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Bradesco (BBDC4): analistas projetam dividendos de até 9%; hora de comprar?

Com nova gestão, expectativa do mercado é de melhora na rentabilidade, mas ainda há cautela no crédito

Bradesco (BBDC4): analistas projetam dividendos de até 9%; hora de comprar?
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
  • A chegada de Marcelo de Araújo Noronha ao cargo de CEO do Bradesco (BBDC4) foi bem recebida pela Faria Lima
  • A expectativa é que o lucro e o ROE já comecem a reagir no curto prazo, mas não o suficiente para superar os pares, segundo especialistas
  • E para quem quer dividendos, qual é a hora certa de se posicionar na ação? Veja as análises

Mudança de rota e uma tentativa de recuperar a rentabilidade do passado, esses foram os sinais que o mercado captou com a chegada de Marcelo de Araújo Noronha ao cargo de CEO do Bradesco (BBDC4) para substituir Octávio de Lazari Júnior. E a mudança foi bem recebida pela Faria Lima, dado o histórico de queda do ROE (Retorno sobre o Patrimônio Líquido) e o aumento da inadimplência que o banco já amargava há alguns trimestres.

A queda dos juros já anuncia dias melhores, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido pelo Bradesco para recuperar o tempo perdido, apontam os analistas. A expectativa é que o lucro e o ROE já comecem a reagir no curto prazo, mas não o suficiente para superar os pares. E para quem quer dividendos, qual é a hora certa de se posicionar na ação? Agora ou é melhor esperar? O E-investidor consultou alguns especialistas e apresenta alguns cenários a seguir:

Passando a tesoura em tudo…

Não é crise, mas está na hora de cortar gastos, pelo menos este é o cenário que o mercado já projeta para a nova gestão de Noronha no Bradesco. “Fechar o bolso” virou palavra de ordem.

Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, explica que o principal desafio da gestão do novo CEO será recuperar o índice de eficiência do Bradesco, que nada mais é do que a relação das despesas divididas entre o produto bancário – ou seja, ou o Bradesco precisaria reduzir as despesas ou aumentar os produtos bancários para este objetivo.

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Acontece, segundo Nigri, que um aumento nos produtos seria complexo para o banco, que diante da sua inadimplência elevada está mais seletivo com os clientes aos quais concede crédito. Desta forma, reduzir despesas ficou como a única opção viável.

Nigri avalia que a estrutura do Bradesco é muito inchada, com muitas diretorias e remunerações pagas a diretores e administradores. Ele lembra que uma reestruturação e corte de gastos semelhante foi feita no Itaú no passado, quando Milton Maluhy Filho chegou para suceder a Cândido Bracher e por sinal “Foi muito benéfico para o Itaú”, reforça.

Embora tenha que reduzir despesas, há melhorias que precisam de atenção, por exemplo o desenvolvimento tecnológico e o atendimento nas agências, que ficou um pouco desfasado diante dos pares, observa Renato Reis, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos. “São coisas que não se mostram com números, mas são de percepção e dá para sentir que o Bradesco ficou atrás dos concorrentes e vai ser necessário resolver presencialmente”, aponta.

Inadimplência

A inadimplência elevada é outra das marcas registradas na história do Bradesco, após uma safra de crédito ruim que fez esta disparar.

Milton Rabelo, analista do setor financeiro da VG Research, acredita que a gestão de Noronha pode buscar estabilizar o índice de inadimplência, o que permitiria uma maior originação de crédito. Segundo o analista, nos próximos trimestres a melhora deve ser lenta e gradual.

Para Reis, o trabalho do novo CEO acontece realmente depois de finalizar as safras de crédito ruins, com a decisão de quais produtos e clientes o banco terá na carteira de crédito no futuro.

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Reis destaca que a inadimplência já apresentou sinais de queda e deve continuar nessa tendência, fazendo com que o ROE do Bradesco possa melhorar nos próximos trimestres.

Crédito seguro

Mesmo diante de melhoras no cenário econômico e de inadimplência, os analistas concordam que o Bradesco deve manter uma postura conservadora ainda por um bom tempo, isto é, priorizando crédito seguro e spread (taxas) menores.

Para Nigri a concessão de crédito deve focar em produtos que tenham garantia “São produtos que tem um retorno menor, mas em compensação menos possibilidade de inadimplência”, comenta. O analista acredita que o Bradesco use esta estratégia pelo menos até acabar com a safra de crédito ruim que ainda possui no portfólio.

Reis partilha a mesma visão e acredita que mesmo com melhorias operacionais e crescimento na carteira, o Bradesco ainda deve se manter no crédito seguro por alguns meses.

Na visão de Rabelo, pode haver um aumento gradual na originação de crédito para safras de melhor qualidade em função das melhorias recentes.

E o lucro e ROE?

Diante da redução da inadimplência prevista para os próximos trimestres, o conservadorismo na safra de crédito e a redução de custos na operação do Bradesco, analistas já projetam crescimento no lucro e no Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE).

Para Rabelo, a expectativa é ter um lucro de R$ 23 bilhões em 2024 e um ROE de 13,8%. Reis, da DV Invest, projeta um ROE de 13% e um lucro de R$ 22 bilhões.

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Já Nigri, espera por um lucro de R$ 21 bilhões.

Vale a pena para dividendos?

Os analistas estão divididos sobre o cenário para dividendos. Para alguns, vale a pena aproveitar o desconto da ação com um objetivo de médio e longo prazo, enquanto para outros ainda é muito cedo para se posicionar no papel e existem outras alternativas que poderiam entregar dividendos maiores no curto prazo.

Para Nigri, da Dica de Hoje Research, o banco está barato e tem capacidade de entregar dividendos entre 7% e 7,5% em 2024. Ele recomenda a compra do papel até o preço de R$ 20.

Na VG Research a recomendação é de compra, mas apenas para o investidor que esteja pensando em usufruir do desconto da ação atualmente com uma perspectiva de médio ou longo prazo (ou seja a partir de 2 anos ou mais de investimento). Rabelo espera que as ações BBDC4 apresentem um dividend yield (retorno em dividendos) de 7% em 2024. O preço máximo aconselhável para compra é de R$ 16,50.

Mas para quem prefere receber dividendos elevados já logo no curto prazo, Rabelo tem como preferida a ação do Banco do Brasil (BBAS3) com dividend yield projetado de 9% para 2024.

Reis, da DV Invest, é mais cético com a companhia e embora reconheça que está barata não aconselha a compra. O analista espera que o Bradesco tenha um dividend yield de 4% em 2024. Mas diz que prefere o Itaú, que pode entregar entre 4,5% e 5,5% de proventos no próximo ano.

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Na Levante Investimentos, a recomendação para o papel é neutra, com preço alvo de R$ 19, segundo o analista do setor, Matheus Nascimento. Em relatório da casa, Bradesco também está presente na carteira de dividendos, com valor de entrada até R$ 18, sendo que o banco ocupa 5% do portfólio. A projeção é de um dividend yield de 9,02%.

Segundo os analistas, Noronha terá a missão de reinventar o Bradesco, com estratégias que incluem reformular o varejo, ter maior ênfase na experiência do cliente, revisão dos canais digitais e foco na alta renda. “Suas declarações iniciais indicam consciência dos desafios e a necessidade de enfrentá-los com uma visão renovada”, consta no relatório.

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