

A transformação do Pix em um ecossistema de pagamentos, e não mais apenas um produto, pode ser o futuro da disputa por espaço entre carteiras digitais, cartões e novos métodos de pagamento no Brasil. A avaliação é de Juan Pablo D’Antiochia, General Manager da Worldpay para a América Latina, em conversa com o E-Investidor para o lançamento da edição comemorativa de 10 anos do relatório “The Global Payments Report”.
“O Pix já não pode mais ser visto apenas como um método de pagamento. Ele se tornou uma infraestrutura. Assim como temos bandeiras de cartão, o Pix passa a ser um trilho sobre o qual outras inovações vão surgir, inclusive carteiras digitais e novas soluções de crédito”, afirma o executivo.
Segundo ele, a evolução do pagamento instantâneo – que saiu do zero em 2020 para dominar 41% das transações no e-commerce brasileiro e 32% nos pontos de venda (PDVs) – é “inédita no mundo” e inspiradora para outros países. Na Argentina, o sistema Transferencias 3.0 busca reduzir a dependência do dinheiro em espécie. No México, o DiMo segue a mesma direção, com foco em transferências instantâneas e acessíveis via dispositivos móveis. Já na Colômbia, o Banco Central deve lançar em 2025 o Bre-B, sistema próprio de pagamentos rápidos.
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A Worldpay vê o Brasil como referência em pagamentos instantâneos, e já presta serviços a empresas internacionais que fazem remessas ao país via Pix, embora ainda não atue diretamente com o envio de valores do Brasil para o exterior por esse sistema.
Projeção de mais crescimento
O relatório da Worldpay, líder global em soluções de meios de pagamento, traz uma análise sobre a evolução dos meios de pagamento ao longo dos últimos dez anos, entre 2014 e 2024. O mapeamento, que em sua primeira edição previu a consolidação das carteiras digitais como meio de pagamento, não foi capaz de antecipar o sucesso do Pix no país.
O produto do Banco Central do Brasil impulsionou os pagamentos Conta a Conta (A2A) para o topo do mercado local, tornando-se o principal método tanto no e-commerce quanto no varejo físico. A projeção da Worldpay é de um crescimento médio anual (CAGR) de 16% no e-commerce e 11% nos PDVs até 2030, quando o A2A deve responder por 58% das transações online e 46% das realizadas nos PDVs.
Cartões seguem na briga
Mesmo com o avanço do Pix, os cartões de crédito seguem como um pilar dos pagamentos no Brasil. Em 2024, os cartões responderam por 38% do valor total transacionado: 26% em crédito, 10% em débito e 2% em cartões pré-pagos. Eles também continuam sendo a principal fonte de financiamento das carteiras digitais: 69% dos consumidores entrevistados indicaram usar cartões como meio de recarga (55% de crédito, 13% de débito e 1% pré-pago).
O Pix, no entanto, já figura entre os métodos preferidos para compras online, sendo utilizado por 54% dos entrevistados – atrás apenas do cartão de crédito (64%).
Limites de crédito travam compras
D’Antiochia observa uma distorção que termina prejudicando o mercado de cartões. Segundo a análise, até 25% das transações são reembolsadas por falta de limite no cartão de crédito. “Isso revela um mercado subaproveitado. São bilhões de reais em vendas perdidas porque os emissores não revisam os limites dos clientes de forma proporcional à inflação”, diz.
Para ele, há espaço para que bancos e varejistas ampliem o acesso ao crédito ou ofereçam alternativas como o Buy Now, Pay Later (BNPL) – uma alternativa ao parcelamento no cartão oferecido por fintechs e que não compromete o limite de crédito. Essa modalidade ainda engatinha no Brasil, mas já é uma das principais formas de pagamento em mercados como Europa e Estados Unidos.
Disputa por espaço
O relatório da Worldpay indica que o futuro será de divisão mais equilibrada entre os meios de pagamento. “Cada solução tende a conquistar uma fatia própria. O Pix será dominante em débito e transferências, os cartões seguirão relevantes para compras parceladas e as carteiras digitais ganharão espaço à medida que agregarem usabilidade”, resume o executivo.
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Apesar do avanço acelerado do Pix, a Worldpay ainda aposta na expansão das carteiras digitais, que atualmente representam apenas 16% do e-commerce no Brasil, mas já superam os 20% em países como Argentina. “Com mais funcionalidades e conveniência, elas tendem a crescer no Brasil”, projeta D’Antiochia.
O relatório The Global Payments Report 2025, elaborado com base em entrevistas com mais de 66 mil consumidores em 40 países, pode ser acessado na íntegra no site da Worldpay.