A primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano acontece nesta quarta-feira (29) sob a liderança do economista Gabriel Galípolo, o novo presidente do Banco Central (BC). A expectativa é que o Comitê promova mais um ajuste na taxa de juros, a Selic, elevando-a em 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano.
Economistas consultados pelo E-Investidor acreditam que o BC deve cumprir o planejamento de 2024, definido por Roberto Campos Neto, de uma elevação igualmente intensa para a reunião de março, no que se configura como um movimento alinhado com o foco na contenção da inflação.
O mercado financeiro, por sua vez, não antevê grandes alterações nos parâmetros econômicos que justifiquem mudanças abruptas na estratégia do Copom. Apesar disso, há expectativa de que o colegiado adote um tom mais flexível a partir do segundo trimestre, quando o cenário poderá permitir ajustes mais graduais e uma postura mais adaptável às condições econômicas emergentes.
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“Essa reunião do Copom será um marco importante para Galípolo, dando o tom de sua gestão no Banco Central”, diz o analista da Aware Investments, Gabriel Carris.
A certeza da alta entre economistas e investidores também está apoiada ao que Galípolo disse, em dezembro do ano passado, sobre a importância de seguir a orientação anterior do BC, conhecida como guidance, que é a comunicação das intenções do Banco Central em relação à política monetária. Ele afirmou que, para fazer qualquer mudança no guidance, o padrão seria bem rigoroso, ou seja, seria necessário um motivo muito forte para ajustar as expectativas previamente estabelecidas.
Para Oscar Frank, consultor econômico da RJI Investimentos, o mercado está em compasso de espera. “Essa reunião será importante não pelo resultado em si, mas por outras questões, como a visão dos membros acerca da atual conjuntura e do cenário prospectivo para o IPCA, além da forma de comunicação”.
O papel de Galípolo e as expectativas do mercado financeiro
Segundo Carris, tudo indica que o Copom deve aumentar mesmo a Selic para 13,25% ao ano, e que ignorar essa sinalização pode surpreender o mercado e provocar maior volatilidade. “O mercado está acompanhando Gabriel Galípolo com cautela. Apesar de ele ter reforçado o compromisso com a independência do BC e adotado um tom conservador em relação aos juros, os investidores ainda estão atentos para ver se ele consegue manter essa postura, especialmente considerando sua proximidade com o presidente Lula”, afirma.
Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, aponta que, ao tomar decisões sobre a taxa de juros, Galípolo precisará considerar a inflação como um dos principais pontos de atenção, com o Comitê precisando ajustar a política monetária para manter os preços dentro da meta estabelecida, o que considera “que seria um quadro extremamente preocupante para o país”.
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Além disso, é fundamental avaliar os impactos das taxas de juros no crescimento econômico, buscando equilibrar a necessidade de controlar a inflação sem prejudicar a atividade econômica. Outro fator importante é o cenário fiscal, com Galípolo precisando considerar as políticas fiscais do governo e como elas podem interagir com as ações do Banco Central.
Por fim, as condições econômicas externas também exercem influência, com o novo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos e as políticas monetárias de outros países podendo afetar a economia brasileira. “Outro ponto que ele provavelmente irá se preocupar, por mais que não deveria ser uma preocupação, é em relação ao contexto político de crescimento da economia e de quanto o juros mais alto pode estar atrapalhando a popularidade de Lula”, afirma.
Fatores domésticos e externos que influenciam o Copom
A decisão do Copom também levará em conta uma combinação de fatores domésticos e internacionais, com destaque para os dados de inflação, as medidas fiscais adotadas pelo governo e o aquecimento do mercado de trabalho, segundo os especialistas. Em relação à inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que funciona como uma prévia do índice oficial, registrou na semana passada uma alta de 0,11% em janeiro. Esse resultado, embora uma desaceleração em relação a dezembro, ficou acima das expectativas do mercado, que esperava uma deflação.
Além disso, as recentes medidas fiscais aprovadas pelo Congresso Nacional também influenciam as decisões do Copom. A aprovação do pacote fiscal, que inclui alterações em regras do abono salarial e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), é vista como uma tentativa do governo de conter o crescimento das despesas públicas nos próximos anos.
As novas regras servem, de acordo com os especialistas, para equilibrar as contas públicas, mas geram incertezas sobre seus impactos no consumo e no crescimento econômico. “A política fiscal, ao lado da política monetária, forma um dos pilares principais para a definição da taxa de juros, já que uma política fiscal expansionista pode aumentar a pressão inflacionária”, explica o mestre em economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Caio Dias.
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Outro fator importante é o mercado de trabalho aquecido, que tem mostrado sinais de crescimento. A baixa taxa de desemprego e a geração de novas vagas de trabalho aumentam o consumo e a demanda interna, o que pode pressionar ainda mais a inflação. “Trata-se de um indicativo de que a economia segue se recuperando, mas também exige cautela, pois pode fazer com que o Banco Central mantenha uma postura mais restritiva em relação aos juros para evitar um superaquecimento da economia”, completa Dias.
No plano internacional, fatores como a política monetária de outros países, especialmente dos Estados Unidos, também impactam as decisões do Copom. A possibilidade de mudanças na taxa de juros no exterior pode afetar o fluxo de capitais e a pressão sobre a taxa de câmbio do real. Além disso, o andamento da guerra na Ucrânia e seus efeitos sobre os preços das commodities e a economia global também são pontos relevantes para o comitê.