- Diferentemente dos últimos sete encontros, a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) desta quarta-feira (19) não terminou com um corte na taxa básica de juros
- Pela primeira vez desde agosto de 2023, a decisão foi por manter a Selic “estacionada” no mesmo patamar do mês anterior. Ou seja, em 10,5% ao ano
- Dentro deste contexto, de juros mais altos por mais tempo, as estratégias em renda fixa estão sendo revistas. Se antes, por exemplo, havia uma concentração de investidores em títulos prefixados, hoje já é observada uma migração para outros indexadores
Diferentemente dos últimos sete encontros, a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) da última quarta-feira (19) não terminou com um corte na taxa básica de juros. Pela primeira vez desde agosto de 2023, a decisão foi manter a Selic “estacionada” no mesmo patamar do mês anterior. Ou seja, em 10,5% ao ano.
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Por trás da manutenção da Selic, está uma forte inversão de perspectivas econômicas. No início do ano, o consenso entre economistas, expresso no Boletim Focus do Banco Central, era de que o juro terminaria 2024 em 9% ao ano. Atualmente, a expectativa já é de que a taxa continue em 10,5% ao ano até dezembro. Portanto, sem cortes adicionais.
A mudança nas projeções acontece na esteira de surpresas negativas na política monetária dos Estados Unidos e o cenário fiscal no Brasil. No início do ano, o mercado trabalhava com a hipótese de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) iniciaria os cortes de juros ainda no primeiro semestre. Neste cenário, com a renda fixa da principal economia do mundo rendendo menos, as Bolsas globais seriam beneficiadas.
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Contudo, essa previsão não se concretizou. Ainda hoje não se tem clareza sobre quando o Fed conseguirá cortar os juros nos EUA, que seguem entre 5,25 e 5,5% ao ano, maior nível em mais de duas décadas.
Já no mercado doméstico, as mudanças nas metas estabelecidas no arcabouço fiscal e a perspectiva de aumento de gastos pelo Governo, alimentaram a desvalorização do real e uma reavaliação das expectativas para a inflação e juros no Brasil.
“A deterioração das expectativas fiscais engatilhou reprecificação do câmbio. Se esse cenário de desvalorização do real se mantiver, teremos um efeito inflacionário, que certamente limita a atuação da autoridade monetária”, afirma José Cláudio Securato, doutor em economia e presidente da Saint Paul escola de negócios.
Movimentações na renda fixa
Na esteira de juros mais altos por mais tempo, as estratégias em renda fixa estão sendo revistas. Se antes, por exemplo, havia uma concentração de investidores em títulos prefixados, hoje já é observada uma migração para outros indexadores. É o que aponta Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. “Quem estava posicionado em prefixado, tem que ficar atento. A discussão sobre se vai ser necessário subir a taxa de juros antes do esperado está crescendo”, diz Cruz.
Vale lembrar que papéis prefixados possuem uma remuneração fixa “garantida” ao ano, mas só se o investidor levar o título até o vencimento. Em caso de vendas antecipadas, esses papéis sofrem com efeitos da chamada “marcação a mercado”. Em resumo, quando as perspectivas para os juros sobem — como agora — a tendência é de que os prefixados desvalorizem na carteira.
O mesmo pensamento pode ser aplicado para os títulos IPCA+, que remuneram a variação da inflação no período mais uma taxa prefixada ao ano. “Quem comprou IPCA+ (no início do ano) está perdendo dinheiro, já que os títulos estavam pagando cerca de 5% ao ano. Hoje, a taxa está chegando a 6,2% ao ano”, diz Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos.
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Contudo, isso não significa que é necessário vender os títulos IPCA+. Para Costa, o momento é de comprar mais papéis atrelados à inflação para aproveitar o rendimento real acima de 6%. Os pós-fixados, títulos atrelados ao CDI ou Selic, também são boas opções. Esses papéis são mais conservadores, remuneram a variação dos juros, geralmente possuem liquidez diária e não sofrem com os efeitos da marcação a mercado. “O que vale evitar nesse momento é o prefixado. Esses títulos estão com taxas de 12% ao ano, quase o mesmo nível que os pós-fixados. Portanto, não acho que faça sentido o investimento”, diz Jansen.
Gabriel Tossato da Siva, especialista de Investimentos da Ágora, também aponta oportunidade nos pós-fixados. “No início do ano, a projeção apontava para um corte mais acentuado e célere da Selic. Com a revisão das expectativas para cima, muito também em função da postergação do início de queda de juros nos EUA, a visão é de que o CDI continua atrativo”, afirma Tossato. Os títulos IPCA+ seguem na mira. “Antes já tínhamos uma visão positiva para alocação nesses ativos. Agora, vemos como ainda mais atrativos.”
A mesma recomendação é compartilhada por Filipe Arend, head de renda fixa da Faz Capital. “Por meio do IPCA+, o investidor possui proteção contra uma eventual retomada da inflação, e pode se beneficiar caso as expectativas de juros voltem a ceder”, diz. “Em um horizonte de curto prazo, os títulos pós-fixados indexados ao CDI devem continuar entregando rentabilidades atrativas, com a taxa básica de juros permanecendo na casa dos dois dígitos.”
Prefixados também valem
As opiniões sobre a realocação da renda fixa não são unânimes. Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, aposta nos prefixados e IPCA+ para garantir uma rentabilidade alta para os próximos anos – desde que o investidor consiga levar até o vencimento.
“Nossa indicação é aumentar um pouquinho o percentual em inflação e prefixado. Esse recurso teria que sair obviamente dos pós-fixados”, diz Saadia. “Isso tudo para uma pessoa que pretende investir em prazos mais longos, acima de dois anos.”
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