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BC deve elevar Selic a 13,75%. Há consenso para novas altas?

Caso a projeção majoritária seja confirmada, será a taxa mais alta desde janeiro de 2017

Uma das principais respostas à inflação é a taxa Selic, regulada pelo Banco Central. (Fonte: Jo Galvão/Shutterstock/reprodução)

(Thaís Barcellos) – Nesta quarta-feira (3), o Banco Central deve elevar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 13,25% para 13,75% ao ano.

A 12ª alta seguida, e é crescente a corrente no mercado financeiro que espera que o ciclo continue em setembro, para buscar uma inflação “ao redor” do centro da meta (3,25%) em 2023.

Para economistas consultados pelo Broadcast, o BC deve ao menos deixar a porta aberta para um novo aperto da Selic diante do estouro das expectativas inflacionárias, das surpresas com a atividade econômica e do enfraquecimento do teto de gastos. Veja o que o investidor deve monitorar nesta quarta-feira

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Com um aumento em setembro, a taxa chegaria ou ficaria bem próxima do seu último pico, de 14,25%, que durou de julho de 2015 a outubro de 2016. Como daquela vez, a perda de credibilidade fiscal é um dos motivos que explicam a dose cavalar de juros, mas agora o choque inflacionário global também dá sua contribuição, pontuam os especialistas.

Desde a reunião de maio, o BC sinaliza a intenção de encerrar o processo, que já é o mais longo da história do Comitê de Política Monetária ( Copom) e o mais forte choque de juros desde 1999, com alta acumulada de 11,75 pontos porcentuais, incluindo a elevação esperada para esta quarta-feira.

Das 51 instituições financeiras consultadas pelo Projeções Broadcast, 49 projetam alta de 0,50 ponto porcentual da Selic, de 13,25% para 13,75% ao ano. Caso a projeção majoritária seja confirmada, será a taxa mais alta desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75%.

Há consenso no mercado?

O consenso do mercado segue a sinalização dada pelo BC no último Copom, em junho, de nova alta de juros de menor ou igual magnitude (0,50pp). Naquela reunião, o BC ainda indicou que mirava uma inflação mais próxima do centro da meta de 2023 (3,25%) do que sua projeção de 4,00%.

A estratégia para tal também incluía uma Selic mais restritiva por um período maior do que apontava o Boletim Focus. Agora, no encontro de agosto, a inflação de 2024, para qual o BC projeta 2,7% (aquém da meta de 3,0%), entra no horizonte relevante, mas com menor peso do que 2023.

A expectativa do mercado é de que a projeção do BC para o IPCA – índice de inflação oficial – de 2023 avance, embora aquém do que prevê o Focus (5,33%), já bem acima do teto de 4,75%. Na XP Investimentos, a expectativa é de que suba a 4,6%. Já o Itaú Unibanco prevê 4,3%.

Além da piora da projeção oficial, os economistas consultados destacam que o cenário doméstico trouxe más notícias quando se trata de controle da inflação. A atividade econômica está mais forte do que o esperado e não deve ceder no curto prazo com os auxílios distribuídos pela PEC ‘Kamikaze’. E a nova ofensiva fiscal reduz ainda mais a credibilidade do teto de gastos, o que afeta o balanço de riscos, além dos preços de ativos.

“Acho que o BC vai deixar a porta aberta para outra alta de mesma ou menor magnitude, o que seria entre 0,50pp e 0,25pp em setembro. Desde o último Copom, o BC viu as expectativas piorando bem e o fiscal muito pior, tanto em termos de risco quanto de incentivo à demanda. Lá fora a atividade está mais fraca, mas aqui está bem mais forte mesmo”, destaca o economista-chefe da Garde Asset, Daniel Weeks, que espera que a Selic alcance 14,25% no mês que vem.

O economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, espera ajuste residual de 0,25pp em setembro, para 14,00%, fechando o ciclo. O economista aponta os abalos sofridos pelo teto de gastos e o choque inflacionário global como pano de fundo para o choque de juros neste ciclo.

“A questão global Marca uma diferença importante em relação a 2015. Naquele momento o mundo era marcado por inflação baixa e juros baixos, mas agora temos um mundo com juros subindo rapidamente para conter uma inflação muito elevada.”

Já o economista-chefe da Trafalgar Investimentos, Guilherme Loureiro, avalia que o BC pode encontrar, neste momento, a brecha que vem procurando para finalizar o processo de aperto monetário, que já é muito significativo. Ele cita o cenário de desaceleração global, que já moderou um pouco os preços de commodities, e o arrefecimento da inflação brasileira no curto prazo, com o efeito da redução de impostos, mas também com alguns sinais melhores de bens industriais.

“Acho que as expectativas de inflação de 2023 já alcançaram o pico. Mas o BC não deve fechar a porta, deve tentar ser um pouco mais ‘data dependent’, como todos os BCs do mundo estão fazendo agora. A melhora do cenário de inflação deve ficar mais clara em setembro.”

Da mesma forma, a XP espera para amanhã a última alta de juros neste ciclo, para 13,75%, mas avalia que o BC não deve anunciar o fim do processo agora. “Com as pressões inflacionárias globais começando a diminuir, acreditamos que o Copom finalmente fará a pausa que vem sinalizando há algum tempo”, diz, em relatório.

“Reconhecemos, porém, que o Comitê pode optar por ir um pouco mais longe, para garantir que o IPCA recue adiante”, completa, citando a falta de clareza sobre o arcabouço fiscal em 2023 como o maior risco para a política monetária.