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No mês, os ativos de Usiminas (USIM5) caem 9,39%, cotados a R$ 10,03. O papel da CSN Mineração (CMIN3) recua 2,80% (R$ 5,90) e os da CSN (CSNA3) estão praticamente estáveis (R$ 16,71).
Em Dalian, na China, o minério de ferro cai 4,17% no acumulado do mês, saindo dos 887 yuanes para os 850 yuanes. Na cotação americana, a commodity recua 9,5% na Bolsa de Chicago, indo dos US$ 124,86 por tonelada para os US$ 113 por tonelada.
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A baixa acontece devido ao aumento dos estoques do minério de ferro nos portos chineses, em um momento em que a segunda maior economia do mundo patina. A alta do estoque reflete a redução de consumo de minério de ferro e aço no país devido à crise do setor imobiliário, que se intensificou com a falência da Evergrande, uma gigante do setor, decretada pela Justiça de Hong Kong no fim de janeiro de 2024.
A produção de aço da China se voltou para a exportação ao não encontrar demanda interna. “O país está exportando uma quantidade de aço muito forte e não vista desde meados da última década. De janeiro a outubro de 2023, a China foi responsável por 56,1% da produção global de aço”, explica Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Ele comenta que o governo chinês tentou resolver o problema do setor imobiliário para melhorar o desempenho econômico da economia local, o que acarretaria em um aumento na demanda por aço e nem de minério de ferro, fazendo o preço da commodity subir.
Arbetman detalha que várias medidas foram tomadas pelo governo chinês para reaquecer o mercado imobiliário, como redução da exigência no valor da entrada para aquisição de casas, que foi de 80% para até 30%, além da redução das taxas de reservas bancárias necessárias, o que confere uma maior flexibilidade para os bancos concederem empréstimos.
“Apesar dos estímulos, dados fundamentais para o setor de real estate (mercado imobiliário), como o volume de construções realizadas e a variação porcentual de preços de imóveis no país, seguiram decepcionando ao longo de 2023”, diz Albertaman. Esse cenário frustrante resultou em receitas e lucros menores nas empresas de siderurgia e mineração do Brasil por conta da dependência da economia chinesa, a maior consumidora do minério de ferro brasileiro.
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A Vale reportou um lucro líquido de R$ 39,94 bilhões em 2023, queda de 58,36% na comparação com o lucro de R$ 95,92 bilhões de 2022. Segundo a empresa, o resultado foi impactado pela queda de 9% do Ebitda ajustado proforma, que foi de US$ 20,9 bilhões em 2022 para US$ 19 bilhões em 2023. “A queda foi por causa pelo menor preço de minério de ferro, cobre e níquel durante o ano”, salientou a companhia.
Já a CSN teve um lucro líquido de R$ 403 milhões em 2023, um tombo de 81% na comparação com o resultado de R$ 2,16 bilhões de 2022. Em sua defesa, a siderúrgica diz que o resultado foi impactado pelos desafios operacionais verificados em seu segmento e pelo aumento das despesas financeiras. A empresa não dá mais detalhes em seu balanço para esse forte recuo.
No mesmo período, a Usiminas reportou um lucro líquido de R$ 1,64 bilhão em 2023, baixa 22% na comparação com 2022. Segundo a empresa, o número foi menor em razão do resultado operacional inferior ao do ano anterior.
Os dados mostram que o resultado operacional foi menor por causa da queda de 22,1% na produção de aço bruto, que encerrou 2023 em 2,1 milhões de toneladas. “Isso é consequência da reforma do Alto Forno 3 e Aciaria 2, executadas ao longo de 2023”, diz a empresa.
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A Usiminas também viu sua receita de mineração cair 2,4%, indo de R$ 3,6 bilhões em 2022 para R$ 3,5 bilhões em 2023. “Isso foi em função da valorização do real frente ao dólar e dos menores preços de minério praticados no mercado”, afirma a companhia.
Enquanto isso, a CSN Mineração foi a única que ficou no positivo. A companhia apresentou um lucro de R$ 3,6 bilhões em 2023, uma alta de 21% em relação ao lucro de 2,95 bilhões de 2022. “Esse resultado é consequência da melhora no resultado operacional, com maiores preços e volumes, reforçando o excelente momento vivido pela companhia”, ressalta a CSN Mineração.
Embora o minério de ferro tenha ficado abaixo do patamar de 2022 ao longo de 2023, a CSN Mineração lembra que a commodity encerrou o quarto trimestre de 2023 acima do valor praticado no trimestre anterior. “O preço do minério encerrou o quarto trimestre de 2023 com uma cotação US$ 14,30 por tonelada acima da média verificada no terceiro trimestre do mesmo ano”, diz a empresa, que foi a única a aproveitar esse rali de fim de ano da commodity para sustentar um melhor resultado na última linha do balanço.
A CSN Mineração foi a única companhia a contornar o grande furacão chinês com crescimento no lucro. Sendo assim, os investidores podem pensar que a empresa é uma boa alternativa para investir. No entanto, além de não ocupar o posto de favorita dos analistas do setor, a companhia, inclusive, não tem recomendação de compra por nenhuma casa consultada pela reportagem.
Segundo Frederico Nobre, líder de análise da Warren Investimentos, a CSN Mineração teve um resultado sólido que surpreendeu o mercado, mas a ação não está mais em um patamar atrativo de compra para o investidor. “A ação da CSN Mineração subiu mais de 90% no último ano, o que deixa a margem de segurança do investidor complicada”, argumenta Nobre, que tem recomendação neutra para o papel.
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Ele diz que a ação pode ser interessante para o investidor por conta do dividend yield (retorno de dividendos) projetado para este ano, de 10%. “A empresa tem ótimos fundamentos e está muito bem gerida, mas o preço ativo já chegou no teto. Por isso, essa não é a hora de comprar”, detalha Nobre.
O BTG Pactual também tem uma visão neutra para CSN Mineração, recomendação que se estende para todas as empresas do setor de mineração e siderurgia. “Estamos cautelosos em relação às operações siderúrgicas, já que as importações permanecem elevadas no Brasil, o que tende a deixar as margens baixas e pressionadas nos próximos trimestres”, afirmam Leonardo Correa e Caio Greiner, que assinam o relatório do banco.
Além da própria CSN Mineração, o BTG diz que o investidor não deve comprar os papéis da CSN, visto que a companhia precisa apresentar alguns feitos para conquistar a confiança do banco, como a redução do seu endividamento, que é medido pela alavancagem. O indicador da encerrou 2023 em 2,58 vezes.
“Estamos relativamente cautelosos quanto às perspectivas para o grupo CSN nos próximos trimestres. Estaríamos preparados para rever o nosso cenário de investimento caso tivéssemos maior confiança na sua agenda de desalavancagem nos próximos trimestres”, afirmam os analistas do BTG.
Correa e Greiner também estão receosos com a Usiminas. Eles comentam que a empresa tende a apresentar lucros incertos no médio e no longo prazo. Conforme os analistas, a companhia será impactada pelo preço do aço no médio prazo, neste quadro em que o apetite da China deixa a desejar.
Já no longo prazo, a lucratividade tende a melhorar, mas ainda assim não há justificativa para uma compra do papel da companhia. “Embora a dinâmica dos lucros esteja definida para melhorar no longo prazo, acreditamos que as ações já estão refletindo de forma justa essa melhora na lucratividade. Assim, estamos neutros”, argumentam.
Ainda que a recomendação não indique compra, os analistas do BTG calculam que a Usiminas deve entregar um dividend yield de 9,5% em 2024. Para Nobre, da Warren, a companhia deve pagar cerca de 5% do valor da sua ação em proventos. Ele também se posiciona em recomendação neutra em relação à compra dos papéis.
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A mesma conclusão adota a Ativa Investimentos, que acredita que o papel não deve entregar nem boa rentabilidade em termos de valorização de cota, nem de distribuição de dividendos. “Acreditamos fortemente que a foto do setor siderúrgico segue negativa e a Usiminas deve apresentar resultados fracos em função da dificuldade em repassar preços e da baixa competitividade comercial frente ao produto importado”, comenta Arbetman, da Ativa. Para ele, o investidor deve se afastar do papel.
De modo geral, os analistas estão com recomendação neutra para praticamente todo o setor de siderurgia e mineração. Segundo o analista da Ativa investimentos, isso ocorre por conta das expectativas para a economia chinesa, que para o analista deve crescer cerca de 4% em 2024, 1,2 ponto porcentual abaixo dos 5,2% vistos em 2023.
Justamente por causa dessa desaceleração, o especialista calcula que o minério de ferro deve encerrar 2024 a US$ 110 por tonelada. O número representa uma queda de 2,65% na comparação com o patamar atual de US$ 113 por tonelada da commodity. “Estimamos que o segmento ainda visualizará preços baixos, custos ainda altos e, assim, contribuições modestas aos resultados das companhias”, detalha Arbetman.
Em meio às dificuldades, o mercado recorre à empresa mais sólida do setor, a Vale. A recomendação para a companhia é neutra no BTG e na Ativa, mas os analistas comentam que a empresa oferece o maior dividend yield do setor. O BTG calcula que ação pode pagar cerca de 10% do valor da sua ação em dividendos, enquanto a Ativa projeta 10,1%.
Segundo o especialista da Ativa, o papel da Vale não deve subir de forma significativa nos próximos 12 meses e o investidor corre riscos se ele investir com a estratégia de valorização do papel. De acordo com ele, esse não é o caminho. Albertman, porém, comenta que a empresa pode seguir distribuindo 30% da diferença entre seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e os investimentos em curso.
“Isso possibilita a empresa realizar pagamentos de dividendos extraordinários e continuar com programas de recompra de ações, que já atingiram cerca de 17% dos papéis de sua base desde 2021, fazendo com que a Vale seja a única do seu setor que o investidor pode comprar com a estratégia de dividendos”, afirma Albertman.
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Já Nobre, analista da Warren, enxerga a Vale de forma distinta. Ele acredita que, além de distribuir bons dividendos, a ação tende a não sofrer tanto com a volatilidade do mercado. O dividend yield projetado pelo analista para a companhia está em 9,3%, mas a empresa também deve fazer recompras de ações ao longo do ano, o que pode impulsionar o ativo. “Com a recompra, o retorno do ativo pode aumentar em 2,9 pontos porcentuais, deixando o yield total em 12,2%, o que muito interessante para o investidor”, explica.
Todavia, ele diz que a mineradora até apresenta riscos para o investidor, como a forte pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para colocar um indicado do governo na gestão da mineradora. “Isso trouxe temores do mercado, mas já é algo superado e que não deve trazer volatilidade para o papel se o governo não tentar interferir novamente na empresa”, argumenta Frederico Nobre, que recomenda compra para ação se o investidor quiser lucrar com dividendos.
Na última sexta-feira (8), o Conselho de Administração da Vale decidiu manter Bartolomeo no cargo de CEO da mineradora até o fim de 2024. O mandato do atual presidente estava previsto para acabar no fim de maio, mas o impasse entre os conselheiros da companhia sobre a escolha de um substituto motivou o adiamento da troca. Para saber a visão do mercado sobre essa decisão, leia esta reportagem.
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