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- Do ponto de vista macroeconômico, semelhante ao Brasil, os estadunidenses estão pressionados pelo juros e pela alta dos preços de bens e produtos nos EUA
- Quando se olha para o setor de varejo americano, as companhias locais são muito mais diversificadas do que as brasileiras
- A XP realizou um estudo com as maiores varejistas dos EUA, e o que foi percebido é que apenas a Amazon não tem uma margem Ebitda consistente, com fluxo de caixa livre
Após a Americanas (AMER3) apontar um rombo de R$ 47 bilhões no caixa, por conta de risco sacado, o mercado ficou atento sobre como está o cenário de varejo doméstico, visto que também há uma pressão no poder de compra dos brasileiros por conta da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Esse cenário negativo também levou os investidores a ficarem de olho no exterior, tanto que a XP lançou um relatório sobre como estão as varejistas norte-americanas, documento que foi obtido em primeira mão pelo E-Investidor.
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Do ponto de vista macroeconômico, semelhante ao Brasil, os estadunidenses estão pressionados pelo juros e pela alta dos preços de bens e produtos nos EUA. O Federal Reserve (Fed, ou banco central) apresentou posicionamentos mais hawkishs (duros) nos últimos meses, o que pressionou o poder de compra da população local. E, apesar da inflação do consumidor (CPI) ter desacelerado desde seu pico, de 9,1% em julho de 2022, os valores seguem elevados, também pressionando os consumidores.
“Com o resultado desses dois fatores, o balanço financeiro das famílias americanas está se deteriorando. E, portanto, há uma expectativa mais negativa para o setor de varejo”, dizem Jennie Li e Rafael Nobre, analistas da XP. Esses dados afetaram tanto as pessoas, que o percentual disponível da renda mensal para investir após pagar todos os gastos familiares é de 3,4% – o valor é quase 6 ponto percentual (p.p) menor que do período pré-pandemia.
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Os especialistas ressaltam ainda que apesar do salário subir neste ano, o crescimento real (quando abatida a inflação) se encontra negativo nos últimos 22 meses. “Esse cenário totalmente negativo já começa ser refletido no balanço das varejistas”, dizem Li e Nobre. Tanto que as vendas de novembro e dezembro recuaram 1,0% e 1,1%, respectivamente.
Destrinchar o mercado
Quando se olha para o setor de varejo americano, as companhias locais são muito mais diversificadas do que as brasileiras – que em grande maioria são focadas no e-commerce. Por exemplo, os Estados Unidos trabalha com nichos atrelados ao mercado automotivo, de produtos domésticos, lazer, entre outros.
Assim, os analistas da XP identificam ainda três fatores que devem ser observados no momento de se analisar o setor: capacidade de repasse de preços; investimentos em automação; e presença digital. “As companhias que estiverem bem posicionais nessas três frentes deverão não só entregar um melhor desempenho em um cenário inflacionado, como também deve ter melhores perspectivas de rentabilidade e crescimento”, afirmam.
No primeiro aspecto, com a inflação, o setor continuará em uma forte pressão de custos. “A capacidade de repasse de preços das varejistas é um fator relevante para os resultados, visto que a manutenção das margens (lucro x receita) é um pouco mais complexa neste cenário”, aponta o relatório.
No segundo aspecto, investir em automação se é necessário quando a velocidade de pedidos por parte dos consumidores está cada vez mais rápida. Ou seja, é preciso suprir a demanda virtual para não perder determinada fatia de mercado.
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Quanto ao terceiro ponto, ter uma “forte estrutura omnichannel (conexão entre o presencial e on-line de uma loja) e de e-commerce deverão ser um grande foco no setor. As companhias que já possuem uma boa infraestrutura digital devem se sair melhor”.
Empresa por empresa
A XP realizou um estudo com as maiores varejistas dos EUA, e o que foi percebido é que apenas a Amazon não tem uma margem Ebitda consistente, com fluxo de caixa livre. O indicador é utilizado para avaliar a produção das empresas, informando o lucro da companhia antes dos descontos com impostos, juros, amortização e depreciação. O levantamento considerou as varejistas: Amazon, Walmart, Lowes, Home Depot, Estee Lauder, Booking Holdings, Target, Costco, Nike e McDonald’s.
Ao mesmo tempo, com exceção ao McDonald’s, que acaba por se alavancar pelo caráter mais defensivo e estável de suas receitas, “todas as outras varejistas tem um nível saudável de dívida líquida/Ebitda”, destacam Li e Nobre. Ou seja, as companhias não devem ter problemas para realizar o pagamento de seus débitos.
O texto ainda pontua que “todas as companhias estão em uma posição confortável em suas indústrias e nichos de atuação. De modo geral, possuem sólido histórico de resultados e contam como uma forte presença nos mercados em que atuam.”
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Mesmo assim, de forma geral, Li não gosta muito do setor de varejo nesse momento, por conta das questões macroeconômicas. Mesmo que estejam melhores que a Americanas (AMER3), “as varejistas internacionais não são as melhores opções hoje. Prefiro uma exposição mais defensiva e menos cíclica para os EUA dado os riscos de recessão no horizonte”, afirma a especialista.