- Em um país com inflação de 10%, equilibrar as contas ganhando um salário mínimo já é um grande desafio. Formar uma reserva de emergência e investir se torna um duplo desafio
- Entretanto, é possível iniciar com poucos recursos, guardando mensalmente pequenas quantias (que caibam dentro da realidade)
- Investir em educação e capacitação também pode ser um meio de conseguir aumentar a renda
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou o ‘novo’ salário mínimo . O montante passou de R$ 1.302 para os atuais R$ 1.320, o que significa um aumento de 7,43%, acima da inflação de 5.78% medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos 12 meses de 2022. O novo valor está em vigência desde o início de maio, mas ainda espera ser aprovado pelo Congresso.
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Com o novo reajuste, houve um aumento real de mais de R$ 30 no piso, em relação ao valor de R$ 1.212 que foi pago aos trabalhadores ao longo de 2022. O ex-presidente Jair Bolsonaro já tinha aprovado um salário de R$ 1302 para o ano de 2023, mas Lula aprovou um aumento maior. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a remuneração mínima necessária para uma família de quatro pessoas (dois adultos e duas crianças) seria de R$ 6.388,55 (dado de julho de 2022).
E se essa situação já torna difícil equilibrar as contas em casa, separar um dinheiro para a reserva de emergência ou para investimentos é algo ainda mais complicado. Entretanto, mesmo árduo, dar o primeiro passo em direção à educação financeira pode ser possível e abrir novos caminhos.
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Foi o que aconteceu com Alex Vilela, dono da página ‘empreendedor periférico’, que já conta com mais de 90 mil seguidores no Instagram. Natural de Capão Redondo, em São Paulo, ele teve o primeiro contato com as finanças ainda adolescente, como vendedor de balas nos faróis da região. Hoje ele é parceiro da LTW Consult e Instituto Êxito, voltados para consultoria financeira direcionada ao público de baixa renda.
Na visão de Vilela, educação financeira é essencial, especialmente para quem tem poucos recursos. “Eu tenho a convicção que todo investimento começa com conhecimento. A diferença é quem nasce em uma família mais privilegiada tem mais acesso à informação e educação”, afirma. “O mercado financeiro deveria ter muito mais pessoas de periferia porque nós somos solucionadores de problemas por natureza.”
Além de Vilela, o E-Investidor conversou com as educadoras financeiras Juliana Achcar e Carol Stange. Veja as dicas dos especialistas para começar a investir, mesmo com baixa renda.
Tente renegociar dívidas
Antes de pensar em qualquer tipo de investimento, entenda se você tem dívidas. Até porque, não há nenhum tipo de rendimento que supere o valor cobrado em juros de um cartão de crédito, por exemplo, que podem chegar aos 300% ao ano.
Então, o primeiro passo é elencar suas dívidas e tentar renegociar, se possível. “A pessoa que tem uma renda baixa, tem outros problemas a serem resolvidos antes de começar a investir. Pagar contas, sair de dívidas, tirar o nome do SPC Serasa, tudo isso que é um passo anterior a conseguir investir”, afirma Vilela.
Uma saída que poucos conhecem é a possibilidade de trocar uma dívida ‘cara’ por uma dívida mais ‘barata’. “Dívidas caras são aquelas com juros abusivos, muito altos, como de cartão de crédito ou cheque especial. A pessoa pode tentar negociar um empréstimo consignado, que os juros são um pouco menores, mas sempre com muito planejamento”, explica Achcar.
Separe o que conseguir, não há limite mínimo
Ter uma reserva de emergência é importante para momentos de crise. Por isso, criar o hábito de poupar pequenas quantias ao mês, ou a cada dois meses, poderá fazer a diferença no futuro. Não há limite mínimo, seja R$ 50, R$ 20 ou R$ 5, o importante é ir formando, aos poucos, um pequeno ‘colchão’ para imprevistos.
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“Para a pessoa que ganha um salário mínimo, o primeiro passo é sair das dívidas. O segundo passo é fazer um fundo de reserva”, afirma Vilela. “O caminho é esse, começar a se programar e começar com pouco.”
Poupança não é necessariamente uma vilã
Para quem está iniciando nos investimentos e já tem uma pequena reserva de emergência, a Poupança pode ser uma aliada. Mesmo que ela perca para a inflação, é um investimento simples, sem imposto de renda e com liquidez.
“É um meio de saque rápido de dinheiro. A pessoa de baixa renda tem muitos problemas a resolver, como acabar a luz, o gás ou queimar um chuveiro, comprar material escolar, pagar internet. São coisas que por mais que pareçam simples para alguns, o pessoal mais periférico sofre muito com isso. Então o dinheiro tem que estar aplicado em um lugar simples, de resgate imediato”, explica Vilela.
Essa também é a visão de Achcar. “O pessoal demoniza muito, mas se a pessoa não sabe nem por onde começar, a Poupança pode ser um plano inicial de investimento. Claro que não é o plano ideal, tem opções melhores.”
Já para o público que tem um pouco mais de bagagem, investimentos mais conservadores como Tesouro Selic podem ser opções acessíveis. “Investimentos no Tesouro Direto podem ser feitos com valores iniciais abaixo de R$ 100 e investir é, sem dúvidas, um passo essencial para o futuro financeiro de todos”, afirma Stange.
Educação é o melhor investimento
Se há um investimento que pode dar um retorno excepcional é a educação. Para quem tem poucos recursos, ‘investir’ em educação financeira (mesmo que seja por meio de conteúdos gratuitos) e capacitação pode ser a saída para conseguir aumentar a renda.
“Dependendo da situação, é preciso refletir: o que essa pessoa pode fazer para aumentar a renda dela, para conseguir alguma promoção ou um emprego melhor? Começar um pequeno negócio familiar é possível?”, ressalta Achcar.
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