- Eventos climáticos extremos, como a seca no Espírito Santo e chuvas no Vietnã, são apontados como um dos principais fatores
- Especialistas citam aumento no custo devido aos conflitos geopolíticos na Ucrânia e Oriente Médio, que afetam nos preços de insumos e logística
- Para economista, a recuperação das safras pode não acontecer de imediato, sendo um processo de médio prazo
O café tem ficado mais amargo para o bolso dos brasileiros. Ainda que a energia elétrica tenha sido apontada como a grande vilã da inflação de setembro, que avançou 0,44% no mês, os preços dos alimentos e bebidas subiram 0,5% no período. Só o cafezinho saltou 4,02%. Diversos fatores contribuem para esse aumento, desde questões climáticas até problemas logísticos e alta nos custos de produção. E a tendência é de que esse cenário se mantenha pelos próximos meses.
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Para os especialistas ouvidos pelo E-Investidor, os eventos climáticos extremos são os principais responsáveis pelo aumento no preço do café, ainda que outros fatores também influenciam indiretamente para a alta. O economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE), Matheus Dias, destaca que secas longas ou chuvas intensas impactaram as safras de café.
“Afetou a produtividade, tanto em pó quanto em grãos. O Espírito Santo, grande produtor de café conilon (ou robusta), foi impactado por uma seca intensa, que prejudicou a safra”, explica o economista. O evento climático ao qual ele se refere ocorreu entre o fim do ano passado e o começo de 2024, não tendo as recentes estiagens e queimadas impactado a atual produção.
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De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor – Disponibilidade Interna (IPC – DI), elaborado pela FGV, a inflação no preço do café, considerando a variação do preço do item no acumulado dos últimos 12 meses, estava recuando no bolso do consumidor até abril (veja o gráfico acima). No entanto, de maio em diante houve avanços consecutivos, com evolução expressiva de 24% em setembro.
Isso porque questões climáticas em outros países, como as chuvas intensas no Vietnã, maior produtor mundial, também fazem preço na xícara dos brasileiros. Com a redução na oferta, os compradores internacionais também passaram a visar o conilon. Pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, observam que desde o último trimestre do ano passado os preços das sacas de café no país dispararam.
O preço do café vai continuar subindo?
Mas não somente o clima afeta o café. Fabrício Tonegutti, especialista em tributação para varejo, destaca que o aumento no custo dos insumos, como os fertilizantes, e a alta nos custos de logística, afetadas pelas guerra na Ucrânia e no Oriente Médio, junto ao aumento no preço do diesel. “O transporte marítimo disparou, passando de US$ 1,8 mil por container para até US$ 7 mil, elevando os custos de toda a cadeia produtiva.”
Para Matheus Dias, da FGV IBRE, a perspectiva para o preço do café não caminha para ser diferente em 2025. Segundo ele, os atuais eventos climáticos e custos logísticos devem continuar fazendo preço nas safras que estão em produção agora. “Mesmo que a oferta se normalize com melhores condições climáticas, a recuperação não acontecerá de imediato, sendo um processo de médio prazo.”