao crédito com garantia real quando o custo de oportunidade for mais atrativo que a opção de crédito atual, especialmente nos casos em que o crédito atual seja na modalidade de crédito pessoal, na qual não há garantias envolvidas, e ainda mais se for crédito rotativo, em que as taxas são muito mais elevadas”, aponta Victor Marques, Planejador Financeiro pela Planejar.
O custo de oportunidade, nesse caso, representa a diferença de dinheiro que estaria sendo alocada em uma operação de crédito em abdicação à outra: quanto um cliente estaria pagando a mais enquanto existe uma opção mais barata.
Mas apenas olhar para os juros pode se transformar em uma armadilha nesse caso. Um empréstimo com garantia de veículo chega a ser uma opção mas barata nesse aspecto, porém o prazo de pagamento pode equivaler os valores com um débito de juros mais altos.
Como explica Tiago Almeida, o inadimplente deve fazer um cálculo bastante básico: multiplicar a quantidade de parcelas pelo valor delas, seja no caso da dívida atual ou do empréstimo, e ver qual fica mais barata. “Muitas vezes o cliente, mesmo sem problemas de honrar os compromissos financeiros de curto prazo, busca taxas mais baixas, mas acaba se prejudicando no longo prazo. Busque comparar com prazos iguais se a promessa for de juros menores”, indica.
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A renegociação serve como alternativa à “troca” de dívidas. Antes de procurar por um novo empréstimo com juros menores, o devedor tem a possibilidade de entrar em contato com o banco e conferir quais são as condições para reduzir os juros ou o valor do débito.
Especialistas ouvidos pelo E-Investidor apontam que esse movimento deve ser tomado com cautela e, ainda que as condições do empréstimo sejam menores, o inadimplente deve esgotar as alternativas antes de contrair um empréstimo para pagar suas dívidas: renegociação, adequação do orçamento e contato com um planejador fiduciário são algumas delas.
Riscos em vista
O empréstimo com garantia de veículo tem um risco evidente: a chance do bem ser tomado caso o devedor não consiga arcar com o pagamento, além do aumento do endividamento no longo prazo. “É crucial considerar esses fatores antes de tomar uma decisão financeira tão importante. Além disso, é necessário avaliar a capacidade de pagamento e refletir se contrair uma nova dívida é realmente a melhor opção”, diz Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset.
E os riscos no longo prazo podem se tornar ainda mais graves quando se considera a desvalorização do veículo. “À medida que o tempo passa, os carros tendem a se desvalorizar. Se alguém colocar o veículo como garantia e não conseguir pagar o empréstimo, pode acabar devendo mais do que o valor atual do automóvel, um grande problema caso o devedor precise trocá-lo posteriormente”, aponta Tiago Almeida.
Outro efeito arriscado da substituição de um crédito por outro é o hábito. Como explica, Victor Marques, da Planejar, o uso de crédito de maneira responsável ocorre quando um cliente o utiliza para aumento do patrimônio ou da renda, e não para o consumo. Quando alguém se habitua aos valores do crédito, ela passa a viver dependente dele, como se os valores das linhas de crédito contratadas fizessem parte dos seus rendimentos, mas o ideal é que eles não sejam utilizados costumeiramente.
Retomando a saúde financeira
A tomada de um empréstimo para pagar uma dívida normalmente ocorre nos momentos em que a saúde financeira está comprometida. Quando as dívidas estão descontroladas, decisões mais arriscadas, como a troca de um crédito por outro, começam a ser cogitadas. “A tomada de decisões financeiras precisam ocorrer em um momento de calmaria, pois quando feita sob estresse ou em um momento de desespero há grande possibilidade de ser feita em condições desfavoráveis”, diz Victor Marques, da Planejar.
Especialistas recomendam que todos possuam uma reserva de emergência capaz de suprir o custo de vida por alguns meses. Essa poupança garante a saúde financeira em momentos de imprevistos e reduz a necessidade de crédito em urgências.
Quando as dívidas já explodiram, buscar por alternativas como renegociação, mais rigor no orçamento diário e consultas a especialistas são algumas indicações. A ideia sempre será de sair do status de devedor e chegar ao de poupador.
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