As tensões no Oriente Médio parecem não ter fim. Na última segunda-feira (22), os Estados Unidos (EUA) e o Reino Unido fizeram novos ataques contra o grupo rebelde Houthis, que atua no Iêmen. Esse foi o oitavo ataque ao grupo que está lançando mísseis em navios norte-americanos e britânicos na região do mar vermelho.
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Essa troca farpas é uma resposta dos Houthis a guerra entre Hamas e Israel, que já deixou 1.140 pessoas mortas do lado judeu e 25 mil mortos do lado palestino. O Houthis diz acreditar que Israel está cometendo um genocídio em Gaza e que só vai parar os bombardeios quando houver um cessar fogo no território palestino. No entanto, vale lembrar que o grupo é apoiado pelo Irã, que também financia o Hamas.
No mesmo dia do ataque, os preços do petróleo subiram 1,9% para US$ 80. Para Sidney Lima analista da Ouro Preto Investimentos, essa alta acontece porque o mundo teme o início de uma nova guerra no Oriente Médio, que se acontecer de forma espalhada pode fazer o petróleo disparar para US$ 90 por barril.
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“Se o conflito no Oriente Médio se agravar, é provável que vejamos uma escalada nos preços do petróleo. Isso ocorre devido à interrupção potencial no fornecimento de petróleo, já que a região é um dos maiores produtores globais”, diz Lima.
Já Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren é mais catastrófico e acredita que a commodity pode chegar a US$ 100 por barril. “No entanto, o valor do petróleo só chegaria nesse patamar se a guerra for generalizada na região e travar a produção, o que não aconteceu até o momento”, afirma Nobre.
Caso o barril do petróleo chegue a essa patamar, a gasolina pode disparar, é aí que uma nova guerra no Oriente Médio pode mexer com o seu bolso. Segundo Rafael Winalda, especialista em Oléo e Gás do Inter, a Petrobras (PETR4), empresa que controla majoritariamente os preços dos combustíveis no Brasil, vendeu a gasolina a um valor mais caro que o praticado no mercado internacional ao longo de 2023.
“A empresa anunciou uma mudança em sua política de preços no começo de 2023 com o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI). Com isso, esperávamos que a empresa vende-se a gasolina abaixo do preço de mercado e não foi isso que aconteceu nos últimos meses. Segundo nossos cálculos, tem sido observado no período mais recente preços 5% acima do PPI”, diz Winalda.
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Atualmente, o petróleo está na casa dos US$ 80 por barril com o preço médio da gasolina no Brasil em R$ 5,58 por litro, segundos dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP).
Enquanto isso, os dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostram que a companhia negocia o combustível acima e abaixo do PPI, com uma distância pequena do preço do mercado. No último dia 11 de janeiro, a Petrobras vendia o litro da gasolina R$ 0,12 mais caro que o PPI, enquanto na segunda-feira (22), o litro era vendido em R$ 0,06 mais baratos.
Na visão de João Abdouni, analista da Levante Corp, se a commodity disparar por causa de um agravamento das tensões no Oriente Médio o pior deve acontecer para o consumidor.
“A Petrobras não tem deixado os preços muito abaixo da paridade, se o cenário piorar no Oriente Médio os preços ao consumidor devem subir. O valor pode ficar próximo ao que aconteceu em fevereiro de 2022, no início da Guerra entre Rússia e Ucrânia”, diz Abdouni. Na época, a gasolina chegou a custar entre R$ 7 e R$ 8 na média nacional. Ou seja, no limite da banda a gasolina teria uma alta de 43,4% com base no preço médio atual da ANP.
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Mas nem tudo é motivo para pânico. Para Alberto Azjental, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a probabilidade dessa guerra generalizada acontecer no Oriente Médio é baixa por causa da diplomacia e pressão que a China deve fazer sobre o Irã, que financia o Houthis.
“A China compra petróleo do Irã e da Rússia. Se uma guerra se espalhar por todo o Oriente Médio, Pequim acaba perdendo uma grande fonte de petróleo e terá que comprar a commodity no preço do mercado, que estará mais caro que o praticado hoje. Então, uma guerra nessa região não é boa para os aliados do Irã, o que aumenta a pressão sobre o país. Isso pode deixar o Irã afastado dos Houthis se os EUA ataca-los com mais força”, explica o professor.
Ou seja, uma guerra na região pode acontecer e o consumidor tem que ficar atento a isso, mas as chances dela explodir globalmente são baixas.