O que este conteúdo fez por você?
- Um dos grandes mitos sobre o mercado financeiro é a visão de que investir em ações seria como um cassino, onde só haveria duas possibilidades: ganhar muito ou perder tudo
- Um entendimento que volta a ganhar força depois de casos como o rombo bilionário da Americanas (AMER3)
- O E-Investidor ouviu especialistas para entender quais as melhores estratégias para proteger o portfólio de grandes perdas no mercado de ações
Esta reportagem faz parte do especial “Caso Americanas: as histórias por trás dos números”
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Um dos grandes mitos que circulam no mercado financeiro é a visão de que investir em ações é como um cassino: ganhar muito ou perder tudo. Embora a educação financeira já tenha desmistificado isso aos poucos, casos como o da Americanas (AMER3) voltam a jogar certa desconfiança na bolsa de valores.
Afinal, em um intervalo de poucos dias, os investidores viram as ações da companhia derreterem de R$ 12 para menos de R$ 1 enquanto tomavam conhecimento de “inconsistências contábeis” na varejista no valor de R$ 43 bilhões. Veja a cobertura completa do caso aqui.
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Mas o que aconteceu com os papéis da varejista não deveria ser uma referência de risco para esse tipo de investimento, defendem especialistas. As inconsistências contábeis não estavam presentes nos balanços financeiros da companhia, por isso pegaram o mercado de surpresa. É com esse argumento que muita gente, como Luis Stuhlberger do Fundo Verde, tem apontado que trata-se de uma fraude.
“Se o próprio pessoal da 3G está alegando que não tinha como saber, imagine o investidor comum. Não tinha como evitar esse prejuízo”, diz Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research.
Sobreira se refere ao trio fundador da empresa private equity 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles. Como mostramos aqui, eles alegaram que não tinham conhecimento do que chamaram de “manobras ou dissimulações contábeis” nos balanços da empresa. Os bilionários são, individualmente, os principais acionistas da Americanas; a 3G Capital não possui participação na varejista.
A melhor forma de proteger a carteira em situações como essa? A boa e velha diversificação. “Um cliente que tivesse todo o capital em Americanas perderia quase tudo da noite para o dia. Porém, se só tivesse alocado uma parte pequena do seu portfólio na empresa, as perdas seriam mínimas”, explica Fabiano Braun, sócio da Matriz Capital.
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Esse foi o caso de Lorenzo Siqueira, que alocou todas as reservas e perdeu tudo.
Uma estratégia importante e que, segundo o sócio da Harami, deve valer para todos os tipos de portfólio. “Quanto maior o patrimônio, maior deve ser a diversificação”, ressalta Fábio Sobreira.
Outras estratégias para investir em ações
Além da diversificação entre classes de ativos, outros pontos podem ajudar o investidor na hora de montar o portfólio de ações. Existem no mercado diversas estratégias para analisar uma ação, que passam pela visão gráfica, fundamentalista, ou mais especulativa, por exemplo.
Mas antes de escolher por qual seguir é preciso entender bem o próprio perfil de risco como investidor. Na prática, antes de começar a alocação de recursos, é preciso ponderar o risco que o investidor está disposto a aceitar. Os mais conservadores, por exemplo, costumam preferir investimentos em ativos de renda fixa, atrelados ao CDI, cuja rentabilidade costuma balançar um pouco menos na carteira.
Os moderados, que já aceitam um grau de risco maior no portfólio mas ainda prezam pela segurança nos retornos, podem alocar em títulos prefixados na renda fixa ou até manter uma pequena exposição em empresas mais resilientes na bolsa. Já os investidores arrojados, com pouca aversão ao risco, podem ir além das ações, abarcando também outras estratégias, como day trade e fundos mais agressivos, como de ações e multimercados, por exemplo.
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“O erro de muitos investidores é pensar quanto vai ganhar em determinada alocação em ações e esquecer de calcular e medir o risco que ele está correndo”, diz André Fernandes, head de renda variável e sócio A7 Capital. “Antes de tudo, é preciso ter em mente: quanto dos meus recursos estou disposto a arriscar? Quando vou sair da ação se tudo der errado? Se tudo der certo, como posso reduzir o risco de entregar esse resultado positivo que obtive?”, elenca.
Por determinação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), antes de autorizar a alocação, as corretoras solicitam aos investidores que respondam ao API (Análise de Perfil do Investidor), um questionário que ajuda a empresa a entender quais os melhores produtos de investimento para aquele perfil. E que também pode esclarecer ao investidor seu próprio grau de tolerância ao risco.
Feito isso, o investidor que optar pela alocação em ações vai precisar olhar alguns indicadores para avaliar como está a saúde financeira de uma empresa e se vale mesmo apena investir naquele ativo.
O primeiro deles é o EV/EBITDA, uma métrica calculada a partir do valor da empresa (EV, de Enterprise Value) e o resultado da operação da empresa; o lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA). O resultado dará ao investidor uma ideia de em quanto tempo o investimento naquela companhia se paga. “É um indicador medido em anos. Quanto menor o número, melhor”, diz Fernandes, da A7 Capital.
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Outro indicador importante é a Dívida Líquida/EBITDA, que indicará quão endividada determinada companhia está e quanto tempo ela levaria para liquidar suas dívidas considerando apenas sua geração de caixa.. Neste caso, quanto menor o valor, melhor. O mercado costuma acender um alerta amarelo para números superiores a 3,5x.
Por fim, para analisar a rentabilidade da empresa, uma métrica importante de se acompanhar é o ROIC, o retorno sobre o capital investido. O indicador mostra quanto dinheiro determinada companhia consegue gerar a partir de todo o capital investido, mostrando, nos números maiores, aquelas que estão gerindo melhor suas operações.
André Fernandes, da A7, destaca que, para aquele investimento valer a pena o risco tomado, o ideal é escolher ações cujo ROIC seja superior à taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
O investidor pode acessar todos esses e outros indicadores nos balanços financeiros das empresas divulgados trimestralmente e disponíveis nos sites de RI das companhias. Mas também dá para contar com analistas e casas de investimento, que costumam não só fazer essa análise de forma profissional, mas emitir as recomendações e preço-alvo para determinados ativos.
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“Uma das formas mais interessantes de longo prazo é seguir as recomendações fundamentalistas nos relatórios do time de análises (research). Existem ainda os relatórios de análise técnica (gráfica) para aqueles que fazem movimentações baseadas em preços e estatísticas em uma estratégia de curto prazo”, diz Eduardo Reis Filho, educador financeiro e especialista de investimentos da Ágora Investimentos.