Apesar de serem vistas como porto seguro na Bolsa de Valores, o setor enfrenta desafios. A Taesa (TAEE11) precisa acelerar investimentos para compensar a queda de receita futura com o fim de concessões. A Isa Energia (ISAE4) tem a missão de antecipar a recomposição da Rede Básica Sistema Existente (RBSE, uma indenização). Já a Alupar (ALUP11), com foco em expansão, terá que mostrar que também pode ser relevante em remunerar o acionista.
Qual é a favorita dos analistas? Contamos nesta reportagem. Mas, antes, vale lembrar por que as transmissoras são ótimas para uma carteira focada em proventos.
Um dos motivos se deve à previsibilidade: as transmissoras trabalham com contratos de longo prazo, em média 30 anos, reajustados pela inflação, garantindo receita estável. São remuneradas de forma fixa por transportar energia do ponto A ao B, independentemente do volume de energia que passam pelos fios.
Também são resistentes a turbulências macroeconômicas. Tarifaço de Trump? Nem arranha. E o melhor: são generosas com os acionistas. Todas distribuem pelo menos 50% do lucro líquido regulatório por ano, podendo chegar a 80% ou até 100%.
Isa Energia (ISAE4): tudo em paz até 2028
A Isa Energia tem 35 concessões de transmissão, sendo 7 em construção. Hoje, 95% da receita é corrigida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais estável e previsível, e só 5% está atrelada ao Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).
As concessões têm vencimento médio em 2046, mas o desafio mais próximo vem da queda da RBSE (Rede Básica Sistema Existente), cuja última parcela será paga em 2028 e que atualmente representa uma fatia relevante da receita: só no ciclo 2024-2025, serão R$ 1,5 bilhão, valor que se repete até 2028. Para compensar essa perda, a companhia já anunciou R$ 15 bilhões em investimentos. A dúvida do mercado é se isso será suficiente para manter os dividendos.
Segundo Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, a diretora de finanças (CFO) da Isa Energia, Silvia Diniz Wada, afirmou que a queda da RBSE será compensada pelo resultado operacional da companhia. “Não enxergo um declínio nos dividendos da empresa a partir de 2029”, afirma Oliveira. Ele ressalta, no entanto, que pode haver uma leve redução, já que a RBSE é uma receita livre de custos e despesas, ao contrário da receita operacional, que carrega esses custos atrelados a atividade da companhia. “Essa pequena diferença não tornaria a Isa Energia pouco atrativa para quem busca renda passiva”, reforça o analista.
Em meio ao ciclo de investimentos, o endividamento da Isa Energia tende a crescer, mas os analistas enxergam equilíbrio entre dívida, expansão e proventos. No quarto trimestre de 2024, a alavancagem estava em 2,72 vezes a relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). “É menor do que Taesa e Alupar e não pressiona os dividendos no curto prazo”, diz Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research.
Para Oliveira, é esperado que a alavancagem ultrapasse 4 vezes até 2028, mas sem comprometer fundamentos.
E os dividendos da Isa Energia?
Os pagamentos devem continuar atrativos: o dividend yield (retorno em proventos) projetado pelos analistas para 2025 vai de 8% a 8,81%. Oliveira projeta ao menos R$ 2,35 brutos por ação.
Bueno reforça que os proventos seguem sustentáveis frente à dívida e aos investimentos. Segundo ele, a ação está barata, negociando a 5 vezes a relação preço/lucro (P/L).
A Isa Energia mantém uma prática de distribuição mínima de 75% do lucro líquido regulatório, consistente desde 2022. Em 2024, foram distribuídos R$ 2,36 por ação com base nesse critério, que foram pagos apenas em 2025. Tradicionalmente, a Isa paga dividendos em uma única vez no ano, mas testou o parcelamento em três vezes no último ciclo, o que agradou parte dos investidores. “Mas acredito que a frequência baixa vai continuar: uma vez por ano ou três parcelas no início do ano”, avalia Oliveira. Veja recomendações para ISAE4 abaixo:
Expectativas para o 1TRI25 da Isa Energia
Para os analistas, o balanço do primeiro trimestre de 2025 não trará grandes surpresas. Oliveira prevê um leve aumento no lucro, mas abaixo do reportado no quarto trimestre de 2024, quando a empresa lucrou R$ 810,1 milhões – veja os detalhes do balanço aqui. São esperados avanços em projetos greenfield (novos), reforços e melhorias.
Já Bueno projeta receita estável ou com leve queda, diante da menor contribuição da RBSE. No último trimestre, a receita líquida foi de R$ 1,157 bilhão. Sem os efeitos da RBSE, houve crescimento de 22,4% na receita operacional, tendência de alta que deve se manter. “O lucro pode cair diante do maior endividamento para financiar novos investimentos”, afirma o analista da Nord.
Taesa (TAEE11): futuro ainda preocupa
Entre as três transmissoras listadas na Bolsa, a Taesa foi a que mais pagou dividendos nos últimos anos. Em 2024, desembolsou R$ 3,53 por ação, com dividend yield de 10,22%. Mas o futuro acende alertas: o alto endividamento e a necessidade urgente de novos investimentos podem pressionar os proventos nos próximos anos.
Para 2025, os analistas já projetam dividend yield entre 7,25% e 7,31%, abaixo da Isa Energia. Vanessa Naissinger, analista do setor elétrico da Varos Research, lembra que a Taesa tem 44 concessões, das quais 17 vencem entre 2030 e 2035 – o que coloca cerca de 40% da receita em risco. Dessas concessões, 20 são reajustadas pelo IGP-M e 24 pelo IPCA.
Segundo ela, o problema não decorre apenas do prazo apertado para renovar parte das concessões, mas da baixa atratividade dos leilões recentes. “Com muita concorrência e custos mais altos, a rentabilidade caiu bastante, chegando a ficar abaixo do CDI (principal indicador de desempenho da renda fixa) em muitos casos”, comenta.
Aurelio Sales, analista do setor elétrico da VG Research, concorda que o ritmo de investimentos precisa acelerar para repor a receita que será perdida no longo prazo. E o endividamento preocupa: no quarto trimestre de 2024 a dívida líquida/Ebitda chegou a 4 vezes, mesmo com um número menor de projetos em construção que os pares.
Esse patamar pressiona o caixa, principalmente com juros altos. “A empresa pode até iniciar um processo de desalavancagem, mas isso atrapalha novos investimentos e também os dividendos em 2025”, alerta Sales. Para Naissinger, a situação é clara: “Com as concessões vencendo e a alavancagem elevada, o investimento vai ter que subir, o que compromete a distribuição de proventos.”
Como ficam os dividendos da Taesa?
Em 2024, a Taesa mudou sua política de dividendos, adotando o lucro líquido regulatório como base e fixando um payout mínimo de 75%. Na prática, distribuiu 90% – valor acima do prometido e que acendeu o sinal vermelho. A companhia já usou dívida para bancar dividendos no passado e os analistas desconfiam que pode ter feito isso novamente.
“A alavancagem em quatro vezes dívida líquida/Ebitda sinaliza que a companhia recorreu, em certa medida, ao endividamento para manter sua política de proventos robusta, em um cenário de menor crescimento orgânico e aumento do investimento”, avalia Sales. Para 2025, ele acredita que a empresa não conseguirá manter o payout entre 90% e 100% do lucro.
Naissinger reforça que dividendos tão altos não são sustentáveis para quem precisa investir pesado. Ambos também avaliam que as ações estão caras, acima dos preços indicados para entrada. Veja recomendações abaixo:
O que esperar do balanço da Taesa?
A expectativa é de estabilidade na receita líquida regulatória, já que o reajuste anual ainda não ocorreu. Naissinger projeta um valor semelhante ao do quarto trimestre de 2024, de R$ 2,32 bilhões. Já o lucro pode cair, pressionado por despesas financeiras com juros. No último trimestre, o lucro regulatório foi de R$ 991,5 milhões. Sales também vê retração, já que não há novas receitas relevantes de novos projetos no radar.
Isa Energia ou Taesa: qual entrega mais dividendos em 2025?
Se depender dos analistas, a escolha está feita. Os quatro consultados pelo E-Investidor apontaram, por unanimidade, a Isa Energia (ISAE4) como a melhor alternativa para dividendos neste ano. Segundo Sales, a Isa é mais equilibrada: tem uma dívida menor, projetos relevantes em fase de entrega e mais chances de crescer sem sufocar o caixa.
Oliveira destaca que a Taesa enfrenta desafios maiores, enquanto a Isa Energia ainda pode se beneficiar de receitas extraordinárias, como o possível recebimento bilionário relacionado a um conflito trabalhista com ex-funcionários da CESP.
Bueno reforça que a Taesa precisa investir pesado para recompor receitas e isso, somado ao alto endividamento, pode comprometer os proventos. “Talvez não em 2025, mas em 2026 a Taesa pode pagar dividendos menores que a Isa”, projeta.
E o consenso do mercado?
Os dados do TradeMap também favorecem a Isa Energia. Das nove recomendações para ISAE4, três são de compra e seis de manutenção. O dividend yield médio projetado para 2025 é de 7,73% e o preço-alvo, R$ 27,03.
Já a Taesa (TAEE11) não recebeu nenhuma indicação de compra. Foram cinco recomendações de manter e três de venda. Apesar de um dividend yield médio projetado mais alto, de 8,25%, o preço-alvo médio é de R$ 34,81. Ou seja, sem espaço para valorização no curto prazo.