O setor de energia elétrica na B3 tem histórico de baixa volatilidade e resiliência, mesmo em tempos de crise como a do coronavírus. Por isso, os papéis das empresas que compõem o segmento são considerados defensivos e costumam ser indicados por especialistas do mercado financeiro.
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“Mesmo na crise, a energia continua chegando na sua casa, sinal de que essas empresas estão funcionando”, explica Caio Fernandez, CEO da Ivest. “Não são papéis que vão ter grandes saltos ao longo do tempo, mas tem caráter de proteção e não vão dar grandes problemas ao investidor.”
Apesar de ser um setor essencial e forte, existem pelo menos cinco ações de companhias de energia cotadas por menos de R$6 na Bolsa. É isso que mostra o levantamento exclusivo feito pela plataforma Economatica a pedido do E-Investidor. Seria esse um indício de que as companhias não vão tão bem quanto o esperado?
Nome | Classe | Código | Fechamento (03/12/2020) | |
1 | Eqtl Para | ON | EQPA3 | 3,16 |
2 | AES Tiete E | PN | TIET4 | 3,20 |
3 | AES Tiete E | ON | TIET3 | 3,23 |
4 | Renova | ON | RNEW3 | 5,52 |
5 | Renova | PN | RNEW4 | 5,61 |
O primeiro passo é avaliar a empresa para entender que nem sempre preço baixo quer dizer ação barata, e ter cotação baixa não é necessariamente um indicativo de que a situação da companhia esteja ruim. “O que temos que ver é o valor de mercado dessa empresa em comparação ao valor de todas as ações”, explica Fernandez.
Essa também é a opinião de Ricardo França, analista da Ágora Investimentos. “Temos que analisar caso a caso e ver outras métricas para entender a situação das empresas”, afirma. Vistas as observações, fomos buscar respostas para as cotações de cada papel na lista.
Equatorial Pará (EQPA3)
No primeiro lugar da lista está o papel EQPA3, cotado em R$3,16, da distribuidora e transmissora de energia Equatorial Energia Pará. Na visão de Goulart, trata-se de uma firma pequena e com pouco destaque. “Em vez de comprar ações da filial Equatorial Pará, eu recomendo comprar a Equatorial Energia (EQPL3)”, diz.
A empresa ainda não se recuperou totalmente da crise. No início do ano, os papéis estavam cotados em R$3,44, atingiram o pico de R$5 em janeiro, e depois caíram novamente na faixa dos R$2. “Ainda não se recuperou, mas a dívida está controlada e a geração de caixa também é razoável”, afirma Goulart.
Já para Fernandez, o papel é até uma opção, mas a preferência fica com as ações da AES Tietê. “É uma firma com uma gestão melhor e com ações baratas. A TIET3 está em primeiro lugar.”
AES Tietê (TIET4 e TIET3)
Outros dois papéis na lista das cotações mais baixas do setor elétrico são TIET4, negociado a R$3,20 e em 2º lugar no ranking, e o TIET3, precificado em R$3,23, na 3ª colocação. Ambos são ações da empresa de geração de energia AES Tietê.
“Eu recomendaria a AES Tietê, especificamente a TIET3, porque a ação realmente está barata em relação ao valor de mercado da empresa”, afirma Fernandez. “Se for levar em consideração o balanço patrimonial e os dados contábeis, os papéis deviam valer R$4,77.”
O fato de ser uma distribuidora de energia ajuda na estabilidade dos resultados, mas não está livre de riscos, já que o segmento é muito exposto à ingerência governamental. “Quando a ex-presidente Dilma Rousseff tentou baixar as tarifas elétricas na canetada, por exemplo, as distribuidoras sofreram um pouco, porque as empresas têm custos fixos”, explica Goulart. “De um modo geral, são empresas que mantém a resiliência.”
Os papéis da AES Tietê também são apontados como bons pagadores de dividendos. “O nível de dividendos ao ano é de 6,4%, até melhor que alguns papéis de renda fixa”, analisa o especialista da Polyface. A recomendação, no entanto, não é unânime. Apesar de ser boa pagadora de dividendos, França, da Ágora, não indica a compra no momento. “Ela nos parece bem precificada.”
Renova Energia (RNEW4 e RNEW3)
Entre os cinco papéis que fazem parte do ranking, dois são da empresa de energia renovável Renova Energia. O RNEW4, negociado a R$5,61, e o RNEW3, negociado por R$5,52, são os dois últimos papéis da lista.
De acordo com Fernandez, da Ivest, a Renova é uma companhia com problemas societários, o que torna o investimento uma grande ‘aposta’. “É difícil recomendar o investimento enquanto não for resolvida a situação em governança”, diz. “Por questões internas, não conseguimos analisar os dados da empresa.”
No final de 2019, a distribuidora de energia Light, que tinha 17% de participação na Renova, vendeu suas ações ao fundo CG1 pelo valor simbólico de R$1. A reação veio após o fracasso na tentativa de venda de um parque eólico à AES Tietê, segundo jornal Extra. No início de julho, a companhia protocolou dois pedidos de recuperação judicial.
“É uma empresa pequena, que há pouco tempo tinha margem operacional negativa”, afirma Mario Goulart, analista de Investimentos da Polyface. O especialista alerta ainda que os papéis RNEW4 e RNEW3 não são os mais negociados da companhia. “As operações são feitas mais frequentemente pelo ticket RNEW11, cotado a R$17,13”, diz.
Na segunda semana de novembro, o fundo Spectra Volpi adquiriu uma fatia de 12,31% da companhia.
Outras oportunidades no setor
Fora do ranking, existem outras empresas cujos papéis tiveram melhor performance no ano e que foram recomendadas pelos especialistas. O destaque fica com as companhias de transmissão de energia elétrica. “Transmissão é um segmento mais estável, com empresas que são boas pagadoras de dividendos e que não precisam mais investir tanto no negócio”, declara Goulart. “Alupar e TAESA, são alguns exemplos”, diz.
Atualmente, o ALUP11 e o TAEE11 estão cotados em R$25,15 e R$33,20, respectivamente, e não recuperaram os patamares pré-crise. Essas firmas também estão entre as recomendações de Fernandez. “Adicionaria a Engie Brasil (EGIE3) e Energias do Brasil (ENBR3)”, diz. “No geral, eu diria que o setor elétrico está barato.”