- Banco de investimentos dedicou ao bitcoin seis das 45 páginas do relatório “Panorama da Economia Implicações das Políticas Monetárias para Inflação, Ouro e Bitcoin”
- Analistas questionam a classificação das criptomoedas como moedas soberanas ou ativos. Razões que vão da volatilidade ao risco de fraude
- Relatório motivou críticas de proprietários e entusiastas de criptomoedas na internet
O bitcoin é um investimento ruim. Essa é a afirmação do Goldman Sachs, em relatório distribuído a seus clientes na quarta-feira (27), que motivou várias críticas de proprietários e entusiastas de criptomoedas na internet.
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O banco de investimentos dedicou ao bitcoin seis das 45 páginas do relatório “Panorama da Economia Implicações das Políticas Monetárias para Inflação, Ouro e Bitcoin”. No material, seus analistas questionam a classificação das criptomoedas como moedas soberanas ou ativos. Razões que vão da volatilidade ao risco de fraude, passando por uma comparação com a “febre das tulipas”, primeira bolha especulativa de que se tem notícia, no século XVII.
Estes são os principais pontos elencados pelo estudo:
O bitcoin é uma moeda?
A primeira preocupação do relatório do Goldman Sachs é definir o seu entendimento do que seria o bitcoin. Para isso, resgata quais seriam os três critérios para definir uma moeda soberana:
- Representam um meio de troca. Ou seja, podem ser usadas na transação de bens e serviços entre duas partes.
- Servem como unidade contábil. Assim, podem atribuir valor por comparação a algo. Como dizer que um barril de petróleo vale US$ 33.
- São uma reserva de valor. Esse é um ativo, na explicação do Goldman Sachs, que pode servir de base para predizer o valor estável de algo, como indicar quanto R$ 1 nominal hoje valerá em dez anos, considerando a inflação prevista para o período.
Embora não seja afirmativo, este trecho do relatório indica que o Goldman Sachs não vê o bitcoin na mesma classe de moedas soberanas, como o dólar.
O bitcoin é um ativo?
Neste aspecto a resposta do Goldman Sachs é mais definitiva: não é um ativo. E o relatório lista os cinco principais motivos para essa conclusão.
- Não gera fluxo de caixa como títulos;
- Não gera nenhum retorno mediante exposição ao crescimento econômico global;
- Não produz diversificação consistente de benefícios dada sua instabilidade;
- Não reduz essa volatilidade (a média histórica é 76%);
- Não protege o investidor contra uma diminuição no poder de compra da moeda.
Por isso, o relatório é direto ao dizer que “um título cuja apreciação depende de alguém principalmente estar disposto a pagar mais caro por ele não é um investimento adequado” e que “embora fundos de hedge possam achar as criptomoedas atraentes devido à volatilidade, isso não constitui uma lógica viável de investimento”.
Não há escassez real de bitcoin
As criptomoedas trabalham com um estoque limitado de unidades, para preservar a escassez, elemento primordial da atividade econômica. No entanto, o Goldman Sachs não vê as criptomoedas como um recurso de fato escasso.
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Justifica essa afirmação com o fato de três das seis criptomoedas mais vendidas serem o que o banco chama de “clones”: bitcoin, bitcoin cash e bitcoin SV. Ou seja, a escassez seria forjada com essas moedas-clone.
As criptomoedas podem financiar atividades ilegais
Uma das principais críticas às criptomoedas é a sua suscetibilidade ao uso em atividades ilegais, e o relatório ataca diretamente esta fragilidade.
O banco de investimentos cita atuações de hackers que sequestram redes de computador e exigem o pagamento do resgate em bitcoins; o uso de US$ 2,8 bilhões em bitcoins para lavagem de dinheiro ao longo de 2019; a transformação das criptomoedas na moeda oficial de negociações ilegais na deep web e a promessa de retornos expressivos para quem investir em bitcoins sem os devidos alertas de risco, com a única intenção de lesar investidores.
A infraestrutura das criptomoedas é recente e sujeita a ataques e perdas
O Goldman Sachs reconhece que uma criptomoeda só pode ser negociada com a ativação das chaves privadas correspondentes dos dois envolvidos na transação. No entanto, ao identificar que vários portadores de criptomoedas deixam essas informações sob custódia de terceiros, o relatório aponta esses usuários como vítimas em potencial de hackers.
Outro ponto levantado pelo banco é que o erro ou a perda das chaves de uma criptomoeda podem gerar prejuízos irrecuperáveis aos usuários. Cita um prejuízo acumulado de US$ 500 milhões porque as chaves se tornaram acessíveis, em casos como da QuadrigaCX (a única pessoa com acesso às chaves morreu) e da Parity (erro de código).
As criptomoedas são mais uma bolha econômica?
Em relatórios anteriores, de 2017 e 2018, o Goldman Sachs já apontara o risco de as criptomoedas configuraram uma bolha. Repetiram a dose neste relatório, ao comparar o bitcoin à “mania das tulipas”. Na Holanda do século XVII, houve uma onda especulativa em torno de compra e venda de uma variedade de tulipas, atingindo inclusive o mercado futuro.
Os preços das tulipas subiram 485% até a bolha explodir. O bitcoin já acumula uma valorização de 2.292%.
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