- Nesta quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu subir a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano
- Está é a segunda elevação feita no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - e não deve ser a última
- De acordo com o Boletim Focus, relatório que reúne projeções do mercado sobre dados macroeconômicos, a “Selic” deve chegar a dezembro em 11,75% ano
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (6) subir a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto porcentual, para 11,25% ao ano. Esta é a segunda elevação feita no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – e não deve ser a última. De acordo com o Boletim Focus, relatório que reúne projeções do mercado sobre dados macroeconômicos, a Selic deve chegar a dezembro em 11,75% ano. Ou seja, com mais 0,5 ponto porcentual de alta.
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Esse cenário representa uma grande virada em relação à conjuntura esperada em janeiro. No início de 2024, a expectativa era de que os juros continuassem em trajetória de queda e chegassem ao patamar de 9% até o final do ano, com vistas a descer para 8,5% em 2025. Hoje, o consenso aponta para uma Selic de 11,5% no ano que vem, com cortes mais relevantes somente a partir de 2026.
A reviravolta acontece em função das preocupações do mercado com o cenário fiscal do País. Os agentes econômicos ainda não enxergam medidas que resultem em uma estabilização da trajetória da dívida pública. Pelo contrário, as perspectivas, agora, são de crescimento dos gastos.
Alguns dados que assustaram vieram, por exemplo, do déficit primário das estatais entre janeiro e agosto. O montante chegou a R$ 7,2 bilhões, segundo o Banco Central (BC), o maior patamar da série histórica iniciada pela autoridade monetária há 22 anos. O governo chegou a publicar uma nota afirmando que, deste valor, R$ 3,3 bilhões se referiam às empresas públicas federais. Contudo, não diminuiu a surpresa negativa com o número. Paralelamente, o novo arcabouço fiscal, que já nasceu desacreditado em função da dependência do aumento de receitas, enfrenta ainda mais questionamentos.
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Tudo isso gera a percepção de risco fiscal maior e, por consequência, leva a uma leitura de que a inflação e os juros deverão ser mais altos no futuro. Agora, o mercado aguarda uma sinalização do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre cortes de gastos.
“Ninguém esperava isso (aumento de juros) até seis meses atrás. Uma mudança dessa magnitude é bem complicada”, afirma Rodrigo Cohen, analista de investimentos. “O mercado não gosta dessa política progressista de Lula. Temos o dólar lá em cima quase nas máximas da história em termos nominais. Então o BC tem que fazer a parte dele, sendo uma instituição autônoma, independente.”
Por outro lado, há quem veja um certo exagero nas projeções traçadas pelo mercado. Isto porque, hoje, a inflação não está fora de controle. Em 12 meses, entre setembro de 2023 e setembro de 2024, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, acumula alta de 4,42%. O crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre ficou acima das expectativas e a nota de crédito do Brasil foi elevada de Ba2 para Ba1 pela agência Moody’s de classificação de risco.
A Selic 11,25% ao ano também coloca o Brasil como o terceiro país de maior juro real do mundo, ou seja, descontando a inflação. Os dados são da MoneYou. “Dado o nível atual de juros, acredito que uma alta adicional poderia ter efeitos restritivos demais sobre o crescimento. O BC deve avaliar o cenário com atenção e, se possível, sinalizar uma pausa, observando se a inflação responde aos ajustes já feitos”, destaca Elaine Domenico, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital.
Renda fixa com a Selic mais alta
Os juros mais altos devem continuar dificultando a captação dos fundos multimercados, que acumulam resgates de R$ 198,2 bilhões em 2024, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). As empresas mais endividadas da Bolsa também devem sofrer mais com juros altos. Por outro lado, a renda fixa se beneficia da alta de juros, já que grande parte dos ativos tem parâmetro na Selic.
Simone Albertoni, especialista da Ágora Investimentos, aponta que o mercado havia precificado antecipadamente essa nova alta dos juros. Por isso, os prêmios dos títulos de renda fixa já haviam incorporado a elevação nas taxas. Para a analista, as maiores oportunidades estão nos pós-fixados e IPCA+. Ou seja, nos papéis que acompanham a variação dos juros e possuem liquidez diária, como Tesouro Selic, e aqueles que pagam a variação da inflação mais um rendimento real, como o Tesouro IPCA+.
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“Muitos títulos de renda fixa tiveram suas taxas aumentadas, com oportunidades de investimentos interessantes nos atuais níveis de preços”, diz Albertoni. Entretanto, o investidor deve ficar atento aos vencimentos devido à marcação a mercado. Com exceção dos pós-fixados, as demais categorias de títulos de renda fixa (prefixados e IPCA+) sofrem com volatilidade. Os preços desses papéis variam diariamente conforme as expectativas econômicas. Em termos gerais, quando os juros sobem, esses ativos desvalorizam na carteira, de forma que vendas antes do vencimento podem fazer o investidor perder dinheiro. Já quando os juros caem, os cupons se valorizam.
O que fazer em momentos de oscilação dos juros?
Para fugir dessa oscilação, é preciso deixar o capital até o vencimento do título. Assim, o investidor terá exatamente a rentabilidade contratada na compra. “Uma exposição maior em renda fixa pode ser recomendada em momentos de Selic elevada, pois garante segurança e retornos consistentes. No entanto, o perfil do investidor é fundamental: quem busca longo prazo e tolera oscilações pode manter uma parcela de diversificação em ativos de risco”, afirma Domenico, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital.
Essa também é a visão de Cohen. “Gosto muito do Tesouro Selic e do Tesouro IPCA+, que está pagando uma taxa bem alta, quase 7%, com juros subindo. A gente tem o preço do Tesouro cada vez mais baixo porque as taxas vão aumentando”, diz o analista. “Se você entra agora, é ruim para o curto prazo, mas é bom para o longo prazo.”
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Já os títulos prefixados seriam mais arriscados nesse momento. “Não sabemos até onde os juros podem ser elevados. Mercado fala de taxas acima de 12% para o ano que vem”, afirma Cohen.
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Segundo levantamento feito por Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank, o conservador Tesouro Selic, papel mais seguro do mercado, deve apresentar uma rentabilidade bruta de 12,99% em 12 meses. Considerando os descontos de Imposto de Renda (IR), o retorno líquido deve ficar em 10,5% ao ano. Descontando a inflação, o ganho real ainda é bastante positivo, de 6,17%.
Entre os instrumentos de renda fixa levantados, o maior rendimento ficou com os ativos incentivados, que possuem isenção do IR, como as Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs) e debêntures. Entretanto, a liquidez costuma ser menor, o que significa que o investidor pode não conseguir resgatar o dinheiro a qualquer tempo. Os cálculos foram feitos com base nas projeções para os juros futuros expressas nos contratos de DI. Também foram aplicadas ao cálculo as expectativas inflação do último Boletim Focus, de 4,08% para os próximos 12 meses.
“Dado desse aumento de juros futuros, as rentabilidades da renda fixa subiram bastante. Todos os produtos da simulação tiveram aumentos de retornos. Esses momentos de incerteza podem ser boas oportunidades para travar taxas mais altas”, afirma Haddad, planejador financeiro do C6 Bank.
Veja a simulação da renda fixa com o aumento da taxa básica de juros Selic:
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